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Capital

Um dia depois do previsto, Exército começa ação de combate à dengue

Natalia Yahn | 16/02/2016 12:28
Equipe da agente de controle de endemias vetoriais, Sueli Gomes, encontrou uma "banheira" cheia de larvas do mosquito Aedes aegypti. (Foto: Fernando Antunes)
Equipe da agente de controle de endemias vetoriais, Sueli Gomes, encontrou uma "banheira" cheia de larvas do mosquito Aedes aegypti. (Foto: Fernando Antunes)

Com um dia de atraso, os bairros Guanandi, Jacy, Jardim Leblon e São Conrado, em Campo Grande, foram os primeiros a receber auxílio do Exército para combater os focos do mosquito Aedes aegypti – transmissor da dengue, zika vírus e febre chikungunya.

O trabalho mecânico para eliminação dos criadouros do vetor – que se reproduz em água parada – teve reforço de apenas 90 militares na manhã desta terça-feira (16), que se dividiram em oito equipes. A previsão é de visitar aproximadamente 5 mil imóveis nos quatro bairros até sexta-feira (19), quando termina o mutirão com apoio do Exército.

Em um dos primeiros locais vistoriados agentes e militares se surpreenderam com a quantidade de larvas encontradas. Os focos estavam em uma fábrica de cadeiras, na Avenida Guinter Hans, que servia literalmente como berçário para a proliferação do Aedes.

A fábrica possui um equipamento chamado de “banheira” que opera conectado a duas caixas d'água. A máquina serve para tingir fios de plástico usados para fabricação das cadeiras. A mesma “banheira” por onde passam os fios foi o local onde estavam centenas de larvas do mosquito. Nas caixas d'água também foram encontrados focos.

“Sempre vem agente de saúde aqui e nunca tinha encontrado nada. A gente sempre cuida, mas vamos redobrar a atenção e eliminar a água dos locais onde foram encontradas larvas”, afirmou a proprietária da fábrica, Luciana Lopes, 40 anos.

Para os agentes a explicação dada por ela é comum e na maioria das vezes a “desculpa” logo é desmascarada. “As pessoas dizem de tudo para se explicar. Falam que a garrafa ficou só de um dia para o outro no local, que não tinha água antes e só acumulou por causa da chuva no dia anterior. Mas muitas vezes nem choveu e temos como saber pelo tamanho da larva que o criadouro tem vários dias”, disse a agente Sueli Gomes, 36 anos.

O supervisor de controle de endemias, Wander Ifran, 35 anos, trabalha no combate ao mosquito há nove anos, e a atuação dele para acabar com o vetor se confunde com uma perda. “Um cunhado meu morreu dez anos atrás. Ele tinha só 31 anos, deixou meus sobrinhos pequenos. É muito triste perder uma pessoa da família para um mosquito. E muitas pessoas só tomam atitude de cuidar do seu próprio quintal quando alguém da família fica doente ou morre”, afirma.

A proprietária da fábrica recebeu orientações e prazo para eliminar os focos até o fim da tarde de hoje. "Eu vou voltar para verificar se foi tudo feito certinho. A caixa d'água tem que lavar com bucha e sabão, porque a larva fica até 450 dias viva só aguardando a água", explicou Ifran.

No Bairro Guanandi militares do Exército ajudaram a combater criadouros do Aedes. (Foto: Fernando Antunes)
No Bairro Guanandi militares do Exército ajudaram a combater criadouros do Aedes. (Foto: Fernando Antunes)

Atraso - A ação de “guerra” ao Aedes começou com um dia de atraso, já que a previsão era de que as vistorias domiciliares – realizadas junto com os agentes de controle de endemias – tivessem início ontem (15).

Mas o tenente-coronel Humberto Bortoletto, coordenador da operação, afirma que os trabalhos de combate incluem também o recolhimento de pneus em toda a Capital, serviço que não foi interrompido. “Desde dezembro (de 2015) iniciamos as ações que são realizadas até agora. O serviço de extinção dos criadouros faz parte de uma nova fase das ações”.

O trabalho mecânico do Exército começou dentro dos quartéis, ainda em dezembro do ano passado. A segunda fase das ações foi a atuação no recolhimento de pneus, e a terceira teve início hoje (15) e segue até sexta-feira (19). “Vamos ter a quarta fase com palestras educativas nas escolas”, afirmou o Bortoletto.

A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública) escolheu os quatro bairros para iniciar as ações por apresentarem alto índice de notificações de casos suspeitos, no Guanandi foram 140 notificações em duas semanas. “Como não temos o índice de infestação trabalhamos com as notificações. E nos quatro bairros são muitos casos”, afirmou outro supervisor de controle de endemias, Odenir Cintra.

Os dados utilizados pela prefeitura para monitoramento têm como base apenas as notificações e relatórios feitos pelos agentes, já que o último LIRA (Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti) foi divulgado em novembro e o próximo estudo deve ser feito apenas em março, conforme cronograma do Ministério da Saúde.

Dados - Campo Grande registra 91 novos casos suspeitos de dengue por dia. Em apenas nove dias foram 826 notificações da doença entre 2 e 10 de fevereiro. O boletim epidemiológico da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), divulgado na quarta-feira (10), apontou aumento de 10,7% no número de notificações.

Na semana passada eram 6.876 notificações, mas no boletim divulgado nessa quarta-feira até mesmo os casos de janeiro registrados em janeiro tiveram aumento. Até o dia 2 de fevereiro eram 6.876 casos mas agora passaram para 7.592, além de 111 em fevereiro, com um total de 7.702 notificações este ano.

Os casos de zika vírus também aumentaram, agora são 729 notificações de zika vírus, 701 em janeiro e 28 em fevereiro. Este ano a doença foi confirmada em duas mulheres que estavam grávidas, mas já tiveram bebê. No balanço anterior eram 487 casos. Já a febre chikungunya, que registrou 80 em janeiro, teve apenas uma notificação em fevereiro.

Enquanto as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti – dengue, zika e chikungunya – tem cada vez mais casos registrados em Campo Grande, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) ainda não divulgou o boletim epidemiológico. Os dados deveriam ser publicados na quarta-feira (10), mas por conta do período de carnaval não foram concluídos. A promessa era de que a divulgação seria na sexta-feira (12), o que também não aconteceu.

Em Mato Grosso do Sul o boletim epidemiológico, divulgado na quarta-feira (3), apontou 12.219 casos suspeitos de dengue nas quatro primeiras semanas do ano. O número representa 3.950 novos casos suspeitos em relação ao levantamento anterior, o total é 47,7% maior. Também já supera os dados de 2014, quando foram computados 9.256 casos ao longo do ano.

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