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Capital

TJMS libera “pílula do câncer” para paciente que busca “última esperança”

Decisão é comemorada pelo esposo, com quem divide a vida há 62 anos: “Ver se salva a minha velha”

Aline dos Santos | 02/03/2020 11:31
TJMS libera “pílula do câncer” para paciente que busca “última esperança”
Tribunal de Justiça concedeu alvará para paciente comprar substância experimental. (Foto: Marcos Maluf)

O TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) autorizou que uma paciente de 90 anos, em estágio terminal, adquira a “pílula do câncer”, nome fantasia da substância fosfoetanolamina sintética.

O debate sobre o uso da substância no tratamento de câncer ganhou as ruas, tribunais e Poder Legislativo em 2016. Mas naquele mesmo ano, o STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu a Lei 13.269/2016, sobre produção e uso da pílula do câncer.

No entanto, no último dia 27 de fevereiro, a 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça derrubou decisão da 12ª Vara Cível de Campo Grande e permitiu que paciente compre a substância experimental.

“Observa-se declaração médica no sentido de que os tratamentos convencionais não são mais capazes de surtir efeito que não seja meramente paliativo, encontrando-se em perspectiva de morte em um curto espaço de tempo. Recorrer à fosfoetanolamina é, aqui, a última tentativa de salvar a sua vida”, afirmou o desembargador Dorival Renato Pavan, relator do processo.

A tese de que a substância é a última esperança da paciente foi acolhida pelos desembargadores Amaury da Silva Kuklinski e Odemilson Roberto Castro Fassa, resultando em decisão unânime.

Na apelação, o advogado Carlos Alexandre da Silva Rodrigues destacou que a decisão do Supremo proibiu a comercialização, mas não a aquisição no caso específico da paciente. A compra será de laboratório e não repasse pela USP (Universidade de São Paulo), prática que se tornou comum em 2016.

TJMS libera “pílula do câncer” para paciente que busca “última esperança”
Medicamento foi desenvolvido por um químico da USP

“Quando se está condenado à morte, qualquer eventual efeito colateral por maior que seja, se torna um bônus, pois qualquer justificativa para deixar de fornecer o medicamento, se traveste em uma sentença de morte!!!”, afirmou o advogado no pedido ao Tribunal de Justiça.

A defesa destacou que houve decisões favoráveis em São Paulo, Santa Catarina, Rondônia e Paraíba. Em Mato Grosso do Sul, a compra também foi autorizada em ações nas cidades de Maracaju e Dourados.

A paciente de 90 anos foi diagnosticada com câncer no esôfago, com metástase pulmonares e de pâncreas. Conforme laudo médico, a mulher é considerada paciente terminal. No processo, devido às condições de saúde, ela é representada pelo esposo.

Conforme a decisão, a fosfoetanolamina sintética deve ser fornecida por laboratório. O pedido é de 1080 cápsulas ou doses. A cápsula tem custo unitário de R$ 3,50, enquanto a dose em pó tem valor de R$ 3.

O MP/MS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) foi contra a expedição de alvará judicial para a compra. A promotoria apontou que o pedido foi negado em primeira instância porque a substância está em fase de testes, sem comercialização permitida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

História de amor – Longe de leis, Osório Xavier, 90 anos, aposentado da Marinha do Brasil, comemora a possibilidade de novo tratamento para a esposa Gonçalina Alves Xavier.

“Tivemos uma grande notícia. Agora, estamos aguardando a o alvará e a orientação de como comprar. Ver se salva a minha velha”, diz.

Ele conta que a esposa está em casa, onde recebe atendimento médico. “São 62 anos de casados graça a Deus, um casamento bem-vivido”, diz. A idade avançada não limita a memória e ele viaja no tempo para lembrar a história do casal, que começou em Corumbá, durante a festa de Santa Cecília, padroeira dos músicos. “A sobrinha dela era a rainha da música. Veio namoro, casamento, sete filhos e sete netos", diz Osório. 

Pílula - A fosfoetanolamina foi sintetizada pela equipe de pesquisadores chefiada por Gilberto Chierice, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, em São Carlos, há mais de 20 anos, e ficou conhecida nas redes sociais como “pílula do câncer”, pela suposta capacidade de destruir tumores malignos.

No dia 15 de janeiro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou a suspensão da Lei da Pílula do Câncer pelo STF. “A Anvisa, por exemplo, não pode protelar por muito tempo a liberação das pautas que interessam à sociedade", afirmou, conforme divulgado pelo UOL.

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