Polícia investiga fazenda por destruir barracos de acampamento em estrada
Parte de acampamento foi demolida e até queimada por funcionários de local em janeiro; Medo é de que conflitos entre partes se iniciem caso não haja mediação imediata com órgãos públicos, como o Incra



A Polícia Civil de Campo Grande investiga um fazendeiro da região de Rochedinho, na zona rural da cidade, acusado de destruir ao menos 37 barracos de um acampamento montado às margens da MS-010 com o pretexto de aumentar as áreas das suas terras.
Segundo os integrantes do Acampamento 17 de Outubro, que há três anos foi construído na via, as demolições aconteceram de maneira súbita, no final de janeiro. Todo um trecho de dois quilômetros foi alvo da ação.
“Não houve nenhum tipo de negociação, nada”, lamentou Gumercindo Azevedo, 71 anos, presidente da OLT (Organização da Luta pela Terra). “Estamos em uma via pública, com uso acordado com a Prefeitura. Não houve nenhum tipo de invasão ou coisa do tipo. E mesmo se houvesse, haveria um trâmite para a reintegração de posse, com ações judiciais, não no coronelismo.”
Uma das vítimas da ação é a idosa Teresa Vicente do Nascimento, 70. Desde o início ela ocupava um pedaço da margem da estrada com seu barraco e, sumariamente, viu tudo ser derrubado. “Acordei um dia e, se não corro, iam derrubar a casa comigo dentro. Até fogo colocaram nas minhas coisas”, disse.
Viúva, Teresa morava sozinha. Mantinha horta, criação de galinhas e sonha ainda em comprar uma chácara só sua. Recusou a ajuda dos filhos, que moram na área urbana da capital sul-mato-grossense e está alojada de favor em outro barraco às margens da MS-010, onde as condições são precárias e o medo de perder tudo persiste.
“Não sei por quanto tempo vou agüentar. Entupiram o poço onde colhíamos água para beber, aqui tem muito morcego à noite. Tenho fé que Deus vai me ajudar ainda”, completou a idosa, revelando que sua condição cativou até os funcionários. “Eles pediram perdão por destruir minhas coisas. Alguns até choraram.”

Conflito – O medo de Azevedo é que a decisão dos donos da Fazenda Mateira gere um conflito por terras em um local até então pacífico. Por 30 anos a fazenda conviveu com os sem-terra em sua margem, segundo o líder coletivo.
“Trata-se de um crime, pois ele está se apropriando de terras públicas, aumento sua posse com coisa pública. Sempre respeitamos os limites e nunca colocamos um pé na área dele”, disse o presidente da OLT.
A cautela se justifica. Ainda restam cerca de 80 barracos ao longo das margens das estradas, todos ameaçados de serem demolidos. “O pessoal não vai deixar barato, por isso essa questão virou minha prioridade”, disse.
Atenção – Cautela de um lado, atenção policial de outra. O caso está sendo investigado no 2º DP (Monte Castelo) de Campo Grande e a prioridade é apaziguar os ânimos.
Até o final do mês, representantes da Fazenda Mateira serão chamados parta prestar suas versões dos fatos. E o plano é acertar um acordo de paz.
Pelo lado oficial da coisa, não há restrições de órgão federais, como o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) de Mato Grosso do Sul para a ocupação dos sem-terra nas margens da pista. A polícia aguarda a medição exata da posse da fazenda pelo instituto para apurar as denúncias de aumento de propriedade.
Funcionários da fazenda procurados pelo Campo Grande News não quiseram dar declarações. Dizem que cumpriram ordens e que temem perder os empregos caso falassem algo. Representantes jurídicos dos proprietários do local não responderam os recados deixados pela reportagem.