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Capital

Érika tentou salvar mãe de torturador e agora luta para mudar vida de irmão

Aos 21 anos e com filho de 3 meses para criar, jovem conseguiu guarda do bebê que "viu" mãe ser assassinada

Anahi Zurutuza e Ana Beatriz Rodrigues | 04/02/2022 18:19
Érika Guimarães (de camiseta rosa) saiu da Casa da Mulher Brasileira nesta tarde com "os papéis" da guarda provisória do irmãozinho (ao fundo) nas mãos. (Fotos: Marcos Maluf)
Érika Guimarães (de camiseta rosa) saiu da Casa da Mulher Brasileira nesta tarde com "os papéis" da guarda provisória do irmãozinho (ao fundo) nas mãos. (Fotos: Marcos Maluf)

Recuperada do susto de receber ligação avisando que a mãe estava morta, a primeira coisa que veio à cabeça de Érika Guimarães, de 21 anos, foi tirar seu irmão mais novo, um bebê de 1 ano e 8 meses, do ciclo de violência que interrompeu a vida de Francielli Guimarães Alcântara, aos 36 anos. “A primeira coisa que pensei foi pegar a guarda do meu irmão”, enfatiza a jovem em entrevista ao Campo Grande News nesta sexta-feira (4), nove dias depois do fatídico telefonema.

Érika não conseguiu salvar a mãe do torturador, que a matou estrangulada, mas hoje, assumiu oficialmente a missão de guiar o irmãozinho por caminho menos trágico. Nesta tarde, ela saiu da Casa da Mulher Brasileira com “os papéis” da guarda provisória do menino que assistiu ao martírio de Francielli nas mãos do marido, o soldador Adailton Freixeira da Silva, de 46 anos, por cerca de um mês.

A intenção de Érika é que o pequeno seja criado ao lado do filho dela, de 3 meses, e se livre dos traumas adquiridos em tão tenra idade. Para a guarda definitiva, ainda faltam alguns documentos.

Batalha perdida - A filha sabia que a mãe estava sendo agredida pelo padrasto. Numa das visitas em dezembro, viu cortes nas costas e queimaduras nos braços de Francielli. No mesmo dia, conseguiu tirar a mãe de casa.

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Ela não conversava, não contava o que tinha acontecido, mas toda vez que eu tentava entrar no assunto, ela olhava para o lado e chorava. Tive uma crise de ansiedade horrível, coloquei meu filho em risco, mas tirei minha mãe de lá”, narra Érika.

A jovem se recorda da frase que convenceu Francielli a ir embora: “Você não morreu quando meu pai abandonou a gente e não vai ser agora. Eu tô aqui para te ajudar [sic]”.

O que a moça não esperava é que a mãe cairia numa cilada. Ela voltou a morar com o marido e o irmão mais velho, de 17 anos, dias depois, quando o adolescente convidou a mãe para um almoço.

As duas perderam o contato. “No dia 24, passei mais de uma hora e meia no portão, no sol, para dar Feliz Natal para a minha mãe e ninguém saiu para me atender”.

Vestindo camisetinha estampada com dinos, órfão do feminicídio ganha colo de tia na casa onde vai morar também com a irmã mais velha. (Foto: Marcos Maluf)
Vestindo camisetinha estampada com dinos, órfão do feminicídio ganha colo de tia na casa onde vai morar também com a irmã mais velha. (Foto: Marcos Maluf)

Brutal - Do portão para dentro, Francielli padecia. Conforme a apuração policial, ela era mantida cárcere na casa da Rua Cachoeira do Campo, no Bairro Portal Caiobá. Ela levou choques, facadas, pancadas na cabeça, teve o cabelo cortado, dentes quebrados e a pele queimada. Segundo a perícia médica, a mulher já não tinha pele nas nádegas por causa das queimaduras. Ela usava bandagens nas feridas. "É um dos crimes mais sinistros que já investiguei", chegou a dizer o delegado Camilo Kettenhuber, durante entrevista no dia seguinte à denúncia de assassinato.

Ainda de acordo com as investigações, uma traição por parte de Francielli foi o que motivou as torturas. Ela teria confessado para o marido que havia traído ele e que o bebê seria filho do ex-amante.

A morte de Francielli aconteceu na madrugada desta quarta-feira (26), ela foi estrangulada com uma corda, mas o caso só chegou à polícia, depois que funerária viu os ferimentos no corpo da vítima.

O caso agora está com a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher). Adailton havia fugido e foi pego na rodoviária de Cuiabá (MT) na segunda-feira (31). Ele chegou a Campo Grande na tarde de ontem (3) e foi interrogado pela delegada Maíra Pacheco, mas detalhes do depoimento estão sendo mantidos em sigilo por enquanto. Segundo a Deam, há pormenores a serem apurados ainda.

Nem Érika sabe o que saiu da boca de Adailton. “A única coisa que eu sei é que ele continua preso, não sei o que ele falou em depoimento, se mentiu ou omitiu algo”.

Ela não duvida, porém, que o algoz da mãe negue tudo. “Um mentiroso. Não espero que ele assuma a culpa”, afirma.

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