Compra de fazenda de R$ 205 mil e depósitos "aquecem" denúncia contra coronel
Autores de depósitos ouvidos na investigação não souberam precisar o motivo de repassar valores

A denúncia do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) contra o coronel Kleber Haddad Lane, oficial da PM (Polícia Militar) e preso em operação contra a Máfia do Cigarro, cita compra de uma fazenda à vista em Aquidauana, por R$ 205 mil, e depósitos de R$ 155 mil nas contas dele e da esposa como comprovação de recebimento de vantagens indevidas.
“Recebia vantagem indevida em razão, e no pleno exercício, de sua função para auxiliar os contrabandistas no transporte de cigarros”, aponta o documento, protocolado na sexta-feira na Auditoria Militar e com denúncia aceita ontem pela Justiça, tornando o coronel réu.
Com a quebra do sigilo bancário, a denúncia cita que os depósitos eram sem identificação ou com informações precárias sobre o remetente. Para o oficial, os depósitos totalizaram R$ 75 mil, sendo os outros R$ 80 mil para a esposa que é dona de casa.
Autores de depósitos ouvidos pelo Gaeco não souberam precisar o motivo de repassar valores. Um deles disse que poderia ser por conta de movimentação de gado, mas não apresentou documentação.
Em agosto de 2017, houve a compra de fazenda à vista por R$ 205.060, mas sem alteração no patrimônio declarado. Há muitos anos, a declaração do Imposto de Renda informava que o oficial tinha R$ 260 mil em dinheiro vivo, situação inalterada mesmo após a compra da fazenda. Segundo a investigação, o valor declarado era para criar um “caixa artificial” e justificar recebimento de propina.
No interrogatório, Kleber Haddad Lane disse que comprou chácara em 2011 e a pagou ao longo dos anos até 2017, quando fez a escritura em seu nome. Sobre o dinheiro em espécie, o oficial negou ter a quantia e atribuiu a informação a erro do contador. “ Eu tenho em gado! Isso foi erro do contador, foi erro do contador, tem uma série de erros ai”, disse no depoimento.
Preso em maio, o coronel foi diretor do DOF (Departamento de Operações de Fronteiras) e era titular da Superintendência de Assistência Socioeducativa.
A reportagem procurou a defesa do oficial preso e aguarda retorno para falar das acusações contra ele.