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Capital

Médicas denunciam falta de material e consultas de 5 minutos nos postos

Aline dos Santos | 15/12/2016 14:53
Foto postada na internet tem a seguinte legenda:  “12 horas de plantão + 2 abaixadores de língua=essa conta não vai dar certo”. (Foto: Reprodução/Instagram)
Foto postada na internet tem a seguinte legenda: “12 horas de plantão + 2 abaixadores de língua=essa conta não vai dar certo”. (Foto: Reprodução/Instagram)

Eles juram cuidar da saúde dos pacientes, mas a realidade na rede pública se torna doença para muito médicos.

Enquanto uma foto com a legenda “12 horas de plantão + 2 abaixadores de língua=essa conta não vai dar certo” foi postada por um profissional no CRS (Centro Regional de Saúde) Tiradentes, a situação precária ganha forma no relato de uma médica plantonista que compra remédio antes de ir à UPA (Unidade de Proto Atendimento) e é cobrada para manter a produtividade de atender uma criança em cinco minutos.

“Foram quatro, cinco meses sem antibiótico nenhum no posto. Passava na farmácia e levava os remédios que mais usava. Imagina o pai chorando na sua frente e dizendo: doutora, não tenho R$ 5 para comprar dipirona. Achava que toda criança grave ia morrer no meu plantão por falta de medicação”, afirma a médica, que pediu para não ter o nome divulgado.

Segundo ela, não há documento que exija número determinado de atendimento, mas a direção pressiona por produtividade. Ou seja, das 19h às 23h, um plantonista atende até 50 pessoas . “Quanto mais cabeças, mais você ganha. Não querem saber saúde, mas a vida é tão frágil, tem que prestar atenção em tantas coisas. A criança não chega e fala, você tem que descobrir”, afirma a profissional.

A situação precária, somado a um plantão sozinha na área vermelha, onde chega todo tipo de caso grave, resultou em quadro de transtorno de ansiedade e depressão. “Tenho tido pensamentos péssimos”, conta a médica, que engordou 12 quilos, só dorme com medicamento, sofre com taquicardia e não consegue mais entrar na unidade de saúde. Ela relata que quer trabalhar e tentou uma transferência de setor, negada pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde).

Dor coletiva – A situação denunciada pela médica ao Campo Grande News faz parte da rotina de outros profissionais. “Um grande problema na nossa profissão é a Síndrome de Burnout, o esgotamento profissional. Somos muitos exigidos pelo paciente, familiares, sociedade. A falta de infraestrutura faz com que o profissional trabalhe em uma situação bastante complicada”, afirma o presidente do SinMed (Sindicato dos Médicos), Valdir Shiroma.

Segundo ele, uma mudança nesse cenário depende do poder público. “A saúde já vem precária de longo tempo. O trabalho é o mesmo, não consegue avançar em nada. Sem condições de trabalho, insumo. Lidamos com saúde, com vida. Se não conseguirmos que a saúde seja primordial, fica complicado”, diz. 

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Sesau e aguarda retorno.

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