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Do Tocantins a Campo Grande: saga de irmã é resgatar Ronaldo de pontes

Aos 71 anos, ela desabafa que não tem mais forças para socorrer o irmão caçula, que vive a sumir no mundo

Aline dos Santos | 17/08/2020 10:33
Do Tocantins a Campo Grande: saga de irmã é resgatar Ronaldo de pontes
Elizabeth ao lado do irmão Ronaldo, nos tempos de camisa, calça e sapato social. (Foto: Arquivo pessoal)

Seja no Tocantins, Ceará ou Mato Grosso do Sul, a saga da irmã de Ronaldo Antônio Pereira, 50 anos, é resgatá-lo de pontes, assim como foi encontrado pelo Campo Grande News na semana passada.

O que há décadas Elizabeth Antônio Pereira, 71 anos, tenta, mas sem sucesso, é construir uma ponte para que o irmão, o caçula que só gostava de roupa social, se insira numa rotina “normal”, nessa em que se pula da cama cedo, se sorri um sorriso pontual,  toma-se banho e começa mais um dia de trabalho.

Mas a realidade é de quatro dias de briga para que barba, que já se aproximava do umbigo fosse cortada, outra dose de discussão na hora do banho e ter em casa um irmão que prefere ficar de cócoras a se sentar numa cadeira.

“Há uns seis  anos, busquei ele no Tocantins. Foi o maior gasto, comprei roupa, levei ao médico. Fiz tudo o que podia. Mas, nossa senhora, é muita desobediência, ninguém consegue dominar”, conta Elizabeth, que mora em Rondonópolis (Mato Grosso)

Há seis anos, ele estava em uma ponte em Palmas, capital do Tocantins, foi encontrado por policiais rodoviários federais e levado para o hospital diante do quadro de desnutrição.

Ela conta que a família é natural de Campo Grande, mas não teve infância na fazenda e nem fuga aos 7 anos, como disse o irmão à reportagem. “São sete irmãos e o Ronaldo saiu de casa quando tinha 20 anos. Meu pai era bombeiro hidráulico na Base Aérea. Minha mãe sempre foi empregada doméstica. A gente morava de aluguel, numa casa de tábua, no bairro Santo Antônio”, rememora.

Elizabeth cita que Ronaldo já teve melhores condições, sendo dono de estacionamento no Centro de Campo Grande, mas o dinheiro se perdeu no jogo e ele caiu no mundo.

Sobre a personalidade, ela descreve o irmão como muito bravo, o que a faz lembrar do pai, com quem também guarda muita semelhança física. “Vendo as fotos no jornal, parece que estava vendo meu pai. A mão, o olho torto é o meu pai purinho”, diz.

Do Tocantins a Campo Grande: saga de irmã é resgatar Ronaldo de pontes
Ronaldo e sobrinhos em frente ao mercado: boas lembranças. (Foto: Arquivo Pessoal)

A lembrança que mais emociona Elizabeth foi a primeira vez em que Ronaldo foi para Rondonópolis, onde cuidava da casa, dos sobrinhos e das compras do supermercado enquanto a irmã trabalhava como cobradora de ônibus.

“Tenho lembranças maravilhosas. Na primeira vez, veio muito bem vestido, sempre de sapato social, arrumado. Cuidava dos meus filhos de 6 e 7 anos. Tinha toda confiança nele”, diz Elizabeth.

Mas a harmonia familiar foi se esgarçando, Ronaldo brigou com a família, sumiu por aí e, às vezes, quando consegue, a irmã leva ele de novo para Rondonópolis. A última vez foi há seis anos, quando ela o trouxe de Palmas.

Também houve tentativa de que ele morasse sozinho, mas a rotina de acumular lixo e não tomar banho afasta o irmão dos quartinhos alugados.

Dessa vez, Elizabeth afirma que não tem mais força para resgatar Ronaldo. Ela também não sabe quem de fato pode ajudá-lo, talvez um advogado que lhe consiga auxílio assistencial ou um médico capaz de identificar o que causa suas dores lancinantes nas costas.

“No dia em que saiu aqui de casa, estava revoltado, queria bater em todo mundo, disse que tomar banho gastava a pele, que não queria tomar remédio. Ele sumiu no mundo e agora veio a notícia que estava em Campo Grande. Fiz o que pude,  não aguento mais meu Deus, meu Deus”, afirma Elizabeth.

Horas depois da entrevista, manda fotos do irmão e um pedido. “Me passa certinho o endereço onde ele está? Por favor”.

Do Tocantins a Campo Grande: saga de irmã é resgatar Ronaldo de pontes
Ronaldo "mora" em pornte, a 30 km da área urbana de Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)