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Capital

Vacinada, filha perdeu mãe com covid, mas viu vida seguir em gravidez inesperada

Depois de perder a mãe com covid, Regiane descobriu gravidez e hoje foi tomar vacina contra a doença

Paula Maciulevicius Brasil | 21/05/2021 13:19
Vacinada, filha perdeu mãe com covid, mas viu vida seguir em gravidez inesperada
Foto do exame de ultrassom de Regiane que confirmou a gestação. (Foto: Arquivo Pessoal)

Pode ser que criem uma nomenclatura para os bebês que venham nas famílias que se despediram de parentes queridos, levados pela covid. Tal qual é o bebê arco-íris na vida das mães que tiveram uma perda gestacional, a gravidez da confeiteira Regiane Dantas Aguero, de 36 anos, é a esperança de dias melhores.

O terceiro filho veio em meio à despedida. Quando ela jamais poderia imaginar que o atraso na menstruação fosse algo além de todo emocional abalado com a internação da mãe pela covid-19.

Vacinada, filha perdeu mãe com covid, mas viu vida seguir em gravidez inesperada
Dona Genilda ao meio com as quatro filhas. A última da direita é Regiane. (Foto: Arquivo Pessoal)

Sete dias depois da partida dela, dona Genilda Dantas Pereira, de 82 anos, voltou para a filha em um sonho, dizendo que ela poderia parar de chorar, porque Deus tinha lhe contado que Regiane estava grávida. E realmente, durante o velório que só aconteceu porque a família batalhou muito para conseguir dar uma despedida digna à matriarca, Regiane se recorda que sentia muita dor no "pé" da barriga. "Até comentei com uma amiga que estava atrasada a menstruação e ela falou que era o meu emocional abalado", lembra.

No sonho, Regiane se via na rua da casa onde mora há mais de 30 anos e a mãe estava vindo ao seu encontro. "Quando a vi, abracei e chorei muito. Sentia o cheiro dela, ela fazendo carinho nas minhas costas e me pedia para parar de chorar, porque ela estava bem. Ela sorria e vinha muita luz dela, um semblante de paz", reproduz a cena.

Ao dizer que estava com muitas saudades, em sonho Regiane ouviu da mãe que era para ela ficar tranquila. "Deus já me contou da sua gravidez, ela disse. Eu fiquei olhando nos olhos dela sem entender e acordei", descreve.

Na manhã seguinte, Regiane contou ao marido do sonho e eles marcaram médico e foram fazer o exame de sangue. "Fiz em uma sexta-feira e no sábado de manhã, quando busquei o resultado, estava lá um positivo. Corri para uma clínica de ultrassom e lá estava o meu bebê e seus batimentos cardíacos", relata.

Com sete semanas de gestação, Regiane conta que se via chorando e até se culpando. "Só perguntava a Deus por que naquele momento? Por que naquela situação? E se era a hora certa, pois em meio a uma pandemia, será que era certo eu estar grávida? Eu só chorava e me culpava", diz.

Vacinada, filha perdeu mãe com covid, mas viu vida seguir em gravidez inesperada
Última foto em família, tirada em abril, com dona Genilda, Regiane, os filhos Gael e Nathan e o marido Emerson. (Foto: Arquivo Pessoal)

Em parte ali também estava o luto pela perda da mãe. A confeiteira tinha medo de contar para as pessoas e ser julgada como "irresponsável", mas ao revelar aos poucos a gestação, passou a receber tanto carinho que a dor foi dando lugar à luz.

"Me dá uma emoção tão grande, tem o bebê arco íris que vem depois de uma perda gestacional e este bebê está vindo depois da perda de um grande amor da minha vida, que é a minha mãe. Quando uma mãe perde um filho, ela perde a vida, mas quando um filho perde uma mãe, ele perde um pedaço de si. Eu perdi um pedaço de mim", descreve.

Apesar do vazio ainda se fazer presente, Regiane sente ao mesmo tempo um preenchimento. "Não que ele venha substituir a minha mãe, mas ele vem acrescentar na minha vida. E eu acredito que ele venha para ser luz", fala.

Essa crença ficou ainda mais forte depois que o médico falou da data provável do parto, às vésperas do Natal. "Dia 24 de dezembro... Me fez lembrar o nascimento de Jesus, que trouxe vida a nós e cada vez mais ele tem mostrado um significado para a minha vida através deste bebê, dessa gestação que não foi desejada, mas que vem com muita energia", enxerga a mãe.

Vacinada, filha perdeu mãe com covid, mas viu vida seguir em gravidez inesperada
Regiane exibindo o comprovante da vacinação depois de tomar a primeira dose hoje para gestantes. (Foto: Arquivo Pessoal)

Regiane já é mãe de dois meninos, Gael, de 5 anos e Nathan, de 2, e entre vários sentimentos, se dirigiu hoje até o drive-thru da vacinação montado na Cassems para tomar a vacina contra a doença que justamente tirou dona Genilda da família.

"Eu estou tendo a oportunidade que muitos ainda não tiveram e estão vulneráveis a doença, principalmente a minha família, minhas irmãs. Penso muito nelas, mas estou pensando o quanto minha mãe ficaria feliz em saber que, de alguma forma, estamos protegidas. Eu e o bebê", reflete.

Depois da vacina, Regiane resolveu contar ao mundo sobre a gravidez. "Eu sempre amei estar grávida e vejo como uma esperança em meio a dor e um recomeço. Tem um novo significado o gerar. Minha vida hoje será em ser o que a minha mãe nos ensinou", finaliza.

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