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Capital

Com medo do zika, famílias repensam gravidez durante epidemia

Natalia Yahn | 08/03/2016 12:08
Em clínica de fertilização houve queda no número de procedimentos; trabalho voltou ao normal em fevereiro. (Foto: Marcos Ermínio)
Em clínica de fertilização houve queda no número de procedimentos; trabalho voltou ao normal em fevereiro. (Foto: Marcos Ermínio)

A possível ligação entre casos de microcefalia e o zika vírus provocou avaliação e discussão das famílias em relação ao adiamento dos planos de ter filhos durante a epidemia da doença, que tem sequelas ainda desconhecidas. Em Campo Grande, até mesmo o número de inseminações artificiais em um laboratório da cidade caiu no início do ano.

Enquanto o zika continua a ser alvo de estudos, no dia 1° de março mais um caso de microcefalia passou a ser investiado em Mato Grosso do Sul, conforme dados divulgados no boletim do Ministério da SaúdeO Estado tem um caso confirmado de microcefalia - que ainda não tem confirmação de ligação com o zika -, além de cinco casos descartados, e seis sob investigação, com um total de 12 casos notificados.

"Aqui em Campo Grande, não temos tantos casos de zika. No HU (Hospital Universitário), onde eu atendo, nasceu uma criança na semana passada que a mãe estava com o vírus. Mas, o bebê não tem microcefalia", afirmou a médica e presidente da Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia de Mato Grosso do Sul, Nádia Stella Vegas dos Reis.

Ela explica que os casais devem avaliar e tomar a própria decisão em ter ou não filhos durante a epidemia da doença. "Não temos como prever a evolução da epidemia. A dengue, por exemplo, temos durante o ano todo e outras doenças também. A relação do zika e da microcefalia ainda é estudada e com o tempo vamos ter mais informações, tudo é muito novo ainda e os quetionamentos existem. Ter ou não filhos é uma opção da paciente".

Por ser uma doença ainda desconhecida, a médica acredita que dentro de um ou dois anos haverá novas informações sobre o vírus. "O zika começou há menos de um ano, em setembro foram os primeiros casos e surgiu a possibilidade de ter ligação com a microcefalia. E o Brasil é o único pais em epidemia. Espero que no ano que vem possamos saber mais e o que o vírus pode causar para a gravidez. Enquanto isso os cuidados devem existir, como usar repelente", disse Nádia Stella.

A média especialista em reprodução humana, Sueli de Souza Resende, acredita que alguns casais ficaram em dúvida em relação a ter filhos por conta do zika vírus. Na clínica onde ela realiza em média 30 fertilizações por mês, houve queda de 15% entre os primeiros dias de janeiro até a segunda quinzena de fevereiro, quando voltou ao normal.

"Inicialmente houve sim uma retração, alguns falavam que queriam esperar um pouco mais. Porém agora voltou ao normal. Os casais tem procurado e estão fazendo o procedimento. Acontece que muitas pacientes não temo esperar por conta da idade, algumas com 35 anos ou mais. Acredito que o zika é uma virose e veio para ficar como é a dengue".

Sueli de Souza Resende afirma que zika veio para ficar. (Foto: Marcos Ermínio)
Sueli de Souza Resende afirma que zika veio para ficar. (Foto: Marcos Ermínio)
Guilherme, Cecília e Laryssa. A família vai aumentar e a previsão é de que seja ainda em 2016. (Foto: Arquivo Pessoal)
Guilherme, Cecília e Laryssa. A família vai aumentar e a previsão é de que seja ainda em 2016. (Foto: Arquivo Pessoal)

A jornalista Laryssa Macedo, 27 anos, tenta engravidar do segundo filho desde julho do ano. A primeira filha dela e do marido, Guilherme Macedo, Cecília, tem 1 ano e 4 meses. Ela chegou a pensar em esperar, por conta do zika vírus, mas desistiu. "Fiquei com medo, mas eu e meu marido conversamos e decidimos que independente disso (zika), temos que acreditar que tudo vai dar certo".

No dia 29 de fevereiro, a enquete do Campo Grande News perguntou se leitor concorda que famílias, por medo do zika vírus, adiem planos de ter filhos. A maioria, 82%, acha que as mães devem adiar os planos de ter filho devido à epidemia. Outros, 14% disseram que não e 4% não souberam responder.

No final do ano passado, o Ministério da Saúde confirmou que quando gestantes são infectadas por este vírus podem gerar crianças com microcefalia, lesão do cérebro, que pode vir associada a danos mentais, visuais e auditivos. O zika vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, que também causa dengue e chikungunya.

Dados - No Brasil, são 641 confirmados e 4.222 são investigados - com 1.046 notificações descartadas por apresentarem exames normais, microcefalias e/ou alterações no sistema nervoso central por causas não infecciosas. Os dados foram registrados de 2015 até 27 de fevereiro de 2016. Os casos confirmados ocorreram em 250 municípios, localizados em 14 estados, além de Mato Grosso do Sul.

O Ministério da Saúde ressalta, no entanto, que esse dado não representa, adequadamente, todos os casos relacionados ao vírus. A pasta considera que houve infecção pelo Zika na maior parte das mães que tiveram bebês, cujo diagnóstico final foi de microcefalia.

O levantamento confirma também 31 mortes causadas por microcefalia e/ou alteração do sistema nervoso central. Outras 96 mortes notificadas continuam em investigação e 12 foram descartadas. As mortes ocorreram após o parto ou durante a gestação.

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