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Capital

Vacina para militares daria para imunizar 80% de motoristas do transporte urbano

Integrantes das Forças Armadas estão na lista de prioridades, mas pessoal do transporte segue de fora

Marta Ferreira e Jhefferson Gamarra | 20/04/2021 15:40
Multidão hoje de manhã no Terminal Hércules Maymone, em Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)
Multidão hoje de manhã no Terminal Hércules Maymone, em Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)

Com as 1,6 mil doses de vacina contra a covid-19 que serão aplicadas em militares, com exclusividade hoje na Capital, seria possível imunizar todos os motoristas do transporte público de Campo Grande com a primeira etapa do esquema e ainda garantir a segunda aplicação para quase 80% deles.

Faltariam, então, 200 unidades de vacina para concluir a imunização na categoria que desde o início da pandemia segue trabalhando no transporte de milhares de passageiros por mês. O problema é que integrantes das Forças Armadas estão no programa de prioridades do governo federal e o pessoal que trabalha carregando o cidadão de ponta a ponta da cidade, não.

Em Campo Grande, são 900 profissionais, divididos em turnos de 7h20. Começam às 4h30 e só param no “corujão”, depois da meia-noite. Há alguns dias, a classe tenta entrar na lista dos prioritários para receber a vacina, ainda sem êxito. Segundo informado pelo sindicato da categoria, todos os dias há “de cinco a seis  positivos”.

Há 15 anos como motorista, Luís Otávio diz que por dia transporta entre 300 e 400 pessoas. "Estão agora com essa conversa que vamos ser vacinados, mas não tenho esperança não", reclama. O colega, Devanilton Nunes, lembra que já são muitos os casos de motoristas contaminados. "Com certeza já era para a gente ter sido vacinado. Meu medo é pegar trabalhando e levar para casa", comenta durante parada no Terminal Hércules Maymone.

Aos 65 anos, Jocelina de Souza já tomou as duas doses e defende o mesmo para os funcionários do transporte. (Foto: Kisie Ainoã)
Aos 65 anos, Jocelina de Souza já tomou as duas doses e defende o mesmo para os funcionários do transporte. (Foto: Kisie Ainoã)

A espera do ônibus, Jocelina de Souza acha "politicagem colocar militares antes na fila da vacinação". Ela já tomou a 2ª dose no sábado e defende o mesmo direito para os motoristas. "Olha o tanto de pessoas que eles transportam por dia", aponta para o embarque no terminal.

Outro usuário, Virgulino Mota, de 67 anos, mora no Noroeste e também vê todos os dias os riscos dos trabalhadores do transporte. "Eles têm contato com muita gente, eles ficam vulneráveis".

Motorista de ônibus com faixa na camisa pedindo imunização contra a covid-19. (Foto: Paulo Francis)
Motorista de ônibus com faixa na camisa pedindo imunização contra a covid-19. (Foto: Paulo Francis)

Durante reunião no dia 16 de abril, houve até ameaça de paralisação dos serviços, o que acabou não se concretizando. Na semana passada, os motoristas passaram a usar tarja nas camisas cobrando a proteção contra o novo coronavírus, a exemplo das manifestações em São Paulo. No estado vizinho, depois de ameaça de greve a partir de hoje, a vacinação dos metroviários foi anunciada para começar em 11 de maio.

Fora do PNI - Indagada sobre o porque os motoristas não são atendidos logo com a imunização, apesar de estarem bastante expostos ao contágio da covid-19, a explicação dada pela prefeitura foi de que é preciso estar no PNI (Programa Nacional de Imunização) para isso, como é o caso de quem atua no Exército e na Força Aérea Brasileira.

Os militares das Forças Armadas foram incluídos pelo Ministério da Saúde dentro do grupo prioritário no Plano Municipal de Imunização (PNI), assim como profissionais de outras forças de segurança e salvamento que já foram contemplados com a vacinação no município”, informa a prefeitura em nota do setor de comunicação.

O texto anota que a última remessa  enviada pelo Ministério da Saúde, vieram doses “carimbadas” para atendimento deste público.  “Cabe ao município fazer a administração do  imunizante conforme recomendação”, acrescenta a prefeitura.

Por fim, é explicado que, à medida em que haja a disponibilização de novas doses, o município poderá discutir a inserção de mais públicos na campanha, desde que haja chancela em âmbito estadual e federal.

O presidente do Consórcio Guaicurus, João Rezende, disse que a empresa entende como legítimo o pedido dos funcionários. Segundo ele, nacionalmente a confederação das empresas que prestam o serviço de transporte público está fazendo gestões para conseguir a imunização. Ainda não houve uma resposta positiva.

Rezende comentou, ainda, que a sinalização de São Paulo de que vai garantir as doses para o pessoal do transporte coletivo em maio pode ser um empurrão para a medida ser adotada nacionalmente.

EducaçãoOs professores também buscam prioridade na vacinação e ainda não há previsão de imunizar a categoria, que depende da vacina para voltar às aulas presenciais na rede pública.

A Educação hoje, somado com administrativos, somam mais de 20 mil profissionais em Campo Grande, da rede municipal, estadual e particular, além de merendeiras, inspetores e outros trabalhadores de escolas. Dessa forma, o que se espera é um “lote fechado” de vacinas para imunizar todos de uma vez, explica o presidente da ACP (Sindicato Campo-grandense dos Profissionais da Educação Pública), Lucilio Nobre.

“Estamos cobrando a prioridade para a nossa categoria. Mas o governo federal tem dificultando a questão da distribuição. Todos estão vendo o prejuízo que tem causado a falta do professor em sala de aula. É insubstituível aula presencial”, diz.

A previsão para os professores é de vacinação só maio, mas sem qualquer calendário divulgado até agora, o que depende de remessas do Ministério da Saúde. O Governo do Estado, por exemplo, já anunciou que as escolas só reabrem depois dos profissionais da Educação 100% imunizados. “Esperamos que até o segundo semestre todos tenham tomado a segunda dose e as escolas voltem”, comenta Lucílio.

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