Prefeitura cadastra moradores, mas famílias não querem deixar favela
Dezenas de funcionários da Emha (Agência Municipal de Habitação) estão desde o começo da manhã desta sexta-feira (28) colhendo informações dos moradores da favela Cidade de Deus, no Bairro Dom Antônio Barbosa, região sul da Capital. Muitos barracos vazios foram encontrados no local pelos funcionários.
A intenção da Prefeitura é levar os moradores para outra localidade. “Em muitas dessas casas só encontramos materiais reciclados, entulhos e ele disse muitos barracos são usados somente como depósito e outros só estão mantendo para segurar a posse”, disse o diretor adjunto da Emha, Enéas Netto.
Os moradores da favela que trabalham no lixão não querem a remoção para outro lugar. A Emha pretende passar pelos cerca de 550 barracos da favela, e está coletando informações pessoais e cadastro tanto no município quanto nos programas sociais dos governos federal e estadual.
A Prefeitura está prometendo entrar em contato com os moradores sobre o destino das famílias. A comunidade também tem reclamado da falta de energia na favela desde que a administração retirou os geradores do bairro.
“Está complicado morar aqui pela falta de energia”, conta Wilian Rodrigues Miranda, 29 anos, catador de materiais recicláveis, que morava com a esposa, duas crianças recém-nascidas e um menino de quatro anos no barraco.
Sem luz, ele foi obrigado a deixar a mulher e os filhos na casa da sogra, que mora no Jardim Centenário. Wilian também não quer deixar a região, já que obtém seu sustento e de sua família daquilo que consegue reciclar no lixão.
Apesar de não ser um dos catadores do lixão, Luis Henrique Batista, de 24 anos, também trabalha com reciclagem. Ele e a esposa estão há cinco dias sem luz, e contam que não tem como manter nada na geladeira e por isso estão comendo só arroz e feijão. “Eu não gostaria de me mudar da daqui”, diz.
“Só aceito se não tiver opção”, revela o pintor João Rosa de Souza, 47 anos, que mora há 2 anos e 2 meses na favela. Diferente de boa parte de seus vizinhos, ele não vive da reciclagem de materiais retirados do lixão, e conta que melhorou de vida desde que se mudou de seu antigo bairro, o Taquarussu, para a favela.
“Eu cheguei aqui andando de bicicleta e agora já consegui comprar um carrinho velho para carregar as minhas coisas. No Taquarussu as pessoas são ricas, mas não pagam bem, e aqui são pobres e pagam”, diz João.