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Capital

Em depoimento, ex-chefe defende tenente-coronel julgada por matar marido

"Se ela não estivesse com a vida em risco, ela não teria feito o que fez", disse coronel a jurados

Anahi Zurutuza e Liniker Ribeiro | 23/06/2021 15:19
No painel, jurados podem ver localização dos tiros dados por PM em marido (Foto: Liniker Ribeiro)
No painel, jurados podem ver localização dos tiros dados por PM em marido (Foto: Liniker Ribeiro)

“Eu acredito veementemente que, se ela não estivesse com a vida em risco, ela não teria feito o que fez”. A afirmação é do coronel da Polícia Militar, Jonildo Theodoro de Oliveira, convocado pela defesa da tenente-coronel, Itamara Romeiro Nogueira, de 44 anos, acusada de matar o marido, o major Valdeni Lopes Nogueira, 45, a tiros, em junho de 2016.

Ele foi convocado pela defesa de Itamara para depor em favor da colega de profissão. Apesar do pouco tempo que conviveu com a policial militar, cerca de 6 meses, entre 2014 e 2015, o coronel afirma que a colega “sempre cumpriu seu dever” e nunca levou problemas pessoas para o trabalho.

Mesmo assim, algumas vezes, ele a ouviu comentar que o marido estava insatisfeito com o fato dela ter sido promovida antes dele. “Às vezes a gente conversava durante o serviço. Ela me relatava algo pessoal. Às vezes ela estava triste e em um desses momentos, ela me relatou que ela e o marido tinham diversas brigas, talvez seja esse motivo”.

Jonildo Oliveira foi comandante do BPTran (Batalhão de Polícia Militar de Trânsito) e por algum tempo, Itamara esteve no subcomando da divisão. O coronel disse nunca ter visto a colega ferida, com marcas que demostrariam que era vítima de violência doméstica, como alega a defesa, mas afirma que soube pela polícia militar que o marido era agressivo. “Todo o momento de vivência com ela, principalmente profissional, ela nunca se portou de forma indevida ou agressiva com alguém, nunca, em momento algum”, completou.

Delegado - Também nesta tarde, o delegado Cláudio Zotto, responsável pelo inquérito aberto contra Itamara, prestou depoimento. Ele foi questionado basicamente sobre o dia dos fatos e os subsequentes.

Ele disse ter percebido a PM muito nervosa logo que chegou à residência do casal, aparentemente passando mal, em “surto”. O delegado nega que tenha sido uma estratégia corporativista, para tirar a policial “de cena”.

“Eu não sou médico. Não posso dizer detalhes, mas aconteceu que, quando cheguei e tomei pé da situação, foi me reportado de situação anterior, que ela teria tentado contra a própria vida, tentei compreender. Ela não falava coisa, com coisa, tinha falas desconexas. Como eu não sei se ela estava passando mal ou fingindo, falei para levarem ela para unidade de saúde, lá iam saber se era verdade ou não. Depois, me avisaram que ela ficaria internada e fiz a autuação em flagrante sem ela estar presente”.

Ele também foi perguntado sobre o número de tiros disparados se naquele primeiro momento pareceu que Itamara realmente tenha tentado se defender. “Todos os depoimentos colhidos no dia, se falava do procedimento normal da polícia, que são os dois tiros. A gente aprende que para conter agressão injusta tem que dar dois disparos. Foi o que ela reportou”.

Para a acusação, Zotto teve de explicar por que a arma do major não havia sido apreendida. “Na hora, estávamos contando com uma pessoa viva. Por esse motivo que eu não me atentei muito a arma dele, não foi usada, não tinha interesse. Depois teve interesse, não podia ser deixada ali, tinha uma menor de idade na casa, ela tinha que ser levada. Eu sei que a perícia foi realizada depois porque a morte dele ensejava isso aí”.

Itamara falou do crime pela primeira vez em 2019, três anos depois da morte, na saída da Corregedoria da PM (Foto: Marcos Maluf/Arquivo Campo Grande News)
Itamara falou do crime pela primeira vez em 2019, três anos depois da morte, na saída da Corregedoria da PM (Foto: Marcos Maluf/Arquivo Campo Grande News)

Caso - Em 12 de julho de 2016, a tenente-coronel atirou no marido durante uma briga na casa em que moravam, no Bairro Santo Antônio. O júri deveria ter acontecido em junho do ano passado, mas na ocasião, a pandemia do coronavírus suspendeu atividades presenciais do Poder Judiciário e a data foi reagendada para hoje, com várias medidas de restrição para impedir a contaminação com a covid-19.

Advogado desde o início do caso, José Roberto Rodrigues da Rosa adiantou que a defesa vai seguir o proposto desde o primeiro momento, de que a tenente-coronel atirou para se defender das agressões. Ela alega que o casal estavas brigando, apanhou e o marido foi em direção do carro. Pensando que ele pegaria a arma para matá-la, ela atirou.

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