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Capital

Despedida ao "Doutor Virgílio" reforça tristeza e medo da covid na Saúde

Aos 52 anos, pediatra morreu nesta quarta-feira em Campo Grande

Marta Ferreira e Ana Paula Chuva | 15/04/2021 15:29
Amparada por amigos e familiares, a viúva recém saída do hospital chega ao velório. (Foto: Paulo Francis)
Amparada por amigos e familiares, a viúva recém saída do hospital chega ao velório. (Foto: Paulo Francis)

O andar vagaroso da viúva. A pele manchada de pequenos roxos como cicatriz de quem acabou deixar o hospital. O revezamento das pessoas na capela e a presença física muito menor do que, certamente, seria se não houvesse o risco de contágio de covid-19. A doença e seu reflexos estavam presentes no velório do médico Virgílio Gonçalves de Souza Junior, 52 anos, realizado nesta tarde em Campo Grande.

“Doutor Virgílio”, pediatra formado pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), foi o sétimo profissional do Hospital Regional (HRMS), referência para o tratamento da enfermidade, a ser vítima da pandemia. Trabalhava lá há 19 anos, como lembra nota do hospital lamentando a morte.

"Profissional competente e um ser humano incrível, o médico nos deixa em decorrência a covid-19", anuncia o texto. Internado no Hospital Unimed, ele há havia sido vacinado contra a doença.

A esposa, Eliane, também foi infectada. Saiu do hospital ontem, no mesmo dia em que a família perdeu Vírgilio. Abalada, física e emocionalmente, ela não falou no velório.

Gabriel Bahia, filho de Virgilio, comentou legado deixado pelo pai. (Foto: Paulo Francis)
Gabriel Bahia, filho de Virgilio, comentou legado deixado pelo pai. (Foto: Paulo Francis)

Mais velho dos dois filhos, Gabriel Bahia, 26 anos, foi quem conversou com os jornalistas. Alto como o pai, definiu o médico falecido como “maravilhoso”, palavras repetidas várias vezes em manifestações publicadas na rede social sobre a morte.  Gabriel é irmão de Vitor Bahia, de 21 anos.

"Era assim não só dentro de casa como fora", destacou Gabriel sobre o pai.

Antes de avisar que não conseguia mais falar, citou um legado, o gosto por ajudar pessoas entidades, como o Cotolengo e Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Exepcionais), que registraram também notas de pesar sobre o falecimento.

Se estivesse aqui, diria: você precisa seguir em frente”, acredita o filho, ao lembrar da disposição de Virgílio para a vida.

 Tristeza coletiva - Na clínica particular onde o profissional da Pediatria atendia, o clima é de tristeza misturada ao medo da doença. Funcionárias relataram que nem todo mundo pôde, ou conseguiu ir para a despedida.

Zuleite e Sandra Cristina trabalharam por 11 anos com o médico. (Foto: Paulo Francis)
Zuleite e Sandra Cristina trabalharam por 11 anos com o médico. (Foto: Paulo Francis)

Com 11 anos de trabalho junto ao médio, Sandra Cristina da Cruz, 50 anos, e Zuleide Anunciação, 55 anos, falaram separadamente, mas parecia a mesma voz.

“Excelente profissional. Ser humano incrível”, relembrou Zuleide. “Na medicina e área pediátrica não tem igual”, emendou.

“Trabalhando na linha frente a gente fica preocupado. Muita gente não quis vir por medo dessa doença”, completou Sandra, comentando o drama de nem poder se despedir como as pessoas queriam.

 “Era muito querido. O que precisássemos ele ajudava”, acrescentou.

Entre as cerca de cem pessoas presentes ao funeral, mães e pais de pacientes cuidados pelo pediatra.  Cristina Rubert, também amiga da família, contou que os dois filhos e dois sobrinhos eram atendidos por ele.

 “Pessoa muito boa”, traduziu. Na visão de Cristina, assentida por mais duas amigas da família ao seu lado, vai ficar um “buraco”.

 Os testemunhos e publicações de despedida descreveram o “Doutor Virgílio como alguém dedicado ao ofício, divertido, estudioso e preocupado com pacientes.

Uma das mães fez questão de postar a foto da filha nas redes sociais, ao lado do profissional que a cuidava desde pequena.

Hoje infelizmente a Pietra perdeu o seu pediatra DR Virgílio para a covid, ele sempre nos tratou com muito carinho. Nunca colocou dificuldade em atender a Pietra, sempre estava à disposição a qualquer hora”, escreveu Márcia Lopes.

 No cemitério Jardim da Paz, onde aconteceu o sepultamento, o clima de consternação, as palavras de homenagem e as 22 coroas de flores indicavam o tamanho da saudade deixada por mais uma vítima da covid-19.

Além do trabalho no HR e na clínica particular, Virgílio chegou a atuar como gestor de saúde, na Superintendência da área em Campo Grande.

Foto do médico ao lado de Pietra, atendida por ele desde pequena, foi a homenagem da mãe dela nas redes sociais. (Foto: Reprodução do Facebook)
Foto do médico ao lado de Pietra, atendida por ele desde pequena, foi a homenagem da mãe dela nas redes sociais. (Foto: Reprodução do Facebook)


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