Na ceia de Natal, assalariado só bebe “champanhe” se ganhar no trabalho
A cesta de produtos para a ceia do Natal deste ano subiu 10,19%, de acordo com pesquisa divulgada no começo deste mês

A varanda que vai abrigar os familiares na noite de Natal está quase pronta na casa de Francine. O dinheiro, pouco mais de R$ 100, já está reservado. A compra dos ingredientes da ceia natalina será feita nesta terça-feira (24), na véspera. Já o brinde da família foi garantido pela empresa que Francine trabalha. Lá, cada funcionário ganhou uma garrafa de champanhe.
Moradora da comunidade do Linhão, na região do Bairro Noroeste, a auxiliar de serviços diversos Francine Ferreira Ribeiro, 28 anos, contou que cerca de dez pessoas vão passar o Natal na casa dela. Cada um vai levar um prato. “Vai ter frango assado, farofa, arroz, salada”, disse. Porém, vai faltar uma coisa. O peru, que não vai dar para comprar. Churrasco então, nem pensar. A carne está muito cara.
Francine lembra com saudade de quando a mãe dela trabalhava em casa de família e ganhava todo ano um peru no fim do ano. “Vamos ter que substituir por frango. Se comprar o peru, não vai dar para comprar a bebida”, explicou. Francine mora na comunidade há pouco mais de 3 anos com o marido e as duas filhas de 4 e 5 anos.

A ceia de Natal também não vai ser lá grandes coisas na casa de Joana Toledo Novaes, 25 anos. Mãe de duas crianças, de 7 meses e 7 anos, Joana relatou que o marido trabalha como ajudante de pedreiro e ganha R$ 100 por dia.
Os produtos para a ceia serão comprados no fim da tarde de hoje, quando o esposo receber. “Vamos passar a véspera do Natal na igreja. Na volta vamos fazer um churrasco para comemorar a data. Se tivesse um pouco mais de dinheiro, compraria champanhe pra fazer um brinde”, revelou.
Aos 51 anos, o que Joana Elizete Pedrosa queria mesmo era um panetone de presente. Ela vive com uma renda de R$ 600 e não pôde comprar o pão doce com frutas cristalizadas. “Meu esposo é doente e quando dá, cata material reciclável pela região”. Com uma deficiência na perna, Joana diz que luta dia dia para conseguir criar com um pouco de dignidade a filha de 11 anos.
Vizinha de Joana, Leliane Pereira de Barros, 39 anos, disse que vai ter o básico na ceia de Natal na casa dela. Os R$ 100 estão garantidos para comprar os ingredientes para o cardápio da ceia. "A champanhe foi deixada pra lá", disse. Ela contou que fez uma pesquisa e a garrafa mais barata da bebida custa em média R$ 15. "Vou deixar esses R$ 15 para comprar o presente da minha caçula de 13 anos que passou direto para o 9º ano", comemorou. A adolescente disse que quer ganhar canetas para colorir o caderno no próximo ano.
A cesta de produtos para a ceia do Natal deste ano subiu 10,19%, de acordo com pesquisa divulgada no começo deste mês pelo (FGV/Ibre) Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas. O resultado supera a inflação média de 6,76%, acumulada nos últimos 12 meses medida em novembro, segundo o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), da FGV. Entre os itens com maior aumento de preço, destaque para azeite (17,52%), vinho (16,95%) e frutas frescas (16,91%). Quanto ao mercado de carne bovina, os especialistas afirmam que o consumidor deve continuar pagando mais pelo produto.