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Capital

Homem chegou a arrancar pele de esposa como punição ao acreditar que foi traído

Homem confessou que torturava esposa como punição por ela ter tido relacionamento quando estavam separados

Dayene Paz e Bruna Marques | 09/02/2022 12:07
Delegada Maíra, de preto, e Ana Paula, durante coletiva de imprensa. (Foto: Henrique Kawaminami)
Delegada Maíra, de preto, e Ana Paula, durante coletiva de imprensa. (Foto: Henrique Kawaminami)

Franciele Guimarães Alcântara, 36 anos, viveu dias de terror até 26 de janeiro de 2022, data em que foi encontrada morta em sua residência, no Bairro Portal Caiobá, em Campo Grande. Para a polícia, o marido, Adailton Freixeira da Silva, de 46 anos, confessou que torturava a mulher como uma forma de punição, pois ela se relacionou com outro homem quando estavam separados. Para ele, uma traição.

As feridas encontradas pela perícia no corpo da mulher, mostram a crueldade praticada. Para justificar a falta de pele nas nádegas de Franciele, Adailton disse, durante seu interrogatório na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), que ela sofreu duas quedas e a região ficou inchada, com hematoma.

"Então ele passou lâmina de barbear para a secreção sair e aquele ferimento foi necrosando. Em meados de janeiro, em outra sessão de tortura, pegou pedaço de madeira de um banco, deu várias pauladas na mulher e a lesão piorou. Então ele retirou essa pele com água oxigenada", descreveu a delegada Maíra Pachedo Machado, durante entrevista coletiva à imprensa na manhã desta quarta-feira (9).

Adailton foi preso cinco dias depois do crime, na última segunda-feira, 31 de janeiro. Diante da gravidade do caso, a polícia continuou com as diligências e o interrogou na quinta-feira passada, dia 3. Ele negou o feminicídio, mas confessou que torturou a mulher por 20 dias, justificando as agressões como uma forma de punição.

Francielli (esq) foi morta após ser torturada por 27 dias, em casa. (Foto: Reprodução)
Francielli (esq) foi morta após ser torturada por 27 dias, em casa. (Foto: Reprodução)

A delegada Maíra explicou que o casal chegou a se separar e neste período, Franciele teve um novo relacionamento. "Para ele foi uma traição, o que não é a verdade dos fatos, porque estavam separados. Ela manteve sim um novo relacionamento e o Adailton teve ciência desse fato".

Franciele e Adailton reataram o casamento. "Então, no final do ano de 2021, em dezembro, ele começou os atos de tortura. Iniciou por um corte de cabelo, pois o dela era cumprido. Ele cortou pela metade e depois cortou mais", revela a delegada. "Em outra ocasião, ameaçou cortar o órgão genital dela com uma faca, caso tivesse outro relacionamento ou terminasse", revela.

A partir daí, toda vez que Adailton pensava que Franciele pudesse traí-lo ou terminaria o relacionamento, iniciava discussão e a sessão de tortura. "Em janeiro, deu socos e pontapés no abdome, depois houve a queda e a retirada da pele com água oxigenada. Além disso, ele não permitia que ela mantivesse contato com outras pessoas fora da casa".

No dia da morte, Adailton afirma que chegou em casa e encontrou a esposa tentando suicídio com uma corda. "Ele alega que então a tirou do banco e apertou a corda dizendo que se ela quisesse se matar, ele ajudava", revelou a delegada. Adailton nega que tenha matado a mulher e disse que fugiu do local com medo de que familiares da vítima o incriminassem.

No entanto, a investigação policial da Deam, que contou com apoio de policiais da 6ª Delegacia de Polícia Civil da Capital e a Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), constatou que houve feminicídio.

Francielli foi morta pelo marido, Adailton, que a mantinha em cárcere. (Foto: Reprodução)
Francielli foi morta pelo marido, Adailton, que a mantinha em cárcere. (Foto: Reprodução)

O filho do casal, adolescente de 17 anos, que presenciava as agressões, afirmou que não procurou a polícia para denunciar, porque tinha medo do pai. Em depoimento, falou que não ouvia gritos e nem choro da mãe. "Ele [Adailton] a levava para o quarto e falava que estava dando uma punição. Ela não gritava, nem chorava, só demonstrava tristeza depois", afirmou Maíra.

Para a delegada, Adailton não demonstrou arrependimento. Maíra definiu o caso como um crime baseado em ciúme, sendo a alegação de traição irrelevante. "A traição é extremamente irrelevante para esse caso, se ocorreu ou não, não vai ser ela o motivo ou fundamento desse feminicídio. A motivação é um crime de ódio, baseado no ciúme, na ira, posse, no machismo, na misoginia, no sexismo, nunca numa relação extraconjugal", destacou. "A gente não traz a vítima de volta, mas é uma resposta para a sociedade e a família", complementou.

A delegada ainda explicou que o inquérito será encaminhado ao Poder Judiciário nesta quarta-feira e as investigações continuam. "Temos prazo para encaminhar ao judiciário, então ele será encaminhado hoje, mas ainda esperamos alguns laudos então pediremos a dilação do prazo para concluir a investigação", pondera.

Adailton foi indiciado pelo crime de feminicídio. Maíra também complementa que o familiar que entregou dinheiro para Adailton e escondeu a moto que ele utilizou para fugir foi indiciado por favorecimento pessoal.

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