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Capital

Moradores da Vila Margarida estão assustados com fechamento de pelotão da PM

Paula Maciulevicius | 22/10/2011 10:14

Prédio foi desativado devido à precaridade, e comunidade se mobiliza para reativação de unidade construída por moradores do bairro, onde, no mês passado, tentativa de assalto resultou em duas mortes.

Posto fica em prédio cedido pela Associação de Moradores e construído pela comunidade, mais de duas décadas atrás(Foto: João Garrigó)
Posto fica em prédio cedido pela Associação de Moradores e construído pela comunidade, mais de duas décadas atrás(Foto: João Garrigó)

Há 15 dias quem passa pelo posto da Polícia Militar da Vila Margarida, na rua Naviraí, vê as portas fechadas, inclusive sem maçaneta. O vidro da janela da fachada parece estar quebrado e até a placa com o nome do 9° Batalhão está com as letras apagadas. O aspecto de abandono coincide com o medo que os moradores estão enfrentando: já estão duas semanas sem Polícia no local.

Os policiais deste pelotão foram deslocados para a base do Parque das Nações Indígenas, em uma transferência que, segundo a corporação, é temporária, diante das condições do prédio, consideradas precária. Para quem via a presença constante da PM, sobrou o receio de ficar à mercê dos assaltantes.

A região, vizinha ao bairro Giocondo Orsi, se transformou em bairro visado pelos criminisos e foi cenário de uma tentativa de assalto que terminou na morte de duas pessoas, na rua Genebra, no último dia 26 de setembro. A lembrança ainda está presente na cabeça dos moradores.

“Esse mês passado aí aconteceu um assalto e um policial à paisana que evitou, mas foi aqui quase em frente à creche. Se com Polícia já tinha, imagina sem?”, diz a babá Lenilda dos Santos Vieira, de 41 anos.

Lenilda trabalha na região há 9 anos e diz ter percebido o posto desativado quando passou a não ver mais viaturas paradas ali. “É ruim, tem comércio, sempre deveria ter policial no posto. Nas ruas até existe um senhor que guarda, mas ele não dá conta. A segurança mesmo vinha do posto”, relata.

A babá estava acompanhada de uma colega, Janete Campos da Silva, que trabalha na região há três anos. Segundo ela o perigo existe também para os que esperam no ponto de ônibus.

A rua do ponto que a Janete fala é a mesma do posto policial desativado, apenas algumas quadras abaixo.

Os pisos são desiguais e mostram o desgaste do tempo. As janelas pintadas são para “segurar” o calor. (Foto: Pedro Peralta)
Os pisos são desiguais e mostram o desgaste do tempo. As janelas pintadas são para “segurar” o calor. (Foto: Pedro Peralta)
Vidro quebrado demonstra falta de segurança em posto da PM na Vila Margarida(Foto: João Garrigó)
Vidro quebrado demonstra falta de segurança em posto da PM na Vila Margarida(Foto: João Garrigó)

“Teve um dia que uma conhecida estava lá e um motoqueiro abordou ela. Ele não conseguiu levar mas disse que nos outros dias pegava”, diz.

Por conta disso, tanto Janete como Lenilda esperavam o ônibus na rua Genebra. Ainda próximo ao cenário do assalto que terminou em morte, o corretor de imóveis Mário Lúcio Túlio, de 39 anos, pegava as duas filhas na creche.

“Fechou o posto policial? Depois que mataram dois aí? Eu já fui assaltado duas vezes em três anos. Se já era ruim com a Polícia aí, ficou pior. Não se pode ficar na frente de casa, sempre com tudo fechado. A gente fica preso enquanto o bandido está solto”, conta.

Ainda na creche, no bairro Giocondo Orsi, funcionárias não acreditavam na confirmação e questionam o por quê da retirada do posto. “Para onde que foi? Para o Parque? Será que é pela casa do Papai Noel? Porque nem casas tem ali, é só árvore. Aqui que é perigoso, bairro que sempre tem assalto agora fica sem segurança. Em vez de abrir mais, fecha?” indaga a assistente administrativa Sônia Fernandes.

A diretora se assusta mais ainda e conta que a região, que segundo ela tem bocas de fumo, tinha tranquilidade, ou pelo menos aparência, com o posto na ativa. “A gente chamava eles ficam socorrer na hora e sempre cuidavam bem da região. É uma pena. Já tivemos mães que foram assaltadas em plena tarde depois de pegarem os filhos aqui”, exemplifica Nalu Cabral.

Pelos depoimentos dos moradores a impressão que se tem é de que ver a Polícia já dava a sensação de segurança. Para a vizinhança, a atenção dos policiais à região acalmava.

“Eles sempre passavam aqui perguntando se estava tudo bem e que se precisássemos de alguma coisa, era só ligar no pelotão”, comenta a comerciante Irene Moreira Cardoso, de 67 anos.

Adolescente e comerciante vivenciaram assalto nesta semana. “A gente não tinha quem chamar”, diz Irene. (Foto: João Garrigó)
Adolescente e comerciante vivenciaram assalto nesta semana. “A gente não tinha quem chamar”, diz Irene. (Foto: João Garrigó)

Uma das proprietárias de uma panificadora da Vila Margarida, ela conta que teve o estabelecimento assaltado há dois meses e se não bastasse, bandidos também entraram na casa da filha nesta semana.

“Antes de ontem pularam o muro e entraram na casa da minha filha. A gente não tinha quem chamar”, fala Irene sobre a insegurança.

Saber que não tem Polícia por perto já tira o sono de quem trabalha e mora ali. “Estamos passando por um momento difícil, é medo em casa, no comércio”, acrescenta.

A neta, Mariana Cardoso Fantinato, de 17 anos, conta que teve que dormir com a irmã na noite do susto. “Eu não conseguia dormir sozinha. Eu vi um deles, a minha irmã viu outro, eles entraram dentro do quintal de casa”, desabafa.

Vai voltar- Enquanto o Campo Grande News percorria o bairro, uma viatura do 9° Batalhão passava realizando rondas. O comandante do pelotão, tenente Cláudio Ferreira Muzili, fez questão de ressaltar que o policiamento continua e até foi intensificado para compensar a transferência do posto, que, segundo ele, é temporária.

“Intensificamos até para proteger o nosso patrimônio que ainda está sob a responsabilidade da Polícia”, diz.

O posto policial tem mais de duas décadas e segundo o comandante já não atendia mais às necessidades da Polícia Militar. O tenente abriu as portas para mostrar a precariedade do local.

“A instalação não suportava mais. Os policiais não tinham as mínimas condições de alojamento. Como eu assumi o comando, sugeri a interdição até resolver o problema”, explica.

O prédio pertence à comunidade da Vila Margarida e foi cedido pelo centro comunitário para servir de base para o policiamento da região. Foram moradores da região que construíram o posto. As adequações na tentativa de atender a demanda transformaram o local em diversos “puxadinhos”.

“Conseguimos três aparelhos de ar-condicionados e não tinha como instalar porque o padrão é monofásico. Não se mexe no piso e no forro há muito tempo”, ressaltou o tenente.

Quanto à interdição a Polícia promete que é temporária até que se resolva a questão. O Campo Grande News pôde constatar que nem cortinas havia na unidade. As janelas eram pintadas de azul, não uma alusão às cores da Polícia Militar do Estado, mas para tentar amenizar a entrada solar.

Os pisos são desiguais e mostram o desgaste do tempo. O banheiro está em condições precárias e segundo relatos quando acionada a descarga, a água saía toda para fora.

“Fazer a reforma e voltar ao local seria um bom presente de Natal para a Polícia e aos moradores também”, comenta o tenente.

No final da tarde desta sexta-feira, em uma reunião com moradores para apontar possíveis soluções de reforma ao local, a Câmara de Vereadores se comprometeu a entregar o prédio reformado ainda este ano.

“Vamos enviar o projeto e na próxima quinta-feira já temos uma reunião de retorno para conversar o que foi decidido com os moradores”, explica o comandante.

“Também queremos voltar para cá, o posto era muito procurado, mas precisamos adequar ou ter um novo espaço”, finaliza.

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