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Capital

Sem creche nas férias, mães deixam empregos ou se socorrem nas avós

Lidiane Kober | 03/01/2014 18:45
Elecir transformou uma dificuldade em uma nova profissão e agora socorre mães que não tem onde deixar os filhos nas férias (Fotos: Marcos Ermínio)
Elecir transformou uma dificuldade em uma nova profissão e agora socorre mães que não tem onde deixar os filhos nas férias (Fotos: Marcos Ermínio)

Sem creche no período de férias, pais se mobilizam para escapar da dificuldade e garantir segurança e entretenimento aos filhos. Alguns são obrigados a deixar o emprego, outros se socorrem em familiares e tem gente que, na dificuldade, usa a criatividade e descobre uma nova profissão.

É caso de Elecir Ângela Scariot, 39 anos. Até o início do ano passado, ela trabalhava em uma loja de joias, mas precisou abandonar o emprego para cuidar de seu filho, de quatro anos. Na época, o menino foi obrigado a trocar de Ceinf (Centro de Educação Infantil). Na nova creche, o expediente encerrava às 15h50.

“No antigo, as atividades terminavam às 17h e o meu marido conseguia pegar o meu filho, com a troca, precisei deixar o trabalho para dar tempo de pegá-lo”, relatou. A mudança, no entanto, acabou alterando a vida de Elecir para melhor.

“Um certo dia, uma mãe me confidenciou a dificuldade de pegar sua filha na creche, então, me ofereci para ajudá-la, quando cheguei em casa pensei em transformar isso em um novo trabalho”, contou. No dia seguinte, Elecir procurou a diretora do Ceinf e relatou sua ideia de pegar as crianças e cuidá-las até o horário dos pais saírem do trabalho.

“A diretora me apoiou. No início, foi difícil, porque as mães ficaram desconfiadas, mas, com o tempo, de boca em boca, se espalhou que as crianças eram bem cuidadas”, disse. Assim, 2013 fechou com 14 crianças de 1,5 a 7 anos nãos mãos de Elecir. A maioria fica com ela das 15h50 até às 18h45. “A mãe do João Pedro, de 7 anos, é professora de libra, então, fico com ele até às 10h30”, completou.

Elecir se sente realizada cuidando as crianças
Elecir se sente realizada cuidando as crianças

Nas férias da creche, Elecir continua cuidando de quatro crianças. “A maioria dos pais se programou para ficar com os filhos no período, mas quatro não conseguiram tirar férias e continuo com as crianças”, relatou. Para cuidá-los o dia inteiro, ela cobra R$ 300. No período das aulas, o valor é de R$ 180.

“Busco as crianças na creche, sirvo lanche às 17h e entrego todas de banho tomado”, destacou. “Adoro crianças e estou muito feliz”, acrescentou. Quem às vezes fica com um pouco de ciúmes é o filho de Elecir, hoje com 5 anos. “Ninguém me ama nessa casa”, diz, em algumas ocasiões, o menino à mãe. “Daí o encho de carinho e digo o quanto o amo”, finalizou.

Avó maezona – Perto de ganhar o segundo filho, a consultora de vendas Camila Fontoura Paim, 32 anos, é outra que enfrenta dificuldades nas férias escolares. Ela e o marido trabalham e se socorrem a familiares para escapar das adversidades. “A minha sorte é que tenho uma família para me amparar”, destacou.

A jovem se refere a mãe, Vera Lucia Fontoura Rosa, 62 anos. A dona de casa cuida do filho de Camila, Cauã Ricardo, 3 anos, e da outra neta, Emylle, também de três anos. Ao mesmo tempo que cuida dos netos, ela comanda o fogão e mantém a casa limpa para a família. “Não tem outro jeito, preciso dar conta”, frisou. Para garantir ordem na casa, ela programa tudo e planeja a hora do banho, do almoço e do sono.

Prestes a ganhar o 2º filho, Camila conta com a ajuda da mãe para cuidar de Cauã nas férias
Prestes a ganhar o 2º filho, Camila conta com a ajuda da mãe para cuidar de Cauã nas férias

A sete dias do nascimento de Carolina, Camila confessa preocupação com o futuro. “Sei como é difícil conseguir vaga nas creches e conheço a história de muitas mães que precisaram deixar o trabalho para cuidar dos filhos”, comentou. Atualmente, 14 mil crianças estão matriculadas nos Ceinfs de Campo Grande, mas estimativas indicam déficit de cerca de 10 mil vagas.

Uma alternativa em discussão – Para tirar famílias do sufoco, a prefeitura planeja colocar, em janeiro de 2015, em prática o “Projeto Férias”, aprovado no final de 2011 pela Câmara Municipal. Pela proposta, os Ceinfs ficariam abertos no período de recesso para atender crianças, filhas de pais que comprovarem estar trabalhando.

Titular da Secretaria de Assistência Social (SAS), a vereadora Thais Helena explicou que a ideia não saiu do papel antes por falta de profissionais para atender as crianças. “No ano passado, foi aprovada emenda na Câmara que autoriza a contratação de pessoal”, informou. “Neste ano, vamos planejar para, em janeiro de 2015, ter condições de atender essa demanda”, completou.

Primeiro, será feito planejamento orçamentário para contratar profissionais. Ao mesmo tempo, a SAS fará levantamento entre os pais a fim de constatar a demanda do projeto. Outra necessidade é definir uma programação para convencer membros do Conselho de Educação, contrários a atividades nas férias.

“Muitos são contra por avaliarem que as crianças precisam de férias, então, estamos desenvolvendo uma programação especial, com atividades envolvendo todas as secretarias para garantir opções de esporte, cultura, meio ambiente e empreendedoras às crianças”, finalizou Thais Helena.

Cauã fica sob os cuidados da avó Vera Lucia, que também fica de olho em outra neta e ainda dá conta de comandar o fogão e deixar a casa em ordem
Cauã fica sob os cuidados da avó Vera Lucia, que também fica de olho em outra neta e ainda dá conta de comandar o fogão e deixar a casa em ordem
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