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Capital

Sem recursos, maternidade pode fechar metade dos leitos de UTI neonatal

Nesta sexta-feira, a Sesau informou que a situação é discutida e que não há indicativo de fechamento

Aline dos Santos | 12/06/2020 13:00
Maternidade Cândido Mariano tem quase metade dos leitos de UTI neonatal da rede pública de Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)
Maternidade Cândido Mariano tem quase metade dos leitos de UTI neonatal da rede pública de Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)

Mais uma vez em dificuldades financeiras, a Maternidade Cândido Mariano pode fechar metade dos leitos de UTI neonatal (Unidade de Terapia Intensiva) que atende pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Dos 20 leitos  destinados à rede pública, dez estão em perigo. Nesta sexta-feira, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que a situação é discutida e que não há  indicativo de fechar.

“No fim do mês acaba o contrato. A UTI é muito cara e precisamos de mais dinheiro para dar conta de manter os leitos abertos. Precisamos de um financiamento realístico no SUS. Por mês, fecha em cerca de R$ 400 mil negativos”, afirma a médica Maria Claudia Mourão Santos Rossetti, responsável técnica pela UTI da maternidade.

Ela lembra que os leitos foram conseguidos mediante muita dificuldade e num cenário em que ocorriam óbitos por falta de vagas para atendimento especializado. “A gente fica muito triste [com o fechamento] e não quer bater de frente com o município. Mas sensibilizar para que entendam que precisam aumentar o aporte de dinheiro”, afirma Maria Cláudia.

Os dez leitos com risco de fechar ficam na UTI 1 do hospital e têm financiamento da prefeitura, Estado e União, mas a prefeitura é a responsável pelo maior valor.

O hospital tem outras duas alas de unidade intensiva, sendo uma com dez leitos da rede pública e a outra com seis leitos para convênios médicos. Neste cenário, a maternidade, com seus 20 leitos SUS, reponde por quase metade das vagas disponíveis para os recém-nascidos na rede pública, que chega ao total de 44.

O Campo Grande News apurou que uma particularidade da UTI neonatal 1 é que somente médicos concursados da Sesau podem trabalhar, mas o quadro de profissionais foi reduzido de sete para cinco após aposentadorias. A solução simples seria remanejar profissionais, mas os valores pagos não atraem concursado que recebe remuneração maior por plantões em outros hospitais.

Desta forma, o pedido é que a prefeitura repasse mais verbas para a maternidade, que usaria o dinheiro para manter toda a operação da UTI, incluindo o pagamento de profissionais e insumos.

Estrutura de UTI neonatal é determinante para sobrevivência de prematuros. (Foto: Arquivo)
Estrutura de UTI neonatal é determinante para sobrevivência de prematuros. (Foto: Arquivo)

Ainda conforme apurado pela reportagem, os salários dos médicos, referentes ao mês de abril, deveriam ter sido depositados em 25 de maio, mas o valor ainda não foi pago neste 12 de junho.  O Campo Grande News solicitou informações à direção da maternidade sobre o fechamento dos leitos e salários dos médicos, mas não obteve retorno até a publicação da matéria.

A Sesau informa que houve reunião na quarta-feira  para resolver a questão contratual, inclusive com intermédio do Ministério Público. Um eventual reajuste ainda está em debate. O contrato termina em 30 de junho.

No começo do mês, a direção da Cândido Mariano enviou ofício à prefeitura de Campo Grande informando que vai honrar o contrato, mesmo em situação extremamente deficitária, até o término da vigência.

Repercussão – Presidente do Sinmed MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul), Marcelo Santana Silveira, afirma que a instituição vai agir em busca de solução. “Vamos agir pesadamente contra o fechamento de leitos, que são extremamente importantes. Não pode fechar o que já não tem. Vai ser um impacto brutal”, afirma. O sindicato também vai procurar a administração da maternidade para discutir o atraso salarial.

O risco de perder leitos de UTI neonatal, que atendem Campo Grande e o Estado, deixou em alerta a organização não governamental Prematuridade (Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros), natural de Porto Alegre (RS), mas com representação em Mato Grosso do Sul.

“As crianças precisam de todo aparelhamento, senão não sobrevivem. O fechamento de leitos vai colocá-las em risco”, afirma Danielle Schuman. A ong atua  para garantia de politicas públicas voltadas às crianças e suas famílias.

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