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Capital

Sinpol defende auxílio-saúde e amplia apoio psicológico a policiais

Saúde mental e déficit de efetivo dominam agenda da categoria para 2026

Conteúdo de Marca - Sinpol-MS | 19/11/2025 06:30

Em entrevista ao podcast do Campo Grande News, o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Mato Grosso do Sul (Sinpol-MS), José Nascimento Sobrinho, detalhou os principais desafios da categoria para 2026: implantação do auxílio-saúde previsto em lei federal, reestruturação da carreira, reposição do efetivo e fortalecimento das ações de cuidado com a saúde mental dos policiais.

“Hoje nós estamos em 16º lugar no ranking nacional de salários. Nosso foco principal é a valorização”, resume o presidente, que está no comando do sindicato desde janeiro deste ano e completa, em breve, 20 anos de carreira na Polícia Civil.

Segundo Sobrinho, a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul trabalha hoje com déficit de cerca de 40% do efetivo. A expectativa é que o concurso em andamento reduza parcialmente o problema com a entrada de aproximadamente 400 novos policiais.

“Foi um concurso muito difícil, muito concorrido e muito direcionado para a área de TI, porque a Polícia Civil está se adequando aos crimes virtuais”, explica. Ele destaca que a prova atraiu candidatos altamente qualificados, o que, na avaliação do sindicato, é essencial para enfrentar o avanço dos crimes cibernéticos.

Apesar do reforço previsto, ele lembra que a falta de policiais causa sobrecarga nas delegacias. “Na nossa atividade não tem como chamar um substituto. Quando falta um, a equipe que fica é a mesma e acaba sobrecarregada.”

Auxílio-saúde travado pelo contingenciamento

A principal pauta de 2025, que seguirá em 2026, é a implantação do auxílio-saúde previsto na Lei Orgânica Nacional da Polícia Civil, em vigor desde 2023. O benefício já está regulamentado em nível federal, mas ainda não foi implementado em Mato Grosso do Sul.

“Começamos esse trabalho em 16 de janeiro e, em fevereiro, já estávamos em diálogo com o governo do Estado. É um auxílio que vem justamente para amenizar um problema muito grande de saúde mental dos policiais civis”, afirma Sobrinho.

De acordo com ele, o auxílio teria impacto direto no custeio de medicamentos e tratamentos, especialmente para casos de depressão e transtornos de ansiedade. As negociações, porém, foram interrompidas com o decreto de contingenciamento de despesas, que impede aumento de gastos até 31 de dezembro.

“Mesmo assim, o diálogo continua aberto com a Secretaria de Administração. Estamos discutindo valores e insistindo para que a implementação ocorra o mais breve possível no ano que vem”, reforça.

Núcleo de psicologia, capelania e assistência social

Enquanto o auxílio-saúde não sai do papel, o sindicato ampliou a estrutura interna de apoio aos policiais. O Sinpol montou um núcleo de psicologia e assistência social e contratou duas psicólogas para atendimento em tempo integral dos filiados, tanto presencialmente quanto on-line.

“Hoje atendemos mais de 90 policiais. O feedback tem sido muito positivo, com muitos elogios ao trabalho”, relata o presidente.

O núcleo é composto por duas psicólogas; assistência social, com a profissional Bernadete, que já atua há anos no sindicato e capelania voluntária, com o pastor e policial civil Sandin.

A equipe também vai às delegacias para fazer palestras e conscientizar sobre a importância de buscar ajuda antes que o quadro se agrave.

“A gente fala muito da ‘síndrome do super-homem’, de achar que não pode mostrar fragilidade. Mas o policial precisa cuidar da sua saúde mental. O ideal seria que todo policial fizesse terapia”, afirma Nascimento.

Ele lembra que muitos colegas que iniciaram tratamento já receberam alta e relatam mudanças significativas no dia a dia. “Policiais, procurem nosso núcleo. Está à disposição, sem custo algum para os filiados ao Sinpol.”

Projetos sociais com crianças e integração com a comunidade

Outra frente apresentada pelo presidente é o uso da estrutura de lazer do sindicato para projetos sociais com crianças e adolescentes. A sede do Sinpol, que conta com três campos de futebol, piscina e quadra de areia, virou ponto de atividades esportivas gratuitas para a comunidade e filhos de policiais.

“Nos deixava incomodados ver aquela área ociosa durante a semana. Então resolvemos nos aproximar da comunidade”, conta.

O sindicato firmou parceria com uma escola do bairro Zé Abrão e hoje atende cerca de 150 crianças em três modalidades: futebol, judô e vôlei de areia.

As atividades são coordenadas por policiais civis, como o agente Ferreira, da Defurv, que é formado em Educação Física e organiza as diretrizes do projeto.

“Ali a gente trabalha pilares como família, disciplina, hierarquia e também acompanha as notas das crianças. A continuidade no projeto depende do desempenho escolar”, explica Nascimento.

Além da Capital, o Sinpol também apoia iniciativas semelhantes em Paranaíba, Corumbá e, em breve, em Coxim.

Crimes virtuais e formação constante

Sobre o crescimento dos crimes virtuais, o presidente destaca que a Polícia Civil tem buscado especialização contínua. Ele cita o exemplo de dois policiais da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Anderson e Maidana, que fizeram cursos fora do Estado e hoje replicam o conhecimento para outros colegas.

“O crime virtual é muito dinâmico. A gente tem que estar se adaptando o tempo todo. Muitos colegas pagam do próprio bolso para se atualizar e depois repassam o que aprendem. Isso é nobre e mostra o compromisso com a instituição”, afirma.

Atendimento jurídico: 450 ações em andamento

O Sinpol mantém ainda uma frente robusta de atendimento jurídico aos filiados, nas áreas penal, administrativa e cível.

“Hoje temos aproximadamente 450 ações em andamento. Atendemos processos criminais, administrativos, sindicâncias e também demandas cíveis, como questões de família e contratos”, explica Nascimento.

O serviço é prestado por dois escritórios que atendem o sindicato, sob coordenação do diretor jurídico Éder. O acompanhamento dos processos vai da corregedoria até o desfecho judicial.

Neutralidade política e ano eleitoral de 2026

Com as eleições de 2026 no horizonte, o presidente defende a neutralidade partidária da diretoria do sindicato e a abertura do espaço para debates com todos os candidatos interessados em dialogar com a categoria.

“Assumimos o compromisso de nos manter neutros. Nenhum diretor é filiado a partido político. Acreditamos que o sindicato deve receber e dialogar com todos”, afirma.

A ideia é utilizar o salão do sindicato para promover encontros e debates, convidando os filiados para ouvir propostas e discutir temas de interesse da Polícia Civil. “A conscientização política é muito importante para que o próprio policial faça sua escolha.”

Em 2025 e 2026, outra discussão central será a adaptação da carreira à Lei Orgânica Nacional, que prevê a junção das atribuições de escrivães e investigadores em um novo cargo: oficial investigador de polícia.

“Haverá muitas atribuições acumuladas numa mesma função. Isso exige uma reestruturação de carreira”, argumenta Nascimento.

O Sinpol já criou uma comissão interna para debater o tema e promete pressionar o governo estadual por mudanças estruturais que acompanhem o aumento de responsabilidades.

“Vai praticamente dobrar o número de atribuições. Então é necessário dar uma nova roupagem à carreira. Vamos ter um ano muito importante de discussões e vamos levar isso à classe política e ao governador.”

De agente em 2005 à presidência do sindicato

José Nascimento Sobrinho ingressou na Polícia Civil na turma de 2005. Ao longo de quase duas décadas, passou por diferentes setores: Delegacia de Crimes Ambientais e Atendimento ao Turista; Departamento de Curso e Apoio Policial (Drap), na área de armamento e munição, onde também atuou como instrutor na academia; Delegacia do Consumidor (Decom); Superintendência de Inteligência da Secretaria de Segurança; Coordenadoria de Engenharia e Projetos, onde utilizou sua formação em Engenharia Civil para colaborar em obras e melhorias estruturais.

Antes de assumir a presidência, foi diretor jurídico do Sinpol por três anos. Sobre o primeiro ano no comando do sindicato, ele admite que o maior desafio foi reconstruir pontes com o governo após um período de enfrentamento mais duro.

“A gente teve que reformular a postura e mostrar que acredita no diálogo como melhor caminho. Só não avançamos mais por causa do contingenciamento, mas esperamos que, passado esse momento, venha essa benção que é o auxílio-saúde, tão merecido pelos policiais civis”, conclui.

Para 2026, a promessa do presidente é manter a pressão pela valorização salarial, pela implantação do auxílio-saúde e pela reestruturação da carreira, sem perder de vista um ponto que ele repete ao longo da conversa: “O policial precisa cuidar da saúde mental, e o sindicato tem que ser parte ativa nesse cuidado", finaliza.