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Capital

Crise na Santa Casa já afeta setor mais sensível da saúde: o trauma

Estrutura do hospital não dá conta dos atendimentos porque está concentrando todos os casos de doenças que não se tratam de covid

Lucia Morel | 14/06/2020 08:55
De 97 internados no setor de ortopedia da Santa Casa, 49 esperavam por cirugia até sexta-feira (12). Mas número aumenta rapdidamente, segundo chefe da área. (Foto: Divulgação Santa Casa)
De 97 internados no setor de ortopedia da Santa Casa, 49 esperavam por cirugia até sexta-feira (12). Mas número aumenta rapdidamente, segundo chefe da área. (Foto: Divulgação Santa Casa)

Com repasses atrasados desde março deste ano, a Santa Casa de Campo Grande restringiu nesta semana os atendimentos e vem recebendo apenas pacientes de urgência e emergência. Leia mais aqui e aqui.

E como não poderia ser diferente, um dos setores mais sensíveis da saúde, o do trauma, sente o efeito da crise e já afeta o dia a dia de quem depende do atendimento do hospital.

Internada desde 2 de junho, Érika de Oliveira Pinheiro, de 35 anos, achou que seria rápido se curar de uma fratura no braço depois de acidente de moto, em 30 de maio. Atendida e medicada na urgência, a atendente de restaurante está com uma tala no braço desde o acidente.

Dias depois a chamaram para a cirurgia, que é necessária, e a internaram em 2 de junho. Ela espera o procedimento até agora e realiza, “todos os dias”, segundo o próprio relato da paciente, jejum de comida e água, por 15 horas “porque todos os dias me falam que a cirurgia pode ser amanhã, e nunca é”, relata.

Ela conta ainda que seu caso é tratado como encaixe e “se sobrar vaga entro e se não sobra, não entro”.

Para ela, nem mesmo o que os profissionais falam está sendo levado a sério. “Alguns falam que é falta de materiais, outros que não tem médico para dar conta de todo atendimento e não sei mais no que acreditar”.

Érika aguarda, internada desde 2 de junho, por cirurgia no braço. (Foto: Arquivo Pessoal)
Érika aguarda, internada desde 2 de junho, por cirurgia no braço. (Foto: Arquivo Pessoal)

Para Érika, que mora em assentamento na saída para Rochedinho, a espera é a única saída, já que mesmo querendo ir embora, todos os dias, “se eu sair perco a vaga e volto pro final da fila. E se tendo sido chamada já não fazem a cirurgia, imagina se eu for embora”, lamenta.

Para o chefe do setor de ortopedia da Santa Casa, Fernando Nunes Matos, a situação é caótica, com a fila de pacientes à espera de cirurgia aumentando rapidamente de um dia para o outro.

Para se ter uma ideia, na última quinta-feira, eram 63. Um dia depois, 49, “mas o fluxo aumenta rapidamente e logo voltamos aos 60 novamente. É uma situação de guerra”, define.

Concentração de casos - Ele avalia que a estrutura da Santa Casa não dá conta dos atendimentos porque está concentrando todos os casos de doenças que não se tratam de covid-19, já que com a chegada da pandemia, o HRMS (Hospital Regional Rosa Pedrossian), limitou-se a receber os pacientes com o novo coronavírus, sejam graves ou não.

Mas para ele, o maior problema não estaria na Capital, mas no interior do Estado. Sendo menores, os municípios também fortaleceram o combate à nova doença, e acabam limitando seus espaços de saúde para tais casos, e encaminhando os demais, inclusive traumas leves, para Campo Grande.

“Recentemente temos visto aumento de covid no interior, e com isso, as cidades não estão mais resolvendo os outros casos. Antes, pelo menos 30% se resolvia lá, mas acredito que muito da demanda atual se deve aos pacientes do interior”, afirma o ortopedista.

Para ele, os profissionais do setor atuam “no limite” e de certa forma, “enxugando gelo”, já que diante do quadro, se torna humanamente impossível dar conta.

Ele ressalta de casos de pessoas com fratura exposta que precisam de cirurgias mais urgentes, em até 12 horas, mas que acabam esperando dois dias para passar pelo procedimento. “É muito triste”, lamenta.

Hospital restringiu atendimentos a apenas urgências e emergências. (Foto: Divulgação Santa Casa)
Hospital restringiu atendimentos a apenas urgências e emergências. (Foto: Divulgação Santa Casa)

Números - Dados da Santa Casa indicam que até a ultima sexta-feira, 12 de junho, 97 pacientes estavam internados no setor de ortopedia e desses, 49 aguardavam por procedimento cirúrgico.

“Esse número é variável, mas está relacionado ao aumento da demanda nos últimos meses. Para isso, está sendo fortalecido o critério de prioridade para atendimento da demanda”, diz nota do hospital.

O aumento a que a entidade se refere é decorrente do mês de março deste ano, início da pandemia em Mato Grosso do Sul e também da quarentena. Naquele mês, foram atendidos 521 pacientes que haviam sofrido acidente de trânsito. No mesmo período de 2019, havia sido 402.

O hospital ressalta que entre esses pacientes, na comparação com o ano passado, o aumento foi de: 68% de vítimas de acidentes entre moto e moto; 50% de vítimas de choque em poste; 35% de vítimas de queda de bicicleta e por fim, crescimento de 58% no número de crianças vítimas de acidentes de trânsito.

Dos casos exclusivos de pacientes vítimas de acidentes de trânsito, o hospital revela que na soma dos meses de março e abril, o aumento foi de 14% nos atendimentos em relação a 2019. “Ou seja, foram atendidos 980 pacientes em 2020,  e 859 pacientes em 2019”.

A Santa Casa informou ainda que os dados mais recentes, de maio, ainda não foram tabulados.

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