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Capital

Salva pela coragem de grávida, família vive "milagre" e a dor de perder tudo

Flávia Lima | 16/04/2015 14:01
Severino mostra o que restou da bicicleta motorizada que ganhou do patrão. (Foto:Alcides Neto)
Severino mostra o que restou da bicicleta motorizada que ganhou do patrão. (Foto:Alcides Neto)
Roupas e móveis formaram um entulho no quarto onde começou o fogo. (Foto:Alcides Neto)
Roupas e móveis formaram um entulho no quarto onde começou o fogo. (Foto:Alcides Neto)

“Estou totalmente sem rumo”. A frase define o sentimento da família do vigilante Severino Duarte, 65, que na noite desta quarta-feira perdeu o pouco que tinha no incêndio que destruiu completamente a casa alugada no Parque dos Laranjais onde ele, a mulher e os cinco filhos moravam há quatro anos.

Desolado, Severino voltou na manhã desta quinta-feira (16) para ver se algum objeto ainda poderia ser aproveitado ou recuperado. Entre os pertences, ele mostra o que sobrou de uma bicicleta motorizada que ele ganhou ano passado de um ex-patrão. “Ele sempre prometeu que ia me dar uma dessas para eu não precisar mais pegar ônibus. Agora não sobrou nada”, lamenta.

Além da pequena moto, bicicletas das crianças, roupas móveis e eletrodomésticos, alguns comprados recentemente, foram consumidos pelo fogo, que começou no quarto das crianças, por volta das 21 horas. Ainda tentando entender a fatalidade, a dona-de-casa Diana Guibo, 39, esposa de Severino, conta que não acredita que restou apenas a roupa que a família usava na hora do acidente.

O pouco que restou cabe agora em duas caixas de papelão. Enquanto conversava com a equipe de reportagem, Diana tentava fazer uma triagem entre os produtos de higiene pessoal, alguns estojos de plástico, documentos e uma Bíblia chamuscada. “Não dá para aproveitar nada, nem nosso documentos pessoais escaparam”, afirma.

“Não consigo nem pensar. Hoje um dos meninos tinha médico, que demorei para marcar, mas tive que avisar que não ia porque minha cabeça está girando”, ressalta. Da casa de cinco peças também não sobrou quase nada, apenas a estrutura externa. Tudo se transformou em um grande entulho de objetos retorcidos.

Mesmo vendo a tristeza dos pais, as crianças pareciam não ter assimilado a gravidade do ocorrido e tentavam contar como o fogo começou. Davi, o mais velho, diz que já estava dormindo quando dois irmãos que estavam na sala viram o foco do incêndio em uma das paredes do quarto. “Eles vieram correndo me acordar, mas já não dava para sair pela porta”, lembra.

Ele dormia com mais um irmão, enquanto o caçula estava no quarto da mãe, que também dormia. “Não ouvi nada. Quando vi o fogo já estava alto e não tinha para onde ir”, conta Diana, que acredita que o fogo pode ter começado em uma tomada.

No detalhe, a Bíblia do filho Davi que Diana encontrou apenas chamuscada pelo fogo.  (Foto:Alcides Neto)
No detalhe, a Bíblia do filho Davi que Diana encontrou apenas chamuscada pelo fogo. (Foto:Alcides Neto)
Diana mostra os documentos perdidos no incêndio. (Foto:Alcides Neto)
Diana mostra os documentos perdidos no incêndio. (Foto:Alcides Neto)

Anjos da guarda - A coragem dos vizinhos que moram ao lado da casa salvou a família de uma tragédia maior. Mesmo grávida de cinco meses, a dona-de-casa Ana Cláudia dos Santos pulou o muro e saiu em socorro das crianças. Mãe de duas meninas, uma de sete e outra de cinco anos, ela diz que não pensou duas vezes para socorrer a família. “Eram seis vidas ali. Não dava para não fazer nada”, ressalta.

Ana Cláudia teve ajuda do marido, que conseguiu arrancar a grade da janela do quarto para tirar as crianças e Diana, que estavam em pânico e choravam muito. Quando os bombeiros chegaram, já não havia mais nada a ser feito.

Severino conta que mal havia chegado no trabalho quando recebeu a ligação dos vizinhos informando sobre o incêndio. Durante o trajeto da volta, ele conta que temia apenas pela vida da família. Os cinco filhos do casal tem idades entre três e 15 anos. “O menorzinho tem problema (síndrome de down) e eu tinha medo que ele ficasse preso”, diz.

O vigia conta que a proprietária do imóvel esteve no local e disse que iria tentar ajudar a família com alguns pertences. Ela tem outras casas na rua, mas Severino diz que não tem como mudar com a família. “Como vamos ficar em um lugar sem móveis, sem eletrodomésticos, não tem como eu comprar tudo de uma vez”, diz. A única renda da família é o salário mínimo, de R$ 788,00, que Severino recebe no restaurante onde trabalha à noite, como segurança. Desse valor, R$350,00 eram destinados ao aluguel.

Diana não pode trabalhar, já que precisa ficar com as crianças, que agora nem o uniforme da escola tem. No varal, algumas peças sujas pela fumaça, deverão ter o uso revezado entre as crianças. “É o que sobrou, vamos ter que usar do jeito que der”, diz Severino. De todos os pertences perdidos, Davi revela que ficou triste ao perder as roupas compradas pelo pai com sacrifício. Tímido, ele conta que também faz um curso de informática desde o ano passado, mas não sobrou nada do material didático.

Por enquanto, certo mesmo é a solidariedade dos vizinhos que socorreram a família e agora divide com eles o pouco que tem. Ana Cláudia tranquilizou o casal e disse que eles podem ficar na casa, que é mais espaçosa, mas igualmente precária, o tempo que for necessário. “Temos que ajudar porque isso poderia ter acontecido comigo e minhas filhas”, finaliza.

Quem tiver interesse em ajudar a família pode entrar em contato pelo telefone 9185 1386 (Severino).

Ana Cláudia (esq.) com a família que ela ajudou a salvar. (Foto:Simão Nogueira)
Ana Cláudia (esq.) com a família que ela ajudou a salvar. (Foto:Simão Nogueira)
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