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Capital

Demora em processo faz com que “pretendentes a pais” desistam de adoção

Ana Paula Carvalho | 27/07/2011 09:00
Alessandra e Claiton esperam há quase dois anos para adotar criança. (Foto: Simão Nogueira)
Alessandra e Claiton esperam há quase dois anos para adotar criança. (Foto: Simão Nogueira)

Alessandra Fagundes Barros, 35 anos, gestora de marketing, e Claiton Barbosa da Silva, 38 anos, diretor de infraestrutura do IMIT (Instituto Municipal de Tecnologia da Informação), são casados há 10 anos.

Em 2008, Alessandra descobriu que era portadora da endometriose, uma doença silenciosa e que muitas vezes impede que a mulher fique grávida. Desde então, começaram os tratamentos de fertilização. “Assim que descobri a doença, procurei tratamento e partimos para a fertilização”, reforça Alessandra.

Após a primeira tentativa, sem sucesso, o casal resolveu se inscrever no Cadastro Nacional de Adoção. Para tentar diminuir o tempo de espera, eles não fizeram muitas “exigências”, dizem.

“Dissemos que podia ser menina ou menino, branco ou preto e que poderia vir com um irmão”, relata a gestora de marketing. Em outubro completa dois anos que eles esperam pelo filho que segundo eles, receberia todas as condições necessárias, desde financeiras até emocionais.

A vontade de ter uma criança correndo pela casa, de sentir o afago das mãozinhas e ouvir aquela voz doce os chamando de pais, fez com que o casal tentasse uma medida desesperada.

Há aproximadamente cinco meses, eles ficaram sabendo de que uma mulher grávida estava internada em um hospital de Itaporã, município distante 227 quilômetros de Campo Grande, e que não queria a criança. Eles foram até a cidade na tentativa de encontrar essa mãe e pedir que ela os acompanhasse até o juiz e doasse a criança a eles. “Quando nós chegamos lá, tinha uma mulher que não era da família no hospital que disse que iria levar a criança embora, por isso nós acionamos o Conselho Tutelar”, relata Claiton.

“Nós ficamos dois dias com o pai do menino para ver se ele ficava lúcido para nos acompanhar até o juiz, mas não conseguimos”, diz Alessandra.

O casal entrou com o pedido de adoção no Judiciário daquele município e por longos quatro meses esperaram pela decisão do juiz, que entendeu que como o casal era da comarca de Campo Grande e não da comarca de Itaporã, não poderia adotar a criança. Ou seja, mesmo o cadastro de adoção sendo nacional, o juiz entendeu que o fato de eles morarem em outra cidade não os tornava aptos a adoção.

O pequeno Caio, nome escolhido por Alessandra, ficou no abrigo por quase cinco meses, até que o juiz decidiu que a guarda da criança ficaria com o avô materno. “No dia de registrar, o pai me perguntou que nome eu daria se ele fosse meu filho. Eu disse Caio e ele registrou”, lembra.

“Fica a frustração de ver que toda a campanha de adoção que a Justiça faz não é verdade”, afirma Claiton. Para ele, a morosidade no processo e falta de transparência é o que mais revolta os casais que são pretendentes a pais.

O cadastro dos dois termina em outubro e precisa ser refeito para que eles continuem aptos a adotar uma criança. Mas, para isso, é necessário refazer o todo o processo, desde as visitas as psicólogas até o curso de preparação para a adoção. Todo o processo de habilitação demora cerca de seis meses.

Frustrada, Alessandra, não quer refazer o cadastro. Ela não quer criar novas expectativas e vê-las indo por água abaixo. “Eu não quero, pelo menos por enquanto. Não sei depois”, diz.

O casal sempre participa de ações em abrigos e se entristecem em ver a quantidade de crianças à espera de adoção. “Final de ano você vai ao abrigo as crianças chegam e pedem: 'me tira daqui', 'me leva para a sua casa' isso é muito triste”, relata Claiton.

Ano passado, após o segundo processo de fertilização, ela ficou grávida de trigêmeos, mas no terceiro mês teve que tirar os fetos, porque a gravidez se desenvolveu nas trompas. É com esperança que ela vê os dias passar enquanto a maternidade não chega. “Mas eu acredito que ainda vai dar tudo certo e, eu te ligo para contar”, afirma ela durante a nossa despedida.

Muitas "crianças grandinhas" passam a vida toda em abrigo.
Muitas "crianças grandinhas" passam a vida toda em abrigo.

À espera de um lar- Hoje, 15 crianças e adolescentes estão aptas a ser adotadas em Campo Grande, em todo o Estado são 419. No Brasil, 4.427 crianças e adolescentes esperam por lar, muitos chegam à idade adulta sem nunca ter conhecido um pai e uma mãe.

Em Campo Grande, 149 crianças adolescentes estão em abrigos, muitas passam pelo processo que as torna apta a adoção e que pode demorar até dois anos, várias outras esperam ser entregues a alguém da família, um avô, uma tia, ou até serem devolvidas aos pais.

O problema é que a maioria dos casais quer adotar crianças com até dois três de idade, e, por isso os abrigos estão abarrotados de crianças “grandinhas”. Hoje, segundo o CNA, em Campo Grande, dos 15 que podem ser adotados, três tem de seis a 10 anos, cinco de 11 a 15 anos e sete estão acima dos 15 anos. Muitas dessas crianças passarão a vida toda em abrigos.

Pretendentes a pais - Hoje, Campo Grande tem 70 casais aptos a adoção. Eles passam por todo um processo que inclui curso de preparação, visita a psicólogas para ver se eles têm condições emocionais e visitas de representantes do núcleo de adoções em casa.

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