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Capital

Militar e policial são presos em ação que mira "chefão" do tráfico no Tijuca

Operação Blindagem expõe rede criminosa com atuação dentro de presídios e apoio de agentes públicos

Por Bruna Marques | 07/11/2025 11:43
Militar e policial são presos em ação que mira "chefão" do tráfico no Tijuca
Tiago Paixão de Almeida, conhecido como “Boy”, chefe do tráfico no Jardim Tijuca, sentado no banco dos réus do Tribunal do Júri. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Conhecido nos bastidores do crime como “Boy”, Tiago Paixão de Almeida, condenado a 18 anos por tráfico de drogas e apontado como líder do tráfico no Jardim Tijuca, voltou a ser alvo da polícia. Ele foi preso na manhã desta sexta-feira (7) durante a Operação Blindagem, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), que investiga rede criminosa comandada de dentro dos presídios. A ação também resultou na prisão de um militar do Exército e um policial penal, suspeitos de atuar em parceria com o grupo de Tiago.

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O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) deflagrou a Operação Blindagem, resultando na prisão de Tiago Paixão de Almeida, conhecido como "Boy", líder do tráfico no Jardim Tijuca, em Campo Grande. Um policial militar e um cabo do Exército também foram detidos por ligações com o grupo criminoso. A operação, que cumpriu 76 mandados em três estados, revelou uma organização criminosa com vínculos ao PCC, envolvida em tráfico interestadual de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro. O grupo, comandado de dentro do sistema prisional, atuava em diversas cidades e estados, utilizando diferentes métodos para transportar entorpecentes.

Paixão foi localizado em um prédio residencial na Travessa Ana Vani, região central de Campo Grande, onde policiais do Batalhão de Choque cumpriram mandados de busca, apreensão e prisão. No local, não foram encontradas drogas ou armas, apenas celulares e documentos, que foram apreendidos. Após a prisão, ele foi conduzido à Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Cepol.

Além de Tiago, um policial penal e um cabo do Exército Brasileiro também foram presos. Conforme apurado pelo Campo Grande News, o militar atuava como segurança particular de Tiago Paixão e sua família.

Na residência dele, os agentes encontraram diversas armas de fogo, sendo que uma delas constava como produto de roubo ou furto.

O advogado Luciano Calda dos Santos, que representa a defesa de Thiago Paixão, afirmou que o cliente ainda não sabe exatamente do que está sendo acusado. Segundo ele, o processo corre em segredo de justiça, e a equipe jurídica ainda precisa juntar a procuração para ter acesso aos autos e entender qual é a acusação.

O advogado confirmou que Thiago segue preso preventivamente. “Por enquanto continua preso. Vamos analisar o processo para avaliar qual medida é mais adequada”, declarou.

Luciano dos Santos disse ainda que, segundo o cliente, não há nada nos aparelhos celulares apreendidos que o comprometa. “Agora vamos juntar a procuração e verificar o que motivou a prisão preventiva”, completou.

O defensor lembrou também que Thiago está atualmente em regime domiciliar, realizando tratamento em razão de processos anteriores.

O império do “Boy” no Tijuca - O nome de Tiago Paixão não é novo para a polícia sul-mato-grossense. Desde 2018, ele aparece como figura central em investigações da Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico).

Naquele ano, uma operação desarticulou parte do grupo que ele comandava e revelou uma estrutura de tráfico de alto nível: laboratórios de drogas, imóveis de luxo em Santa Catarina e um sistema de metas de produtividade para os revendedores, um modelo de gestão mais próximo do corporativo do que do marginal improvisado.

O “quadrilátero das mortes” e o domínio da violência - Mesmo depois da prisão, Paixão seguiu sendo citado em investigações. Em 2021, ele foi apontado pelo MPE (Ministério Público Estadual) como mandante de um assassinato e de duas tentativas de homicídio no Jardim Tijuca.

As mortes deram origem ao apelido “quadrilátero das mortes”, área marcada por execuções e disputas internas do tráfico. Segundo as denúncias, as vítimas foram punidas por comprar drogas de fornecedores não autorizados, o que expõe o controle rígido imposto pelo grupo de Boy sobre o território.

Em 2023, o traficante enfrentou um júri popular por homicídio qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa. Saiu absolvido das acusações de morte, mas foi condenado novamente por tráfico de drogas, somando mais oito anos de prisão. Cumpria parte da pena em prisão domiciliar, alegando problemas de saúde, uma infecção ocular.

Mesmo com idas e vindas na Justiça, Tiago Paixão manteve influência no submundo do crime. A nova operação do Gaeco reforça a percepção de que seu nome ainda é sinônimo de poder no tráfico local.

Militar e policial são presos em ação que mira "chefão" do tráfico no Tijuca
Dinheiro apreendido em operação do Gaeco. (Foto: Divulgação)

Operação Blindagem - Mais de dez presos foram levados para a delegacia nesta manhã. Entre eles uma advogada detida durante a operação. O Gaeco saiu às ruas nesta sexta-feira para cumprir mandados de busca e apreensão em Campo Grande, em outras sete cidades de Mato Grosso do Sul, além de São Paulo e Santa Catarina. No total, são 76 mandados de prisão e de busca e apreensão. Até agora, foram apreendidas centenas de reais, dólares, armas de fogo e munições, além de quatro cheques, cada um de R$ 200 mil.

Segundo o Ministério Público, trata-se de uma organização criminosa armada envolvida em tráfico interestadual de entorpecentes, corrupção ativa e passiva, usura, comércio ilegal de armas de fogo e lavagem de capitais. “(...) a estrutura era comandada de dentro do sistema prisional e contava com uma rede de colaboradores em Campo Grande, Aquidauana, Anastácio, Corumbá, Jardim, Sidrolândia, Ponta Porã e Bonito, além de integrantes em São Paulo e Santa Catarina”, diz a nota.

Durante 25 meses, os investigadores identificaram que o grupo atuava enviando drogas para cidades do interior de Mato Grosso do Sul e para estados como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Acre, Maranhão e Goiás. Para isso, utilizava caminhões com fundo falso carregados com produtos alimentícios e nota fiscal, remessas por Sedex, veículos de passeio e utilitários, além do transporte por passageiros em vans.

As apurações também revelaram vínculos da organização com o PCC (Primeiro Comando da Capital). Membros da cúpula da facção forneciam suporte para ampliar o tráfico e autorizar punições violentas a quem estivesse em dívida com o grupo. Houve casos de extorsão mediante arma de fogo, violência e restrição de liberdade para cobrar débitos ligados ao tráfico e à usura.

O ponto de partida das investigações foi a apreensão do celular do líder do esquema, usado dentro de uma cela no interior do Estado. A partir disso, foi descoberta a corrupção de servidores públicos responsáveis por garantir acesso a telefones, a informações sigilosas e à permanência de detentos em unidades prisionais de menor segurança, de onde coordenavam os crimes com mais liberdade.

Nesta fase da operação, são cumpridos 35 mandados de prisão preventiva e 41 de busca e apreensão em Campo Grande, Aquidauana, Sidrolândia, Jardim, Bonito, Ponta Porã e Corumbá, além de Porto Belo e Balneário Piçarras (SC), Itanhaém e Birigui (SP).

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