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Meio Ambiente

Após 44 anos cuidando de tartarugas, pesquisadora de MS se despede do ICMBio

A cientista que encontrou o mar depois da faculdade na UFMS é homenageada pelo Projeto Tamar

Por Inara Silva | 23/12/2025 15:26
Após 44 anos cuidando de tartarugas, pesquisadora de MS se despede do ICMBio
Médica veterinária e analista ambiental Cecília Baptistotte ao lado de uma tartaruga marinha (Foto: ICMBio/Divulgação)

Com trajetória profissional que começou em Campo Grande, bem longe do litoral, a médica veterinária e analista ambiental Cecília Baptistotte se despede do Centro TAMAR (Tartaruga Marinha) do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) após 44 anos de dedicação à conservação ambiental. A aposentadoria marca o legado construído ao longo de décadas de dedicação às tartarugas marinhas, tema central de sua vida profissional.

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A médica veterinária e analista ambiental Cecília Baptistotte se despede do Centro TAMAR/ICMBio após 44 anos dedicados à conservação das tartarugas marinhas. Sua trajetória começou em Campo Grande, onde, apesar das dificuldades acadêmicas, construiu uma carreira sólida na área ambiental, destacando-se em monitoramento e pesquisa. Cecília ingressou no serviço público em 1990 e, ao longo de sua carreira, ocupou diversas funções no ICMBio, incluindo coordenadora nacional da área de Veterinária. Reconhecida por suas pesquisas sobre fibropapilomatose, ela também representou o Brasil em comitês internacionais. A aposentadoria não a afastará da conservação, pois pretende continuar colaborando com pesquisas.

Em entrevista concedida ao ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), Cecília revisitou a própria história e relembrou como o desejo inicial de estudar Oceanografia, ainda aos 17 anos, acabou se transformando em uma carreira sólida na área ambiental. À época, o curso só era oferecido no Rio Grande do Sul e, por sugestão do pai, optou pela Medicina Veterinária na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

A formação, no entanto, não foi simples. No Estado, o foco acadêmico estava voltado à produção animal, distante da conservação da fauna silvestre, área de seu interesse. Sem disciplinas específicas e sem referências na universidade, Cecília construiu o caminho na prática. Trabalhou por cinco anos com pequenos produtores rurais no interior do Estado, em assentamentos da reforma agrária, experiência que ela guarda como fundamental para sua formação humana e social.

Ela conta que o encontro definitivo com as tartarugas marinhas aconteceu em 1986, durante uma temporada na Reserva Biológica de Comboios, no Espírito Santo. O impacto foi imediato. A lembrança do primeiro nascimento de filhotes, “brotando da areia”, permanece viva na memória da pesquisadora. Pouco tempo depois, em 1987, Cecília se mudou para Regência Augusta, onde passaria a concentrar grande parte de sua atuação profissional.

Serviço Público - De acordo com Cecília, o ingresso formal no serviço público ocorreu em 1990, com a aprovação no concurso do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Anos mais tarde, com a criação do ICMBio, passou a integrar o novo órgão. Ao longo da carreira, ela já foi executora da Base do Projeto Tamar em Comboios, chefe da Reserva Biológica por uma década, coordenadora técnica no Espírito Santo, coordenadora nacional da área de Veterinária e, mais recentemente, coordenadora regional. A última lotação foi na Base Avançada do Centro TAMAR/ICMBio, em Regência Augusta, onde permaneceu até a aposentadoria.

Após 44 anos cuidando de tartarugas, pesquisadora de MS se despede do ICMBio
Cecília Batistotte no Parna Marinho dos Abrolhos-BA (Foto: ICMBio/Divulgação)

Tartarugas Marinhas - A pesquisadora afirmou que sempre esteve diretamente ligada à conservação das tartarugas gigantes (Dermochelys coriacea) e das tartarugas-cabeçudas (Caretta caretta), com forte atuação em monitoramento, pesquisa e envolvimento comunitário. Educação ambiental, sensibilização e a busca por alternativas de desenvolvimento local caminharam lado a lado com a proteção das espécies.

Pesquisas - No campo acadêmico, Cecília se consolidou como referência, especialmente nos estudos sobre fibropapilomatose, doença viral que afeta tartarugas marinhas em todo o mundo. O primeiro registro da enfermidade no Brasil ocorreu no fim da década de 1980, e a análise de dados ao longo da costa, do Sul ao Nordeste, resultou em publicações sempre construídas de forma coletiva, reforçando o caráter colaborativo da ciência.

A experiência internacional também faz parte da trajetória. Cecília representou o Brasil por três anos no Comitê Científico da CIT (Convenção Interamericana para a Proteção e Conservação das Tartarugas Marinhas) e integra o Grupo de Especialistas em Tartarugas Marinhas da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza).

Para ela, a aposentadoria não significa fim do vínculo com a conservação, pois deve seguir colaborando com as pesquisas. “Quando se faz o que se ama, de alguma forma, a gente nunca para”, resume.

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