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Capital

Indignado, delegado preso fala em herança e em manutenção de fuzil apreendido

Segundo advogado, Obara nunca foi chamado para prestar esclarecimento sobre as suspeitas contra ele

Aline dos Santos e Marta Ferreira | 20/06/2020 12:20
Ex-titular que delegacia que investigava execuções, delegado Obara é acusado de esconder provas. (Foto: Paulo Francis)
Ex-titular que delegacia que investigava execuções, delegado Obara é acusado de esconder provas. (Foto: Paulo Francis)

A defesa do delegado Márcio Shiro Obara, preso na terceira fase da operação Omertà, aponta que ele está indignado com a prisão e um pedido de habeas corpus será apresentado ao TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) na segunda-feira (dia 22).

Neste sábado, o advogado Ronaldo Franco afirma que aguarda a chegada de documento bancário, datado de 2018, comprovando o ingresso de valores oriundo de herança que o delegado recebeu após o falecimento de sua mãe.

Conforme a defesa, o centro da acusação contra Obara é a declaração da esposa do ex-guarda municipal Marcelo Rios, preso com um arsenal e estopim da operação, de que R$ 100 mil foi pago a um delegado depois da execução do policial militar reformado Ilson Martins de Figueiredo, ocorrida em 11 de junho de 2018.

“Isso é o centro da acusação. Como o Ministério Público concluiu que o delegado é o Márcio Shiro Obara. O R$ 100 mil é a questão sine qua non [essencial]”, diz o advogado.

Franco explica que o delegado recebeu a herança e emprestou R$ 50 mil, por meio de transferência bancária, para o investigador Célio Rodrigues Monteiro, que, posteriormente, fez a devolução, também por meio bancário.  A defesa informa que já tem os dados dessa saída e entrada do dinheiro na conta de Obara.

A defesa ainda pontua que seria um contrassenso, num eventual recebimento de propina em espécie, que o dinheiro fosse depositado no sistema bancário, passível de controle.

O advogado afirma que Obara nunca foi chamado pela força-tarefa da operação Omertà para esclarecer sobre a movimentação bancária. “Se o Ministério Público tivesse mandado um requerimento para o Obara, teria sido respondido. É algo simples, básico. Mas o juiz parte do princípio que é ilícito, quando, pelo contrário, a presunção é de licitude”, afirma.

A defesa cita um trecho da decisão do juiz da 7ª Vara Criminal de Campo Grande, Marcelo Ivo de Oliveira, que autorizou a prisão, em que o magistrado aponta que o delegado e o investigador terão “oportunidade de demonstrar que as transferências bancárias realizadas decorrem de negócio lícito realizado entre eles”.

Ao pedir a prisão de Obara e Célio, o Gaeco apontou a transferência bancária de R$ 60 mil (dividida em depósitos de R$ 50 mil e R$ 10 mil), o que aponta ser uma modalidade de lavagem de dinheiro, e que o delegado, então titular da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio), ocultou provas na investigação da execução de Ilson Figueiredo.

Até mesmo procurando colegas do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros) para questionar até onde a apuração de força-tarefa da Polícia Civil, criada em novembro de 2018 para esclarecer três execuções em Campo Grande, pretendia chegar.

Fuzil em manutenção  – A operação apreendeu um fuzil na casa do delegado e 784 munições de vários calibres, sem registro, em sala de acesso exclusivo de Obara na 2ª Delegacia de Polícia Civil de Campo Grande, onde trabalha.

A defesa informa que não se trata de uma arma clandestina. Segundo o advogado, o fuzil foi apreendido em um homicídio na cidade de Amambai e o delegado local requisitou à Justiça que ficasse em poder da Polícia Civil. Enquanto não há decisão final, o fuzil foi entregue ao delegado Obara, que esteve em Amambai durante instrução de tiros. “Pegou o fuzil para dar manutenção e verificar se ainda estava apto. Enquanto o juiz analisa a entrega definitiva do fuzil”.

Filho de delegado, Obara é, nas palavras da defesa, um aficionado por armas. “Ele é instrutor de tiros e armas da Acadepol [Academia de Polícia Civil]. Ele não só treina os membros da Polícia Civil, como também ministra para membros de outros poderes, inclusive para o Poder Judiciário”, diz Ronaldo Franco.

O corregedor-geral da Polícia Civil, delegado Márcio Custódio, informou à reportagem  que a procedência da arma será apurada no curso da investigação e, havendo qualquer indício de falta disciplinar de qualquer servidor, também será apurada.

Na Corregedoria, o delegado Obara se manteve em silêncio após a prisão em flagrante pela arma irregular.

Obara é delegado de 1ª classe, o penúltimo nível na carreira. Seus vencimentos, em maio, atingiram R$ 29 mil, segundo o Portal da Transparência.

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