Na periferia, álcool é luxo e quarentena é feita com água, sabão e muita oração
Famílias de baixa renda são as que mais sofrem com a disseminação do novo coronavírus (covid-19)
Vivendo em residências superlotadas, sem condições de estocar comida, comprar álcool gel ou trabalhar de casa, as famílias do Bairro Bom Retiro, região da Vila Nasser, em Campo Grande, contam apenas com água, sabão e muita oração para conter a disseminação do novo coronavírus (Covid-19).
A auxiliar de serviços gerais Leidiane Elias, 29 anos, mora numa casa com quatro cômodos com o esposo e os cinco filhos com idades de 4 a 12 anos. A gente não tem o que fazer, mas ficar em casa trancada também não dá certo. É muita gente aqui em um espaço pequeno. As crianças querem brincar”, lamentou. Os dois trabalham na construção de casas da comunidade, porém o serviço foi paralisado por 15 dias.
“Tenho medo de adquirir o vírus. A gente sabe que a situação é difícil, principalmente se precisar de atendimento em postos de saúde. Então estamos evitando contato com outras pessoas. Não consegui comprar álcool gel, mas estamos fazendo a higienização com água, sabão e orando muito para não pegar essa doença. Só Deus mesmo para livrar a gente”, disse.

Sem condições de fazer uma compra boa, a família está vivendo com um sacolão doado pela empresa de construção. “Não fomos ao mercado ainda. Estamos vivendo da cesta que recebemos. Não estamos com cabeça, nem dinheiro para fazer uma grande compra no mercado. Vamos levando a vida do jeito que dá”, resumiu.
A vizinha dela, a dona de casa Tatiana Cardoso, 32 anos, também está evitando sair com receio de contrair a doença. Se precisar sair para fazer alguma coisa, chego em casa já lavando as mãos com muita água e sabão. Tatiana mora com marido e mais quatro crianças com idades de 1 a 11 anos.
Com o marido desempregado há dois dias, a dona de casa Rosana Duarte de Oliveira, 31 anos, afirmou que não tem dinheiro nem para comprar o básico, quanto mais para estocar comida. Ela cria seis filhos e uma sobrinha com idades de 1 a 15 anos. “Meu marido havia acabado de voltar das férias, quando foi mandado embora”, lamentou. Rosana só sai em caso de emergência e conta com o seguro desemprego do marido para a família não passar por necessidade. “Essa pandemia pegou a gente no meio da crise”, reclamou.