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Capital

Defesa de Gerson Palermo alega que sequestro da filha foi "encenação combinada"

Réu diz que denúncia do MP ignora contradições e se apoia apenas na palavra da vítima

Por Bruna Marques | 16/12/2025 13:26
Defesa de Gerson Palermo alega que sequestro da filha foi "encenação combinada"
Gerson Palermo sendo preso em 2017, durante a operação All In. (Foto: Arquivo | Campo Grande News)

A defesa do narcotraficante Gerson Palermo, denunciado pelo MP (Ministério Público) por extorsão mediante sequestro e vias de fato contra a própria filha, sustenta que a acusação carece de justa causa e descreve um crime que, segundo o réu, nunca existiu. A resposta à acusação foi apresentada nesta terça-feira (16).

RESUMO

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A defesa de Gerson Palermo, acusado de sequestrar a própria filha, apresentou contestação à denúncia do Ministério Público, alegando que o episódio foi uma "encenação combinada". Segundo os advogados, não houve privação real de liberdade nem pedido de resgate, mas sim um acordo entre pai e filha para pressionar o avô materno a devolver uma quantia em dinheiro. O caso ocorreu em outubro de 2025, em Campo Grande. A vítima afirma ter sido torturada e ameaçada em cativeiro, com pedidos de resgate entre R$ 50 mil e R$ 1 milhão. Um suspeito, Reinaldo Silva de Farias, foi preso preventivamente após ser identificado como proprietário do imóvel usado como cativeiro.

De acordo com a denúncia, o sequestro ocorreu no dia 24 de outubro de 2025, entre 18h e 23h, no Centro de Campo Grande, com cárcere privado em um imóvel na Vila Moreninha IV. O MP afirma que Gerson teria planejado o crime, determinado a execução e ordenado ameaças para forçar o pagamento de um suposto resgate ligado a uma dívida antiga envolvendo o avô materno da vítima.

A defesa rejeita essa narrativa do começo ao fim. Na resposta à acusação, os advogados afirmam que não houve privação real de liberdade, nem pedido de resgate, nem intenção de obter vantagem econômica ilícita. Segundo a versão apresentada, a vítima teria saído de casa de forma voluntária, após um acordo prévio com o próprio pai.

A tese central é que pai e filha teriam combinado uma encenação para pressionar o avô da jovem a devolver uma quantia em dinheiro que, segundo Gerson, lhe pertenceria e estaria sob guarda do sogro desde 2015.

Em outras palavras, a defesa sustenta que houve uma estratégia equivocada, mas consentida, não um crime. Os advogados destacam inconsistências no depoimento da vítima, especialmente o fato de ela ter relatado que entrou no veículo acreditando que receberia dinheiro, chegou a contar valores e, posteriormente, passou a se apresentar como vítima de sequestro.

Para a defesa, a mudança de versão teria ocorrido depois que o marido da jovem, sem saber do suposto acordo, acionou a Polícia Militar. A partir daí, a situação teria “fugido do controle”.

A defesa também questiona a lógica dos fatos narrados na denúncia, apontando que os bens da vítima, um iPhone e um MacBook, teriam sido devolvidos no dia seguinte, fato que, segundo os advogados, não se compatibiliza com a dinâmica de um sequestro extorsivo.

Violência sem lesões: outro ponto explorado é a acusação de vias de fato. Embora a denúncia descreva agressões graves, como chutes, socos e coronhadas, o próprio MP reconhece que não houve lesões corporais. Para a defesa, isso fragiliza ainda mais a narrativa acusatória.

Mesmo admitindo, apenas por hipótese, que alguma irregularidade tenha ocorrido, a defesa sustenta que a conduta jamais poderia ser enquadrada no artigo 159 do CP (Código Penal), que trata de extorsão mediante sequestro.

No máximo, argumenta, o caso poderia ser analisado como exercício arbitrário das próprias razões, previsto no artigo 345 do CP, crime de menor gravidade e incompatível com a acusação apresentada.

Com base nesses argumentos, a defesa pede a rejeição da denúncia por ausência de justa causa ou, no mérito, a absolvição total de Gerson Palermo. Subsidiariamente, requer a desclassificação para tipo penal menos grave e a produção ampla de provas ao longo do processo.

Sequestro — A filha do narcotraficante foragido Gerson Palermo garante ter sido torturada e ameaçada de mutilação enquanto era mantida em cativeiro. Segundo o depoimento dela, os sequestradores diziam que “cortariam sua língua e sua orelha” caso o marido não entregasse uma quantia em dinheiro.

As informações foram divulgadas pelo delegado Roberto Guimarães, do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), durante coletiva de imprensa na tarde do dia 27 de outubro. De acordo com ele, a vítima contou que foi abordada ao sair do trabalho, no centro da cidade, enquanto aguardava o marido, e foi forçada a entrar em um carro. De cabeça baixa durante todo o trajeto, foi levada até uma casa no bairro Moreninhas, onde ficou amarrada e levou coronhadas e chutes.

A jovem afirmou não saber de que dinheiro se tratava e negou qualquer envolvimento. “Ela relatou que os criminosos falavam em valores entre R$ 50 mil e R$ 1 milhão, mas a Polícia Civil ainda não tem confirmação sobre isso”, informou o delegado.

Durante o cativeiro, os sequestradores enviaram fotos da vítima amarrada para o marido, exigindo o pagamento do resgate. A mulher disse acreditar que só foi libertada porque o pai teria pedido para poupá-la, mesmo sendo o mandante do crime, conforme sua suspeita.

Roberto explicou que o caso chegou ao Garras na noite de sexta-feira, quando o marido procurou a delegacia relatando o sequestro. “Inicialmente houve desconfiança porque esse tipo de crime é muito raro hoje em Mato Grosso do Sul. Mas, quando ele apresentou as fotos da esposa amarrada, ficou claro que se tratava de um caso real”, afirmou.

Diante das provas, as equipes iniciaram as diligências imediatamente. Por volta da 1h da madrugada de sábado, o marido recebeu nova mensagem informando que a mulher havia sido libertada. Ela foi localizada em uma região de estrada de terra no fundo do bairro Moreninhas e levada à delegacia.

Defesa de Gerson Palermo alega que sequestro da filha foi "encenação combinada"
Casa no Bairro Moreninha, onde vítima foi mantida em cativeiro (Foto: Marcos Maluf)

Cativeiro e prisão – Com base no depoimento da vítima, os investigadores chegaram ao cativeiro, uma casa simples e sem móveis, também localizada nas Moreninhas. O imóvel tinha a conta de energia em nome de Reinaldo Silva de Farias, de 34 anos, com histórico criminal, que foi preso em flagrante.

Durante a busca, duas espingardas e um estojo de arma de fogo, semelhantes aos descritos pela vítima, foram apreendidos. O preso confessou participação indireta, dizendo que apenas intermediou o contato entre os sequestradores. Ele passou por audiência de custódia nesta segunda-feira e teve a prisão convertida em preventiva.

A perícia confirmou que a casa era o local onde a vítima permaneceu em cativeiro. No imóvel, foram encontrados uma motosserra, uma roçadeira e o mesmo tipo de piso visto nas fotos enviadas à família. O telefone usado para pedir o resgate também pertencia ao suspeito preso. Durante as diligências, os policiais ligaram para o número, e o celular tocou dentro da casa.

De acordo com as investigações, Gérson Palermo, condenado a 126 anos de prisão e foragido há cinco anos, teria orquestrado o crime à distância. Ele chegou a ligar para o avô materno da jovem, afirmando que nada aconteceria à filha “se devolvessem o dinheiro”. Em outro momento, ameaçou dizendo que “todos iriam morrer por causa desse dinheiro”.

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