Sem “provas”, Corumbazinho ganha liberdade por morte em cemitério clandestino
Apesar disso, o investigado permaneceu preso, já que foi flagrado com porções de cocaína em setembro
Com o fim do prazo da prisão temporária e sem provas “concretas” sobre a autoria das mortes dos homens enterrados em um brejo no Bairro Santo Eugênio, Josyel Aparecido Lemos da Silva, o “Corumbazinho” de 24 anos, ganhou a “liberdade” no processo que investiga os crimes do cemitério clandestino.
Josyel e a ex-mulher foram presos em 28 de setembro por policiais da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio). Na época, o juiz Aluízio dos Santos Pereira emitiu mandados de prisão temporária, que possuem prazo de 30 dias, como medida para garantir a apuração das mortes de Jhon Wellington Maciel dos Santos, conhecido como “Jhony Bala” de 27 anos, e de um homem ainda desconhecido.
Os corpos dos dois foram encontrados pela delegacia especializada em uma área de brejo do Bairro Santo Eugênio e todos os indícios apontam que “Corumbazinho” é o autor de ambos os homicídios. Dono de uma extensa ficha criminal, já havia matado e abandonado a vítima na mesma região, a poucos metros do local em que as outras duas foram achadas.
Meses antes, “Corumbazinho” foi apontado como mandante do assassinato de João Vitor Paixão Lopes, de 17 anos, encontrado às margens do Córrego Bálsamo em junho do ano passado. No dia 8 daquele mês, atraiu o adolescente e ordenou que o pai, Lauro Antônio da Silva, o matasse a tiros.
Com as investigações, a polícia levantou que os motivos da morte de João Vitor eram os mesmo para a execução de Jhon Wellington: ciúmes da ex-companheira Vanessa Leandro Pereira de Lima, de 23 anos. O relacionamento, segundo a polícia, era marcado pelo controle doentio, pela desconfiança do rapaz e violência excessiva.
Por isso, o pedido de prisão foi feito em nome dos dois. Durante o tempo em que ficaram detidos, a equipe da especializada continuou as investigações. Ligações e mensagens enviados pelo suspeito foram acessadas e confissões de “assassinatos” encontradas, mas nenhuma com os nomes das vítimas retiradas do cemitério clandestino.
Até o momento também não há confirmação da identidade da segunda vítima resgatada do brejo. Sem ter provas concretas que justificassem a permanência de “Corumbazinho” na prisão pelos dois homicídios, o delegado Carlos Delano assinou sua liberdade em 27 de outubro. Apesar disso, o investigado permaneceu preso.
No dia em que foi capturado pelos investigadores, Josyel foi flagrado com porções de cocaína e por isso também foi preso. Em audiência de custódia teve a prisão preventiva decretada e por esse processo continua na cadeia. Ainda assim, não deixou de ser investigado pelos dois homicídios.
De volta ao júri – Apesar da “falta de provas” em relação aos homicídios de “Jhony Bala” e da vítima ainda sem identidade, a polícia encontrou informações que podem ajudar a mudar o destino do julgamento sobre a morte de João Vitor Paixão Lopes, de 17 anos.
Apontado como mandante do crime, “Corumbazinho”, o pai dele, Lauro Antônio da Silva e o comparsa deles, Brenno Gonçalves Rodrigues, foram presos pelo crime, mas ganharam a liberdade em fevereiro deste ano, após análise pela 1ª Vara do Tribunal do Júri.
Na fase judicial, após as audiências de instrução e julgamento, o juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida rejeitou a denúncia do trio, por considerar que não havia provas suficientes de que eles mataram o adolescente. Com a decisão, eles sequer foram julgados pelo assassinato de João Vitor e saíram “absolvidos” da prisão.
O único que permaneceu preso foi Brenno, que apesar de não ser apontado autor da morte, foi condenado por porte ilegal de arma, já que um revólver calibre 32 foi encontrado com ele nas investigações. Agora, com novos indícios do crime encontrados pela polícia, é possível que o caso seja reaberto e desta vez, “Corumbazinho” condenado.
Cemitério – A investigação sobre a existência de cemitério clandestino em área de brejo começou em julho deste ano. Análise preliminar feita no IMOL (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) apontou que a primeira ossada no local é de uma vítima é do sexo masculino. A investigação aponta ainda que a vítima pode ter sido morta a golpes de pauladas ou pedradas.
Segundo Delano, em entrevista à época, um “detector de cadáver”, equipamento criado por perito de Mato Grosso do Sul, apontou o local exato onde os restos mortais estavam e também indicou a presença de outros em dois pontos, um deles, onde foi localizado o cadáver de Jhon Wellington, em avançado estado de decomposição, uma semana depois da primeira descoberta.
Jhon Bala foi visto pela última vez em 5 de maio, quando saiu de casa ao receber uma ligação. Foi morto com vários tiros na cabeça ao ser sentenciado pelo “Tribunal do Crime” da facção e teve o corpo enterrado pelos assassinos. Para a polícia, Josyel foi quem cumpriu a ordem de execução do grupo paulista.
Desde os 15 anos, “Corumbazinho” acumula passagens pela polícia. O primeiro registro é de uma contravenção penal em 2012. Na época, ainda morava na cidade de Corumbá, o que rendeu o apelido. A partir daí, a frequência com que se envolvia em crimes só aumentou.
Crimes de ameaça, roubo, tráfico de drogas, violência doméstica, posse ilegal de arma, dano e homicídio marcam a vida do rapaz. Em 2016, quando tinha 19 anos, foi personagem de um dos episódios de violência e vandalismo ordenados pelo PCC em Campo Grande: o ataque a três ônibus como retaliação ao curso de incursão rápida em presídios da Capital.