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Capital

Moreninhas viveu fase violenta, mas hoje é "sossegada", dizem moradores

Elverson Cardozo | 24/08/2013 08:30
Moreninha já viveu a "fase perigosa". Agora, dizem os moradores, bairro é sossegado. (Foto: Marcos Ermínio)
Moreninha já viveu a "fase perigosa". Agora, dizem os moradores, bairro é sossegado. (Foto: Marcos Ermínio)

Satisfação é a palavra que define o que sentem a maioria dos moradores das Moreninhas, um dos conjuntos de bairros mais populosos de Campo Grande. Afastado do centro, a região, que completa 32 anos de fundação neste sábado (23), cresceu, se desenvolveu e virou uma cidade dentro de outra.

Se antes, morar ali era problema, por conta da “má fama”, hoje, quem passou pelos anos difíceis e viu as mudanças aconteceram diz com a boca cheia e com orgulho: “Daqui eu não saio. Tenho tudo”. A esperança é que o local continue a se desenvolver.

Esse é o discurso de Liliane Gonçalves. A jovem, de 23 anos, mora no bairro desde que nasceu. Não saiu nem quando começou a trabalhar, porque as primeiras oportunidades apareceram na região onde foi criada.

Atualmente ela trabalha na rua Anacá, a principal da Moreninha II, que faz divisa com a III. A vendedora, contratada em uma loja de roupas, passa a maior parte do dia atendendo clientes, a maioria do próprio bairro que, assim como ela, prefere fazer compras perto de casa.

“Aqui eu tenho tudo o que preciso”, resumiu, ao comentar que já tentou viver fora, em outra cidade, no interior do Estado, mas não se adaptou e voltou.

A “má fama” da Moreninha, disse, passou. “Era muito violento, mas mudou depois que aumentaram o policiamento. Agora é mais tranquilo”. Violência existe em qualquer lugar, acrescentou, mas é preciso “medir bem onde e com que vai estar”.

Opinião parecida tem a proprietária de uma livraria localizada no mesmo endereço, Edineia Martins, 43 anos, que há duas décadas escolheu o bairro para morar. Para ela, não há muita diferença para a Moreninha de antes e a de agora.
“As pessoas acham que é violento, mas eles não percebem que aqui é o triplo de moradores. Se acontece uma coisa em um bairro aqui, pela quantidade de gente, acontece três”, teorizou.

Liliane Gonçalves nasceu na Moreninha e sempre trabalhou no bairro. (Foto: Marcos Ermínio)
Liliane Gonçalves nasceu na Moreninha e sempre trabalhou no bairro. (Foto: Marcos Ermínio)

Edineia afirma que “se achou” morando na região porque, como explicou a vendedora, “tem tudo”. “Poucas coisas eu vou buscar no centro”, disse. Para a empresária, apesar das vantagens, que já estão de bom tamanho, falta algumas coisas. “Precisa de um hospital porque nosso posto de saúde é ruim. Já é uma cidade e uma cidade precisa de hospital”, salientou.

A moradora tem poucas recordações do desenvolvimento, porque pegou o bairro com 12 anos de fundação, diferente da aposentada Vitalina dos Santos Oliveira, 69 anos, que ganhou a chave da casa onde reside quando a Moreninha III ainda lembrava uma fazenda.

Recordação - Ela morava no Jóquei Clube. Pagava aluguel. Quando o soube que o governo estava oferecendo financiamento da casa própria, resolveu arriscar. Começou a mexer com a papelada em novembro. Em fevereiro do ano seguinte já estava com a escritura em mãos e dentro do novo lar.

“Aqui não tinha cerca, nem asfalto. Estavam fazendo. Lembro bem porque minha filha caiu no piche e deu trabalho para lavar. Era tudo aberto. Passava gados dentro do quintal. Não podia plantar nada”, relembrou.

Aposentada, dona Vitalina já viu muitas mortes. Ficou no bairro por necessidade, mas hoje não pretende mudar. (Foto: Marcos Ermínio)
Aposentada, dona Vitalina já viu muitas mortes. Ficou no bairro por necessidade, mas hoje não pretende mudar. (Foto: Marcos Ermínio)

Os vizinhos, no início, disse, davam bom dia e cumprimentavam até nos pontos de ônibus, coisa rara nessa geração. A Moreninha de antigamente, de maneira geral, sem levar em conta os problemas, era boa para se viver, mas, nessa história, também existe a “fase ruim” que, felizmente, ficou para trás.

“Sangue nas Moreninhas” e o período de paz - Vitalina sabe bem disso. O relato da aposentada, que vivenciou a violência da janela de casa, chega a assustar:

“Assisti muitas mortes aqui, inclusive na minha rua. Era muito perigoso. Tinha gente que passava no carro com o revólver pendurado. Um dia um rapaz comprou cachorro quente, estava atravessando a rua e foi baleado. Ele nem comeu. Minha sobrinha também foi baleada na esquina. Era difícil viver aqui. Não podia deixar um chinelo fora porque roubavam”.

Era difícil, mas Vitalina não enxergou outra saída. Ou ficava na nova casa ou voltava a pagar aluguel. “Um dia eu estava indo para o serviço e vi um rapaz com o jornal aberto. Na manchete estava escrito: ‘Sangue nas Moreninhas’. Quando cheguei, minha amiga falou: Como você vive um bairro desses? Mataram dois”, relembrou.

“Hoje é sossegado”, disse, na sequência. “Agora está uma paz, uma tranquilidade. Você não vê, não escuta mais tiro, mais nada”.

 “Agora está uma paz", resumiu a aposentada. (Foto: Marcos Ermínio)
“Agora está uma paz", resumiu a aposentada. (Foto: Marcos Ermínio)

Para a aposentada o bairro, que melhorou há cerca de 10 anos, vive uma nova fase. Tem comércio, terminal, agência bancária, posto de saúde e até maternidade. O que falta, opinou, é uma atenção maior à saúde, “um caso sério”, porque o atendimento é péssimo, assim como o local. No mais, não falta nada.

Em desenvolvimento - Moradora da Moreninha IV, bairro vizinho, inaugurado há cerca de 8 anos, a professora de língua portuguesa Jaqueline do Carmo Souza Zimmerman, 30 anos, concorda com as declarações de Vitalina.

De fato, diz ela, na I, II e III “tem tudo”, mas, ali, que ainda é novo, faltam algumas coisas. O asfalto já chegou em algumas ruas, mas é preciso investimento no comércio para que a região se desenvolva. “Falta empreendedorismo para continuar crescendo”, afirmou.

Ainda faltam melhorias na Moreninha IV. (Foto: Marcos Ermínio)
Ainda faltam melhorias na Moreninha IV. (Foto: Marcos Ermínio)
Professora, Jaqueline do Carmo gosta do bairro onde vive, mas cobra empreendedorismo. (Foto: Marcos Ermínio)
Professora, Jaqueline do Carmo gosta do bairro onde vive, mas cobra empreendedorismo. (Foto: Marcos Ermínio)

Apesar disso, a região já se valorizou. Antes se comprava terrenos por R$ 6 mil. Hoje, não se encontra lotes por menos de R$ 16 mil. Algumas residências, no início, saiam por menos de R$ 5 mil.

“Eu mesma comprei a minha por R$ 2,5 mil e vendi por R$ 4,5 mil. Depois, comprei outra por R$ 2,5 mil outra vez”, contou.

Outro ponto importante é a falta de atrações. Quem gosta de se divertir nas baladas, nos bailes flashback, precisa “descer” para as outras regiões. Apesar dos problemas, Jaqueline é apaixonada pelo bairro onde passou a infância.

Ela já tentou morar fora. Passou 7 meses em Campinas (SP), mas não gostou e resolveu voltar. “Quem bebe água da Moreninha fica”, disse, brincando.

Festa - Em comemoração ao aniversário de 32 anos do bairro, será realizado, neste sábado (23), a partir das 8h, na praça central, perto do terminal, entre as Moreninhas II e II, a tradicional festa.

A programação inclui o desfile cívico com mais de 30 entidades, ação social o dia todo, shows gospel e com artistas regionais. A dupla Thiago e Graciano vai encerrar a festa.

A feira que movimenta o comércio e é a atração dos moradores. (Foto: Marcos Ermínio)
A feira que movimenta o comércio e é a atração dos moradores. (Foto: Marcos Ermínio)
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