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Capital

Interditados após desabamento, prédios revelam abandono da Vila dos Ferroviários

Paula Vitorino | 13/02/2012 16:06

Moradores reclamam do descaso com os prédios e da burocracia para realziar reformas

Prédio que desabou. (Fotos: Paula Vitorino)
Prédio que desabou. (Fotos: Paula Vitorino)

Símbolos da história de Campo Grande, os prédios da Vila dos Ferroviários escancaram em suas estruturas a situação de abandono do que deveria ser preservado e ainda alertam sobre os riscos para a segurança dos seus moradores.

Na sexta-feira (10), parte de um prédio na rua General Mello com a 14 de Julho desabou em cima de um restaurante. Os dois prédios e uma loja que funciona na esquina estão interditados pela Defesa Civil e só devem ser liberados após reforma ou demolição.

Mas o risco de desabamento não está restrito apenas aos três prédios. Bastar andar pelas casas e comércios da Vila para constatar problemas estruturais semelhantes ao do prédio que desabou.

Em frente ao desabamento, em uma loja de produtos de automóveis, o forro está caindo. Mas o proprietário, que também é responsável pelo prédio interditado na esquina, Antônio Carlos Andreuci, de 45 anos, afirma que não tem perigo algum.

Sobre o desabamento no prédio vizinho, ele conta que “cada mês caía uma tábua de madeira do forro”. No entanto, questiona o fato de ter alvará da Prefeitura Municipal para o funcionamento no local, mas o prédio nunca ter sido vistoriado.

Forro caindo em prédio em frente ao que desabou.
Forro caindo em prédio em frente ao que desabou.

“Em 30 anos que tenho comércio aqui nunca vieram vistoriar. A gente paga todo ano o alvará, mas virem vistoriar, nunca”, afirma.

Ele e os outros comerciantes dos prédios interditados afirmam que já haviam comunicado aos proprietários dos locais sobre o estado precário, mas nenhuma chegou a ser feita.

A cabeleireira Diva Ferreira, de 48 anos, aponta que vários outros prédios ao redor estão na mesma situação, precisando de reformas, mas que nenhuma medida é tomada por parte dos proprietários.

“Ninguém quer reformar, não estão nem aí. O inquilino se quiser tem que bancar os reparos, mas como vou vai reformar uma coisa que não é sua?”, questiona.

Ela afirma que a maioria dos prédios tem cupim e sofre de infiltrações. Diva conta que o forro de outro restaurante vizinho caiu em outubro do ano passado e que outros locais também correm o mesmo risco.

Descaso - A costureira Maria Luiza Corradi, de 65 anos, diz que morou durante cerca de 10 anos em uma residência vizinho do desabamento e que tinha medo da casa cair.

“Chovia tudo dentro de casa, eu tinha que cobrir tudo com lona para tentar proteger as coisas. Eu morria de medo, ainda mais quando ventava, parecia realmente que a casa ia cair”, diz.

Ela conta que realizou alguns reparos por conta própria na casa, mas precisava trocar o telhado. “Tentei fazer um acordo com a imobiliária de pagar metade e o proprietário a outra parte, mas não quiseram. Aí saí da casa e eles tiveram que reformar tudo por conta própria para conseguir alugar novamente”, diz.

Há 1 ano ela mudou para outra casa, também na Vila dos Ferroviários, mas afirma que nessa a estrutura está bem cuidada e não tem mais medo durante os temporais.

Morador mostra reparos que precisam ser feitos em residência.
Morador mostra reparos que precisam ser feitos em residência.

Pode reformar? - Mas quem é proprietário de residência na Vila reclama da burocracia para conseguir reformar a casa, devido os imóveis serem tombados como patrimônio histórico.

O ferroviário aposentado Fernando Greco, de 66 anos, mora no local há 20 anos e reclama da dificuldade para conseguir fazer qualquer reparo na residência. “A gente não pode mexer em nada sem contratar um engenheiro ou arquiteto. Eu quero trocar minhas telhas, meu piso, mas não consigo”, diz.

Ele aponta que a residência tem problemas de rachaduras e infiltração, mas que até para fazer pequenos reparos precisa enfrentar a burocracia.

Já o gerente de uma loja na 14 de Julho, Filomeno Almeida Lopes, de 37 anos, diz que o fato dos locais serem tombados burocratizam as reformas, mas que é possível realizar obras. A loja já teve o forro trocado e a fachada pintada.

“O fato de ser tombado não impede reformas. Só não pode mexer nas características do prédio, mas o resto é possível”, diz.

Cerca de 170 imóveis da Vila dos Ferroviários e ao redor foram tombados como patrimônio histórico em dezembro de 2009. Por conta disso, as reformas nos prédios precisam ser autorizadas pelo IPHAN.

A sede do órgão fica dentro da Vila e o superintendente André Luiz Rachid esclarece que as reformas não ficam “mais difíceis, mas ficam mais corretas”.

Segundo o órgão, o proprietário precisa apresentar o projeto de reforma ao IPHAN para ser autorizado. No caso de pequenas modificações, como piso e pintura, a reforma apenas precisa ser comunica e não precisa ter projeto feito por engenheiro ou arquiteto.

André esclarece que nenhum serviço do IPHAN é cobrado dos moradores e que o órgão ainda oferece sugestões de alterações nos prédios aos proprietários.

“Em um prédio normal, se a pessoa for fazer alguma obra que modifique a estrutura ela terá de apresentar projeto a Prefeitura, a única diferença do prédio histórico é que precisa passar antes pelo IPHAN”, diz.

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