Venezuelanos em Campo Grande descartam voltar para casa mesmo se Maduro cair
Para eles, mudança para a Capital representou escapar de anos sem garantia de alimentação, emprego e segurança

Mesmo diante da possibilidade de o presidente Nicolás Maduro ser destituído do poder após nova pressão dos Estados Unidos, venezuelanos que vivem em Campo Grande dizem não enxergar perspectiva de retornar ao país vizinho. Para eles, a mudança para a Capital sul-mato-grossense representou escapar de anos sem garantia de alimentação, emprego e segurança, conforme relataram à reportagem.
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Venezuelanos que vivem em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, afirmam não ter interesse em retornar ao país natal, mesmo diante da possível destituição do presidente Nicolás Maduro após pressão dos Estados Unidos. Para eles, a mudança para o Brasil representou fuga de uma realidade marcada pela falta de alimentos, empregos e segurança. Entre os imigrantes ouvidos, destaca-se o caso de mulheres trans que encontraram no Brasil um ambiente mais acolhedor e seguro para expressar sua identidade de gênero. A situação política na Venezuela se agrava com a presença de navios de guerra americanos próximos à costa venezuelana e declarações do governo dos EUA sobre possíveis intervenções terrestres no país.
Há sete meses vivendo nas ruas de Campo Grande, a eletricista Michelle Ávila, de 27 anos, afirma que não voltaria à Venezuela nem com a queda de Maduro. Em frases misturadas entre português e espanhol, ela conta que morava em uma casa com 12 pessoas, enfrentava insegurança alimentar e estava desempregada. A crise econômica a levou à depressão.
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Na visão dela, “Maduro é um fantoche de Diosdado Cabello”, diz, citando o político que integra o mesmo partido socialista do presidente venezuelano. Michelle conta que encontrou acolhimento no Centro Pop e, depois disso, o esposo também se mudou para Campo Grande.

Outro fator que reforça sua permanência no Brasil é poder usar o nome social e ser reconhecida como mulher trans. “Eu não podia sair com roupas femininas na Venezuela. Sofria preconceito escancarado. Eles são muito fechados. Aqui é bem diferente, há uma certa igualdade de gênero”, afirma.
Para a presidente da Associação Venezuelana de Campo Grande, Mirta Carpio, o país está “aos pedaços”. Morando no Brasil há 17 anos, ela saiu da Venezuela antes mesmo do início do governo Maduro. “Nós não sabemos realmente o que está acontecendo lá. Nossa esperança é que os Estados Unidos entrem, façam essa manobra e atuem verdadeiramente para a população”, disse.
Mirta conta que tinha boa condição de vida na Venezuela, com casa própria e veículos. Em 2015, no auge da crise econômica e social, decidiu vender tudo o que ainda tinha no país e se estabelecer definitivamente no Brasil. “Não me arrependo e não voltaria. Acredito que recomeçar em um país destruído levará muito tempo”, avalia.

A venezuelana Hilary Camila Vera, de 22 anos, chegou a Campo Grande há um mês para se refugiar da situação no país de origem. Antes, passou pelo Peru, pela Colômbia e pelo Equador. “Eu morava com minha mãe e dois irmãos. Só ela trabalhava e, com o tempo, ficou sobrecarregada tentando nos sustentar”, relata.
Segundo ela, a crise piorou a ponto de a mãe perder o emprego. A compra de alimentos voltou a depender do escambo: famílias trocavam entre si o que tinham em maior quantidade. “Trocávamos arroz, feijão. Mas chegou um momento em que só comíamos mandioca”, lembra Hilary.
A venezuelana ainda relata que se sente protegida no Brasil pelo mesmo motivo que Michelle. "Há algumas semanas, eu consegui fazer meu nome social. Em nenhum dos países por onde passei, me senti tão segura quanto aqui. Não voltaria por nada para a Venezuela; lá não tem emprego. Quero construir minha vida aqui", finalizou ela.
Ela conta que se sente protegida no Brasil pelo mesmo motivo que Michelle. “Há algumas semanas, consegui fazer meu nome social. Em nenhum dos países por onde passei me senti tão segura. Não voltaria para a Venezuela por nada; lá não tem emprego. Quero construir minha vida aqui”, afirma.
Na última sexta-feira (5), o governo dos Estados Unidos publicou um documento afirmando que fará cumprir a Doutrina Monroe, segundo a qual “a América é para os americanos”. O texto também aponta que a América Latina é área de interesse estratégico para Washington, algo reforçado pelo aumento das operações no Caribe contra embarcações suspeitas de tráfico de drogas.
Nesta semana, navios de guerra foram vistos a cerca de 700 km da costa venezuelana. Segundo a BBC (British Broadcasting Corporation), ao menos cinco embarcações participam da operação norte-americana. A tensão aumenta com as declarações de Donald Trump, que indicou possíveis ações terrestres no país e recomendou que cidadãos norte-americanos evitem viajar à Venezuela.
Reivindicação constante - Em julho de 2024, enquanto acontecia a última eleição do país, um grupo de venezuelanos se reuniu na Praça Ary Coelho, em Campo Grande, para reivindicar a "Venezuela Libre" de Maduro. Além da Capital, o movimento aconteceu em outras 40 cidades do Brasil. Uma das reivindicações era poder exercer o direito ao voto fora do país, visto que somente era possível votar no consulado da Venezuela em Brasília.
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