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Capital

Enquanto uns vendem, outros esperam anos para adquirir casa própria

Evelyn Souza | 08/06/2013 12:42
Osvalmir, Edinéia e seis, dos nove filhos. (Foto: Marcos Ermínio)
Osvalmir, Edinéia e seis, dos nove filhos. (Foto: Marcos Ermínio)

A compra, venda e a falta de “sorte” em adquirir um lugar para viver, através dos programas de habitação, continuam sendo alvo de polêmicas pelos bairros da Capital.

Moradora do bairro Leon Denizart há cinco anos, Marta Gonzales viu de perto, um vizinho ser despejado. “O rapaz comprou a casa, reformou, colocou piso, forro. Não acho justo porque ele também gastou e perdeu tudo”, explica a dona de casa.

Segundo ela, o vizinho, que ela não soube dizer o nome, havia mudado para residência há cinco meses. Marta conta que na manhã da última quarta-feira (05), dois representantes da Emha (Agência Municipal de Habitação de Campo Grande) estiveram no local e despejaram o morador. “Colocaram as coisas dele em um caminhão e foram embora. Eles me viram tirando fotos, mas disseram que o dono já sabia que isso iria acontecer”, diz.

Ao mesmo tempo em que acha errado que pessoas beneficiadas pelo programa destinado a atender famílias carentes, vendam as casas, a moradora também não concorda que tirem “tudo”, daqueles que compraram.

“De uma forma ou de outra, ele gastou. Se for assim, a metade das pessoas que vivem aqui, terão que sair. São poucos os que moram porque ganharam. A pessoa arrumam, gastam dinheiro, é uma injustiça”, questiona.

Diante dos questionamentos da dona Marta Gonzales, fomos até a casinha de três peças, que no dia seguinte do despejo, já acolhia uma família. O novo dono é o aposentado Osvalmir Nantes, de 49 anos, que mora com a esposa e mais nove filhos.

Quando questionado por ter se mudado para casa, junto com a família, a resposta veio com ar de felicidade e de alívio. “Porque eu me inscrevi na Emha desde 2007 e agora fui sorteado”, respondeu o aposentado.

Osvalmir contou que já rodou Mato Grosso do Sul inteiro e já mudou mais de 15 vezes. “Eu não tinha moradia, morava na casa dos outros, eles chegavam pediam e eu tinha que sair”.

O último abrigo do aposentado, da esposa e das crianças, que têm entre oito meses e 16 anos, era um barraco de lona, que segundo a família, ficava ali pertinho mesmo, na região do bairro Noroeste.

Dona Marta diz que a maioria dos vizinhos pagou pelas casas. (Foto: Marcos Ermínio)
Dona Marta diz que a maioria dos vizinhos pagou pelas casas. (Foto: Marcos Ermínio)
De casa nova, o aposentado diz que já passou muitas dificuldades.  (Foto: Marcos Ermínio)
De casa nova, o aposentado diz que já passou muitas dificuldades. (Foto: Marcos Ermínio)

Hoje, todos vivem da aposentadoria no valor de salário mínimo de Osvalmir e agora também poderão contar com o dinheiro da venda de materiais recicláveis, que o aposentado começou a “catar”.

A esposa, Edinéia Camargo de 35 anos, conta que antes recebia o benefício Bolsa Família, mas que foi suspenso porque ela não tinha endereço fixo. “Mudava muito. As crianças chegaram a ficar fora da escola. Já tivemos até problema com Conselho Tutelar”, diz à mãe que agora com a casa, acredita que tudo vai melhorar.

O antigo dono, despejado na semana passada, segundo eles, é dono de um mercadinho, que fica em frente ao Presídio. “Ele veio aqui, só pediu pra que a gente deixasse ele retirar uma areia que está ali no fundo. Eu disse que tudo bem”, conta Edinéia.

Em seguida o casal mostrou os cômodos da casa nova. Pai e filho dormem no quarto e as crianças, em colchões, distribuídos na sala, que também é utilizada como cozinha. “Pra quem já morou em barraco de lona, passou fome, frio e tomou chuva, isso aqui é muito melhor. Mudou completamente, não tem vitória maior”, conclui Osvalmir.

O aposentado, apesar da felicidade, conta que ainda não recebeu nenhuma documentação que comprove que ele agora realmente é o dono da casa. Segundo ele, é preciso que o antigo proprietário procure a Emha e assine um documento de desistência.

Na despedida, uma pose para a foto com os seis filhos. Os outros não gostaram muito da ideia, não quiseram aparecer.

Antes de irmos embora do bairro, fomos até a mercearia, onde trabalha o rapaz.A mãe dele nos atendeu e informou que o filho perdeu a casa e estava muito triste com a situação.

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