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Capital

Morte de "indiozinho" comove família que ele ganhou no hospital

Natalia Yahn | 26/02/2016 10:39
Edemar, viveu por pouco mais de 4 anos, completados em dezembro. (Foto: Marcos Ermínio)
Edemar, viveu por pouco mais de 4 anos, completados em dezembro. (Foto: Marcos Ermínio)

A morte do “indiozinho” Edemar Gonçalves da Silva, aos 4 anos, foi recebida com tristeza pela equipe de profissionais da Santa Casa de Campo Grande, que cuidaram dele por quase quatro meses – desde a internação em outubro de 2015 até o falecimento que aconteceu ontem (25).

A partida precoce do garotinho de sorriso azul (ele tinha lábios e mãos com tonalidade azulada por conta da síndrome que o acometia e prejudicava a circulação sanguínea) comoveu também milhares de pessoas e rendeu homenagens nas redes sociais. Enquanto ele é tratado na internet como fofo, guerreiro e anjo, os profissionais que cuidaram dele no hospital sofrem com a perda do menino, considerado por muitos como “filho”, “neto”, “sobrinho” e “afilhado”.

Em reportagem publicada pelo Campo Grande News, no dia 21 de janeiro deste ano, o envolvimento dos profissionais de saúde que cuidaram de Edemar desde que ele foi internado na Santa Casa da Capital, no dia 29 outubro de 2015, ficou claro que ele era tratado de forma diferente e especial por todos.

A técnica de enfermagem Cíntia Fernandes, 28 anos, era chamada por ele como “mãe Cíntia”, falou sobre a tristeza ao saber que Edemar não resistiu. “Eu fiquei muito triste. A gente torcia para ele se recuperar”.

A assistente social do setor de pediatria da Santa Casa, Sidnéia Paulino, que também era próxima do garotinho, está em período de férias. Porém, em uma rápida conversa por telefone era perceptível a voz embargada ao falar sobre Edemar. “A gente sente, não tem como não ficar triste”, afirmou.

Cíntia Fernandes foi a "mãe" de Edemar na Santa Casa. Ela corrigia, cuidava e se preocupava com ele. (Foto: Marcos Ermínio)
Cíntia Fernandes foi a "mãe" de Edemar na Santa Casa. Ela corrigia, cuidava e se preocupava com ele. (Foto: Marcos Ermínio)

Na página do Campo Grande News no Facebook do a reportagem sobre a morte do garotinho sorridente teve mais de 3,4 mil curtidas, com a mesma quantidade de visualizações do vídeo postado pela Santa Casa onde o menino fala sobre os personagens do seriado Chaves.

O hospital também fez uma homenagem ao garoto, com mais de 1,5 mil curtidas até agora. O texto, de acordo com a Santa Casa, foi o mais lido desde a criação da página na rede social e já supera em três vezes o segundo colocado. A assessoria de imprensa informou que a publicação teve abrangência de 38 mil pessoas, enquanto normalmente não passa de 12 mil.

"Indiozinho nasceu com o coração doente, Indiozinho enganou Tupã e viveu quatro anos contente, mas Indiozinho precisava curar coração. Tudo foi feito, da melhor maneira, a Santa Casa acolheu e operou Indiozinho – tudo foi feito!!! Tupã não gostou que mexeram no coraçãozinho de Indiozinho e levou Ele e seu coração para a terra do sempre...", diz o texto da Santa Casa em homenagem a Edemar.

E toda a comoção gerou comentários diversos dos internautas. Alguns relatos são de pessoas que apenas viram, conviveram ou mesmo atenderam Edemar durante as internações no HU (Hospital Universitário) de Dourados, a 230 quilômetros de Campo Grande, ou mesmo na Santa Casa. “Cheguei a ver ele passeando com uma enfermeira do lado de fora, todo sorridente. Ela comentou com uma outra que a alegria dele era sair pra fora do hospital. Que pena que a saída dele foi desta forma”, afirmou Jociane Dias.

“Hoje o céu está mais iluminado, pois chegou uma pérola rara lá. Eu conheci ele, sempre feliz e sorridente, dava até vontade de levar ele para casa, que esteja em um lugar melhor do que esse mundo, pois o sorriso dele nunca viu maldade, apenas esperança”, disse Aline Dias.

Outras pessoas nem mesmo conheciam o garoto, mas quiseram fazer uma homenagem. “Um índio que lutou até o final, não quis mais guerra, preferiu a paz eterna”, disse Zezinho Martinez.

Na página do Facebook da Santa Casa, as homenagens também foram muitas, inclusive em reconhecimento ao trabalho da equipe médica e de enfermagem. “Aqui na lanchonete da Santa Casa, todos sentimos muito a partida do nosso indiozinho, estamos todos muito triste. Mas sabemos que Deus o levou para perto dele. Que Deus conforte o coração de cada anjo desta casa, que enquanto aqui ele esteve deram a ele amor, carinho e atenção”, disse Nelsina Oshiro.

“Parabéns aos funcionários e toda equipe que cuidou dele. Que este caso que se tornou público sirva para as pessoas reconhecerem a garra e humanidade dos profissionais que trabalham na área da saúde pública. Descanse em paz indiozinho”, escreveu Hevellin Molena.

E até a mãe do garoto foi lembrada. “Vai encontrar tua maezinha meu anjo, ela vai te receber e cuidar bem de você”, afirmou Edineia Rocha.

Sepultamento - Edemar morreu a 0h20 dessa quinta-feira (25), no CTI (Centro de Terapia Intensiva) da Santa Casa. Ele passou pela cirurgia cardíaca, que aguardava há mais de um ano, na manhã de terça-feira (23), mas começou a mostrar problemas na recuperação ainda na quarta-feira (24), quando os rins deixaram de funcionar.

O corpo do “indiozinho”, foi levado ontem (25) às 18h30 para a aldeia indígena de Amambai, a 360 quilômetros de Campo Grande. O corpo foi liberado pelo hospital por volta de 8h30 e o procedimento de preparo foi concluído no início da tarde, porém os trâmites burocráticos, como a produção do atestado de óbito, acabaram provocando atraso.

A previsão inicial da família era levar o corpo para a aldeia Jaguapiru, em Dourados - a 230 quilômetros da Capital -, onde vive o tio materno e a irmã que cuidavam de Edemar, mas os avós decidiram, em um último momento, realizar os rituais em Amambai.

A assistente social Sidnéia Paulino (com Edemar no colo), e a irmã dele Jaqueline. (Foto: Marcos Ermínio)
A assistente social Sidnéia Paulino (com Edemar no colo), e a irmã dele Jaqueline. (Foto: Marcos Ermínio)

Espera – Edemar esperava desde dezembro de 2014 pela cirurgia e desde então já passou por dois hospitais em Mato Grosso do Sul. No HU (Hospital Universitário) de Dourados, a 230 quilômetros da Capital, ele ficou internado por mais de 10 meses. E atualmente aguardava na Santa Casa de Campo Grande, para onde foi transferido em outubro de 2015.

O menino nasceu no dia 23 de dezembro de 2011, no Hospital Regional de Amambai. Entre os dias 10 e 12 de dezembro de 2012 ficou internado no HU (Hospital Universitário) de Dourados. Depois disso, só existe um registro de alta da Santa Casa de Campo Grande, do dia 7 de janeiro de 2013.

Somente no dia 4 de dezembro de 2014 o garotinho retornou para o HU de Dourados, levado pela irmã Jaqueline Lopes, 23 anos – que atualmente o acompanha (a mãe teria sido assassinada pelo pai de Edemar). O hospital informou que o menino foi internado com pneumonia. Na Santa Casa de Campo Grande ele só deu entrada dez meses depois, de acordo com a cardiopediatra que atende o menino, Cláudia Piovesan Farias, por conta do quadro de saúde delicado.

Doença – Edemar tinha um grave problema no coração, conhecido como anomalia de Ebstein. Ele nasceu com a doença rara que provoca insuficiência cardíaca por conta de uma má formação.

O problema no coração não impedia que a criança vivesse fora do hospital, ele poderia aguardar a cirurgia em casa. Porém, a “internação social” na Santa Casa é o único meio encontrado para garantir que ele receba o tratamento necessário. Ele recebeu o diagnóstico da doença também na Santa Casa de Campo Grande. Na época os pais foram informados sobre a gravidade do caso, mas não permitiram que o filho fosse submetido aos procedimentos.

O pai de Edemar, Roberto Gomes da Silva, registrou em uma carta – provavelmente escrita em 2013 – o desejo de que o menino não fosse submetido à cirurgia cardíaca. O documento está guardado junto com outras documentações do garoto, na Casai (Casa de Apoio à Saúde do Índio), na Capital.

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