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Capital

Visita de "Natal" na Máxima tem fila, sem direito à comida e veto a grávidas

Por conta da pandemia do novo coronavírus, esposas dos presos precisaram seguir uma série de regras para poderem entrar na unidade

Bruna Marques | 27/12/2020 12:54
Visita de "Natal" na Máxima tem fila, sem direito à comida e veto a grávidas
Na fila, esposas respeitam o distanciamento social e esperam para entrar na visita (Foto: Paulo Francis)

O domingo começou movimentado na entrada do EPJFC (Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho), mais conhecido como Máxima.  Desde que as visitas foram retomadas, no dia 14 de novembro, hoje (27), foi a segunda vez que os presos puderam ver novamente seus familiares.

Por conta da pandemia do novo coronavírus, parentes dos presos, a maioria expressiva mulheres, precisaram seguir regras para poder entrar na unidade prisional e uma delas é não levar comida para eles.

Bruna Oliveira, 32 anos, é vendedora e chegou 6 da manhã na porta do presídio, no Jardim Noroeste para visitar o marido que está preso há dois anos por roubo. Quase 15 dias sem poder vê-lo, ela conta o desejo era poder chegar com uma ceia de Natal especial para ele.

Eles deveriam ter liberado trazer comida pelo menos hoje, nem que seja só um arroz. Eu queria ter trazido uma coisa diferente para ele poder ceiar", lamenta Bruna Oliveira.

A vendedora diz sentir muita saudade do esposo. Afirma que "o coração fica pequeno" quando vai embora.

"Sinto muita falta dele, fico preocupada, quero saber se ele está bem, aqui fora ficamos sem notícias, só sei dele quando venho aqui, antes da pandemia todo domingo estava aqui. O remédio do preso é a visita, ficamos nove meses sem ver eles e agora a gente não pode nada", reclama.

Quem também madrugou para visitar o marido, por volta das 5h40, foi a dona de casa Kelly Daiane, 25 anos. Juntos há mais de 10 anos, ela diz que o marido está preso há 11 anos por tráfico.  Juntos, têm dois filhos, o mais velho tem 5 anos e o caçula de um.

Sem poder levar comida e muito menos as crianças para o marido ver, ela se queixa da desigualdade nas restrições, em relação ao presídio onde ficam policiais militares envolvidos em crimes, localizado na mesma rua.

"Nós não podemos trazer nossos filhos, não podemos trazer comida enquanto os policiais que estão preso aqui em situações até piores que as dos nosso maridos recebem visita de gestante, de idosos e comida sai e entra a hora que eles querem", afirma Kelly Daiane.

A administração das unidades é distinta. A Máxima é gerenciada pela Agepen (Agência de Administração do Sistema Penitenciário). O presídio dedicado aos policiais fica a cargo da PM (Polícia Militar).

De acordo com a mulher, os encontros com o marido preso são sempre marcado por emoção e saudade. " A família é muito importante para eles nessa situação que estão, é por mim e pelos nossos filhos que ele aguenta firme. Queria ter trazido uma coisa diferente e gostosa para ele comer hoje, mas não pode", comenta.

Visita de "Natal" na Máxima tem fila, sem direito à comida e veto a grávidas
A autônoma Mariane Maidana de Oliveira aguardando para visitar o marido e o irmão (Foto: Paulo Francis)

A autônoma Mariane Maidana de Oliveira, 41 anos, há 6 anos visita o irmão e o marido,  ambos presos juntos pelo crime de tráfico de drogas. Casada há 15 anos, o casal teve uma filha.

Mariane chegou no local faltando 15 minutos para as 6h. Apesar das restrições que precisam ser seguidas, ela está feliz em poder revê-los.

"A volta das visitas está sendo ótima, eles precisam ver a gente e nós precisamos ver eles, saber como eles estão. É importante para eles e para mim, eu nunca tive solidão na minha vida e agora estou começando a ter, não tenho amigos, minha família é de fora, somos só eu e minha filha", expõe.

Ela conta que o prato preferido dos presos é carne e que se pudesse ela teria levado uma quantia grande para que seu esposo e seu irmão pudessem dividir com os colegas.

"A comida daqui não tem tempero, é ruim, acho desumano. Eu ia trazer uma tupperware bem grande com muita carne para eles comerem e ainda sobrar para dividirem com os outros rapazes, eles deveriam ter liberado pelo menos hoje a entrada de uma comida diferente", finaliza Mariane Maidana de Oliveira.

Visita de "Natal" na Máxima tem fila, sem direito à comida e veto a grávidas
Costureira Priscila Batista ao lado da mulher que foi barrada por estar grávida (Foto Paulo Francis)

Foi barrada - No momento em que a reportagem estava no local, uma mulher que não quis dar entrevista disse que não pode visitar o marido porque está grávida de 4 meses. Ela se recusou a passar pelo raio-x e informou aos agentes sua situação.

Gerência - A costureira Priscila Batista, 27 anos é quem organiza e ajuda a família dos presos. Moradora do Tiradentes, hoje em dia ela não visita mais ninguém na cadeia, mas se destaca como 'supervisora' das 'cunhadas'.

"Eu visitei meu ex-marido por quatro anos, separei no começo da pandemia, mas como eu tenho uma coletividade com as cunhadas fiquei responsável em organizar elas aqui", explica.

A costureira sabe de cor as regras e gosta do cargo que ocupa. "Não está entrando nada, não pode entrar criança, mulher grávida, idosos, pessoas que são grupo de risco, a visita é das oito até uma da tarde. Está sendo de quinze em quinze dias, os presos que não recebem visita ficam fechados na cela o dia todo. As meninas estão todas de máscara e não pode mais trazer comida", esclarece Priscila Batista.


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