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Capital

Roteiro que liga PF à família Name tem empada, pendrive, eleição e churrasco

Em depoimento ao Gaeco, Everaldo Monteiro de Assis conta sua versão sobre como terminou ligado à organização criminosa

Jones Mário e Aline dos Santos | 22/10/2019 14:39
Policial federal durante homenagem na Câmara Municipal de Campo Grande (Foto: Divulgação)
Policial federal durante homenagem na Câmara Municipal de Campo Grande (Foto: Divulgação)

“Só um pouquinho. Eu vi... quando eu vi… pela… eu tinha… voltando um pouco…”. Isto é o policial federal Everaldo Monteiro de Assis, investigado por fornecer aos Name informações sigilosas de desafetos da família, tentando explicar como um pendrive seu foi parar no meio do arsenal apreendido pela Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assalto e Sequestro) com o ex-guarda municipal Marcelo Rios.

Apontado como integrante do “núcleo de atividades de apoio” da organização criminosa alvo da Operação Omertà, Assis foi ouvido por promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) no início do mês, uma semana depois das prisões. O depoimento foi gravado e o Campo Grande News teve acesso ao vídeo.

O pendrive cor de rosa, de 16 GB de armazenamento, reunia arquivos com informações pessoais, profissionais e ficha criminal do produtor rural Edivaldo Luis Francischinelli. A perícia do Gaeco constatou que os registros foram obtidos no sistema Sinapse, ferramenta de pesquisa utilizada pela Polícia Federal, com a senha de Everaldo Monteiro de Assis.

Além do dossiê, o dispositivo continha relatórios de chamadas telefônicas trocadas entre Francischinelli e o advogado Antonio Augusto de Souza Coelho, que, segundo as investigações, seria sócio do fazendeiro e estaria envolvido em negociações “embaraçadas” de terras com Jamil Name.

Ainda conforme procedimento investigatório, o advogado teria se tornado inimigo da família diante das transações conturbadas. Souza Coelho seria próximo do capitão da Polícia Militar Paulo Roberto Xavier, cujo filho, Matheus Coutinho, foi executado por engano pelos pistoleiros da organização criminosa, em abril deste ano.

Nitidamente nervoso com os questionamentos do Gaeco, Everaldo Assis tropeça nas palavras durante o depoimento. Ele admite que fez as consultas encontradas no pendrive, mas, na sua versão, porque pretendia investigar suposta negociação entre Francischinelli e um traficante “renomado” para compra de terra na faixa de fronteira. No lote, o policial federal afirma que seria construída pista de pouso onde funcionaria interposto para o tráfico de cocaína.

Assis estava lotado no Núcleo de Operações de Diretoria Executiva da superintendência da PF em Campo Grande. No depoimento, porém, o agente reconhece que a divisão não toca investigações.

Confira primeiro trecho do depoimento de Everaldo Assis:

Furto - O policial alega que não sabe como seu pendrive cor de rosa terminou dentro do baú apreendido com Marcelo Rios em residência do Jardim Monte Líbano, junto com armamento pesado e equipamentos de espionagem. Em roteiro rocambolesco, Everaldo justifica que o pequeno aparelho teria sido furtado do carro de sua esposa quando saiu para comprar empadas de camarão em um boteco próximo à Avenida Calógeras, numa manhã de sábado.

O agente não sabe como, mas acredita que o pendrive estava na “mochilinha” onde carregava outros dispositivos, usados para armazenar músicas. Everaldo Assis relata aos promotores que deixou aberta uma das janelas traseiras do veículo. Quando voltou com as empadinhas, a tal mochila já não estaria mais no carro.

O policial diz que preferiu não registrar boletim de ocorrência. Dias depois, teria visto imagens do pendrive na imprensa, quando o arsenal associado à milícia armada chefiada por Jamil Name e Jamil Name Filho foi encontrado por policiais da Garras.

Assis não teve dúvidas. “Quando eu vi, apareceu na imprensa o pendrive cor de rosa, eu digo: poxa vida, esse pendrive é o meu pendrive”. Foi quando o agente de polícia federal detalha que resolveu procurar pelo aparelho, não encontrou, e decidiu procurar assistência jurídica e comunicar seus superiores na superintendência da PF.

O investigado discorre que ficou aguardando ser intimado para depor sobre o pendrive, mas teve a “surpresa de ser preso”.

Veja como Everaldo Assis narra ao Gaeco a saga do sumiço de seu pendrive:

Eleições - Everaldo Assis foi preso por policiais federais em Bonito, no dia 27 de setembro, quando a Operação Omertà foi deflagrada. Sua defesa, composta pelo juiz aposentado Odilon de Oliveira, pelo filho dele, o vereador Odilon de Oliveira Júnior e outros dois advogados, Adriano Magno de Oliveira e Alício Garcez Chaves, é feita de forma "voluntária".

Em entrevista recente ao Campo Grande News, Odilon de Oliveira garantiu que conhece o trabalho do policial federal “há décadas” e que tem “certeza de sua inocência”.

Assis abriu aos promotores do Gaeco que foi da equipe de escolta do juiz aposentado por diversas oportunidades, inclusive durante as eleições de 2018, quando Odilon de Oliveira disputou o governo de Mato Grosso do Sul e perdeu para Reinaldo Azambuja no segundo turno. O policial conta que se aproximou da família Name durante a campanha.

Odilon, como o hoje deputado estadual Jamilson Name, concorreu ao governo pelo PDT. Everaldo Assis narra que acompanhava o juiz aposentado em encontros corriqueiros na casa da família Name.

Entre convites para comer galinha caipira ou participar de churrascos, o policial federal teria desenvolvido “empatia muito grande” com o parlamentar e sua mãe, Tereza Name, “uma grande mulher”, segundo ele.

Confira este trecho do depoimento:

O depoimento dura 20 minutos e termina com provocação do Gaeco sobre o envolvimento da família Name em execuções. Segundo as investigações, a organização criminosa comandada por Jamil e seu filho “Jamilzinho” seria responsável por pelo menos oito assassinatos em uma década.

“Nunca vi de homicídios. O que eu ouvi falar também é que eles seriam donos do jogo do bicho”, responde Everaldo Assis. “A polícia tem que investigar caso a caso, se for o caso juntar tudo e sarrafear”, finaliza.

Veja o último trecho do depoimento do policial federal:

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