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Família acusa Exército de ignorar sofrimento de soldado que morreu em serviço

Parentes afirmam que o jovem não recebeu apoio psicológico e foi humilhado dentro do quartel

Por Bruna Marques | 28/10/2025 14:50
Família acusa Exército de ignorar sofrimento de soldado que morreu em serviço
Soldado do Exército Brasileiro durante período de formação no Comando Militar do Oeste (Foto: Arquivo pessoal)

A morte do soldado Dhiogo Melo Rodrigues, de apenas 19 anos, dentro do CMO (Comando Militar do Oeste), em Campo Grande, abriu uma ferida que vai além do luto. A família denuncia negligência, falta de acompanhamento psicológico e omissão das autoridades militares diante dos sinais claros de sofrimento do jovem, que, segundo os parentes, “não tinha condições de permanecer no quartel”.

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Soldado de 19 anos foi encontrado morto com disparo de fuzil na cabeça dentro do Comando Militar do Oeste (CMO), em Campo Grande. Dhiogo Melo Rodrigues havia ingressado há três meses no Exército e, segundo familiares, demonstrava insatisfação com o serviço militar desde o início. A família denuncia negligência e falta de acompanhamento psicológico, alegando que o jovem sofria ofensas e não passou por testes específicos para manuseio de armas. O Exército informou que instaurou inquérito para investigar o caso e está prestando suporte à família.

Dhiogo havia ingressado há apenas três meses no Exército Brasileiro e, desde o início, demonstrava não querer continuar servindo. “Em sua formatura, ele já se queixava muito. Minha mãe chegou a solicitar ao comandante a sua dispensa, mas nada foi feito, nem ao menos o remanejamento para outra área”, relatou o irmão, que preferiu não se identificar.

Segundo a família, o jovem não passou por nenhum teste psicológico específico para o manuseio de armas de fogo de alto calibre. “Ele relatava que sofria muito lá: ofensas de caráter vexatório. Se reclamasse, seria ainda mais cobrado. Era chamado de burro e quem o ajudava era os próprios colegas de pelotão. Todos viam que ele não tinha condições”, afirma o parente.

A mãe, Christiane Melo dos Santos da Silva, de 57 anos, reforça as denúncias e diz ter alertado repetidas vezes o comando sobre o estado emocional do filho. “Meu filho reclamava muito. Voltou da formatura sujo, ralado e machucado. Sempre fechado e com medo das consequências que poderia sofrer se falasse algo interno. Inúmeras vezes relatei ao comandante, ao tenente, a quem eu encontrava nas dependências do quartel e sempre debochavam! Até de autista zombavam que ele era, pois diziam que não levava jeito para o operacional”, contou.

Christiane afirma que pediu diversas vezes para que o filho fosse transferido de função, sem sucesso. “Eu pedia para mudarem ele de setor, que o colocassem em algo de tecnologia, de logística, onde não colocasse sua integridade física em risco. Era notório o jeito desengonçado do meu filho, alto, magro, de comunicação difícil, metódico. Mesmo assim, nunca lhe foi prestado nenhum tipo de socorro psicológico”, relatou.

Após a morte, a mãe diz ter enfrentado novos episódios de descaso e desrespeito. “Confiscaram o celular dele, numa tentativa clara de mascarar o caso. Hoje, o que me resta é a dor e a indignação diante da omissão e da falta de humanidade com meu filho. Inclusive hoje é meu aniversário e tive que enterrar ele", desabafou afirmando que ontem passou mais de duas horas ao lado do corpo, dentro de um saco, esperando liberar.

Na manhã de ontem, Dhiogo foi deixado pelo pai no quartel, feliz, segundo a família, porque aquele seria seu último plantão na guarita, função que ele detestava. “Creio que logo após o almoço alguém tenha frustrado a mudança dele para o rancho, e ele não suportou mais”, disse o irmão.

O soldado foi encontrado morto, com um disparo de fuzil na cabeça, enquanto fazia guarda no posto do CMO, na Avenida Duque de Caxias. Segundo o irmão da vítima, o corpo foi removido sem perícia no local, o que contraria protocolos básicos de apuração.

Inicialmente, segundo a família, houve tentativa de encaminhar o corpo ao SVO (Serviço de Verificação de Óbito), o que inviabilizaria uma investigação completa. Apenas após insistência dos parentes, o corpo foi levado ao IMOL (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) para necropsia.

O Exército Brasileiro informou, ontem, em nota que o soldado recebeu atendimento de emergência e foi encaminhado ao Hospital Militar de Área de Campo Grande, mas não resistiu, e que está prestando suporte psicológico e espiritual à família. Um inquérito policial militar foi instaurado para investigar as circunstâncias da morte.

“Não se trata apenas da morte de um soldado, mas da perda de um filho, de um irmão, de um jovem que tinha toda uma vida pela frente”, diz o irmão do soldado, porta-voz da família. “Ele foi vítima de um sistema que deveria protegê-lo, não o destruir”.

Em resposta, o Exército Brasileiro informou que foi aberto um IPM (Inquérito Policial Militar) para investigar o caso e que “algumas das alegações apresentadas até o momento são contraditórias”.

De acordo com a instituição, o soldado foi encontrado ainda com vida e levado imediatamente ao Hospital Militar de Área de Campo Grande, por isso não seria “lógico esperar a perícia se havia chance de salvamento”.

“Encontramos o militar ainda com vida, por isso levamos ao hospital de imediato”, informou o comando.

O Exército destacou ainda que o jovem participou de duas campanhas de prevenção ao suicídio e que há “uma equipe multidisciplinar de apoio psicológico” disponível aos militares. Segundo a nota, não há registros de que o soldado tenha feito queixas relacionadas à saúde mental durante o período em que esteve no quartel.

“Tudo que podia ser feito foi. Ele estava há três meses no quartel, não morava com a mãe e acreditamos que tivesse problemas familiares”, acrescentou a instituição, que afirma estar prestando suporte psicológico e espiritual à família.

O comando ressaltou que não vai emitir nota oficial por escrito, “em respeito à família e porque o caso ainda está em apuração”.

Ajuda – Na Capital, o GAV (Grupo Amor Vida) oferece apoio emocional gratuito pelo telefone 0800 750 5554. Pessoas em sofrimento psíquico também podem procurar o Núcleo de Saúde Mental e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial). Além disso, estão disponíveis os números 141 e 188 do CVV (Centro de Valorização da Vida), 190 da Polícia Militar e 193 do Corpo de Bombeiros, que podem ser acionados em situações de crise.

Matéria atualizada às 16h14 para inclusão do posicionamento do Exército.

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