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Capital

Juntos havia 30 anos, casal participou de culto na véspera de feminicídio

Discussão por ciúmes fez Angela Nayhara decidir pela separação, mas Leonir Gugel não aceitou o término

Por Ana Paula Chuva e Dayene Paz | 09/12/2025 10:05
Juntos havia 30 anos, casal participou de culto na véspera de feminicídio

Ângela Nayhara Guimarães Gugel e Leonir Gugel foram casados por 30 anos antes de uma discussão por ciúmes acabar no assassinato da mulher e na tentativa de suicídio do autor. Donos de um restaurante na Avenida Albert Sabin, o casal participou de um culto na noite de domingo (7) e o crime aconteceu na manhã de segunda-feira (8), na casa da mãe da vítima, no Bairro Taveirópolis, em Campo Grande.

RESUMO

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Angela Nayhara Guimarães Gugel foi assassinada pelo marido Leonir Gugel após 30 anos de casamento em Campo Grande. O crime ocorreu na casa da mãe da vítima, no Bairro Taveirópolis, após uma discussão por ciúmes. Angela é a 38ª vítima de feminicídio em Mato Grosso do Sul em 2023. O casal era proprietário de um restaurante na Avenida Albert Sabin. Leonir atacou a esposa com golpes de canivete quando tentava uma reconciliação. Após o crime, ele tentou suicídio e foi encaminhado à Santa Casa sob escolta policial. O caso não tinha histórico de violência doméstica registrado.

Vítima do 38º feminicídio de Mato Grosso do Sul em 2025, Ângela é descrita pelos amigos como uma mulher trabalhadora e tranquila. Ela foi atingida por diversos golpes de canivete logo após Leonir procurá-la para voltar para casa, já que após a discussão na noite anterior, ela decidiu ir dormir na casa da mãe.

O homem chegou à residência da sogra, “calmo e tranquilo”, à procura de Ângela para tentar uma reconciliação. Ele então seguiu para a casa nos fundos do terreno onde a mulher estava e, em alguns minutos, o cenário se transformou com os “ânimos exaltados”.

Por conta do barulho, a mãe da vítima decidiu ir ver o que estava acontecendo. Ao chegar à casa, ela se deparou com Ângela já caída, sendo golpeada por Leonir. A mulher chamou a neta e as duas arremessaram telhas na tentativa de conter o autor. O homem jogou os objetos de volta e atingiu a sogra e a filha.

Desesperadas, elas correram para a rua para pedir ajuda e, neste momento, Leonir começou a se ferir com o canivete usado para golpear a esposa. A Polícia Militar foi acionada e, ao chegar ao local, encontrou Ângela caída, inconsciente e perdendo muito sangue. A equipe chamou o Corpo de Bombeiros, que tentou reanimar a vítima por alguns minutos, até que o óbito foi constatado.

Leonir estava ao lado da mulher, também ferido, e foi atendido por equipe do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). O homem estava com uma faca nas mãos, desorientado e com a marca de facada no pescoço. Ele foi encaminhado para a Santa Casa, onde está sob escolta. A mãe e a filha da vítima foram encaminhadas para atendimento médico por conta dos ferimentos causados ao tentar conter o autor.

A delegada Analu Ferraz, da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), esteve no local e relatou que Leonir usou um canivete e uma faca de cozinha para ferir a vítima e se ferir. O casal não tinha histórico de violência doméstica, e a delegada confirmou que o crime aconteceu após a discussão no domingo, quando Ângela pediu a separação.

Juntos havia 30 anos, casal participou de culto na véspera de feminicídio
Coroa de flores na despedida da empresária assassinada pelo marido (Foto: Marcos Maluf)

Despedida

Na manhã desta terça-feira (9), familiares e amigos se despediram da empresária. No local onde acontece o velório, os parentes, bastante abalados, optaram por não conversar com a imprensa. Cerca de 80 pessoas estavam prestando suas últimas homenagens à Ângela por volta das 9h de hoje.

Ao Campo Grande News, a vendedora de 44 anos, que preferiu não se identificar, contou que a empresária era muito tranquila e muito trabalhadora. “Ela ia cedo para o restaurante. Tinha muitos amigos. A gente nunca imagina que uma tragédia dessas vai acontecer. Estou sem acreditar”, disse muito abalada.

Um casal que também não quis se identificar disse que o casal tinha o restaurante naquele endereço há aproximadamente 2 anos, mas que antes tinha um estabelecimento em outro local e que nunca souberam de discussão entre os dois.

“Ela era bem quieta, na dela. Ele tomava chimarrão, conversava e trabalhava muito também. Nem dá para acreditar no que aconteceu. Acabamos de ver a manifestação por conta dos feminicídios e acontece uma coisa dessas. A mãe e a filha tentaram defendê-la e estão arrasadas. Não entra na nossa cabeça. Era uma mulher forte, guerreira”, finalizaram.

Nas redes sociais, a presidente da Santa Casa, a advogada Alir Terra Lima, prestou sua homenagem à sobrinha. "Minha amada sobrinha Ângela Nayhara, você viverá para sempre nas lembranças mais doces da madrinha. Tenho certeza de que está nos braços de Jesus e Maria Santíssima."  Ela esteve no local do crime na segunda-feira.

Juntos havia 30 anos, casal participou de culto na véspera de feminicídio
Alir Terra, presidente da Santa Casa e tia da vítima, no local do crime (Foto: Marcos Maluf)

38º feminicídio 

O crime ocorreu nesta manhã na Rua Antonio Pinto da Silva, a cerca de 300 metros do restaurante que pertencia ao casal. Ângela entra para a triste estatística de vítima de feminicídio, crime que ocorre quando a vítima é morta em razão de ser mulher, em Mato Grosso do Sul. São 38 casos neste ano. Este já é o terceiro pior ano desde a criação da Lei do Feminicídio, em 2015, atrás apenas de 2020 (40 casos) e 2022 (44 casos).

Juntos havia 30 anos, casal participou de culto na véspera de feminicídio
Cartaz de luto na porta do restaurante da vítima (Foto: Marcos Maluf)

A violência doméstica é um crime que a sociedade não pode ignorar.
Ao menor sinal de agressão, denuncie pelo 180 ou acione o 190 em casos de urgência. O silêncio protege o agressor, a denúncia protege a vítima.