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Capital

Presidente de fundação alerta para crescimento de casos de Aids entre jovens

Flávia Lima | 05/06/2015 18:46
Presidente da Fundação CASA, Almir Guimarães, acredita que ainda há tabu nas abordagens de campanhas sobre Aids. (Foto:Fernando Antunes)
Presidente da Fundação CASA, Almir Guimarães, acredita que ainda há tabu nas abordagens de campanhas sobre Aids. (Foto:Fernando Antunes)
Voluntários da entidade realizaram ações na Páscoa para portadores do vírus. (Foto:Divulgação)
Voluntários da entidade realizaram ações na Páscoa para portadores do vírus. (Foto:Divulgação)

Há exatos 34 anos era diagnosticado no Brasil, o primeiro caso de Aids. Envolta em mistério devido as poucas informações obtidas por pesquisadores, a doença logo se propagou devido a falta de conhecimento sobre prevenção e também porque um grande número de pessoas acreditava que ela era restrita aos homossexuais.

Os primeiros dez anos após a descoberta do HIV foram obscuros. A doença era um tabu e praticamente não havia diálogos em família sobre a questão. Foi a partir de meados da década de 80, quando surgiram os primeiros testes com o AZT, o principal medicamento utilizado no tratamento da doença, que a abordagem começou a mudar.

Nas décadas seguintes, as autoridades de Saúde mundiais passaram a organizar campanhas de enfrentamento e a orientação para uma discussão mais aberta sobre o tema, focando a conscientização e a importância da prevenção.

Ao criar uma política de combate a doença, distribuindo o coquetel para tratamento na rede pública, o Brasil se tornou referência mundial. Hoje, segundo dados do Ministério da Saúde, há pelo menos 700 mil pessoas convivendo com o vírus no país. Apesar de uma diminuição dos casos entre 2002 e 2007, os números voltaram a crescer e preocupam principalmente quem trabalha em Ongs e entidades não governamentais, que realizam um trabalho direto com essa população.

É o caso do presidente da Associação Fundação C.A.S.A (Centro de Apoio Social e Acompanhamento aos portadores de HIV/AIDS), Almir Machado Guimarães. Criada na Capital há quatro anos, a entidade auxilia os portadores desde questões jurídicas até a obtenção de cestas básicas. “Mesmo nos casos em que o vírus demora para se manifestar, o psicológico da pessoa fica abalado. Muitos acreditam que vão morrer logo, entram em depressão e abandonam o trabalho”, destaca Almir Guimarães.

Ainda sem sede própria, a entidade também realiza ações para levantar recursos e auxiliar os portadores. Porém, quando surgem as emergências, Almir acaba levando para sua própria casa as pessoas. "Teve casos em que eu não podia socorrer e precisei buscar uma internação só para que o portador não ficasse na rua", conta.

Ele reconhece a melhora no monitoramento da doença, porém vê equívocos quanto às campanhas de prevenção e ao tabu que ainda existe nas famílias, o que dificulta um melhor esclarecimento. Levantamento realizado pelo Programa DST/HIV/AIDS/HV, apontam que somente no ano passado, foram 237 pessoas atendidas pela rede pública diagnosticadas com o vírus HIV/Aids, no entanto, Almir acredita que esse número já é maior.

“Para cada cinco jovens entre 16 e 29 anos, dois são portadores do HIV em Campo Grande”, ressalta Almir.

Os números são assustadores, mas ele afirma que é uma realidade constatada apenas por quem vai no que ele chama de nichos, onde geralmente é difícil o acesso do poder público.

“Quem realmente vai até quem está na ponta do processo somos nós de grupos, entidades e órgãos não-governamentais”, destaca.

Apesar de hoje já ser constatado que a Aids não é restrita a grupos, Almir Guimarães diz que existe muita desinformação, especialmente relacionada a campanhas mal elaboradas, realizadas apenas em datas pontuais, como Carnaval. “Essas ações precisam ser constantes, ocorrer em todas as festas e eventos com grande aglomeração. Além disso, não se vê na TV um comercial abordando famílias discutindo o assunto de forma realmente polêmica. A questão religiosa ainda pesa muito no país”, diz .

Outro ponto destacado por Almir Guimarães é quanto a abordagem da doença. Para ele, é preciso mudar o foco da Aids e dar um destaque maior ao vírus. “É preciso falar em HIV, em como ele é transmitido. Aids já é o final da doença, quando os sintomas aparecem", diz.

Na opinião do presidente da fundação C.A.S.A, quando se fala apenas nos sintomas, a conscientização sobre os métodos de prevenção é esquecida e muitas dúvidas, especialmente entre os jovens, público-alvo onde a doença vem se disseminando, não são respondidas. "Ainda tem gente que não sabe que o vírus pode ser transmitido no sexo oral, por exemplo", afirma.

Por isso, ele volta a bater na tecla da necessidade de haver um envolvimento maior das famílias nas campanhas oficiais elaboradas. "É preciso ficar atento porque existe um comércio na prostituição de olho nesse público jovem, que não tem informação e diálogo com a família", finaliza.

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