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Cidades

De longe, sírios que vieram para MS acompanham nova ofensiva ao país

"Acordei quase oito horas depois, vi um monte de gente morta, inclusive minha mãe”, diz um dos que fugiu para Campo Grande

Aline dos Santos e Mirian Machado | 14/04/2018 11:23
"A Síria é muito pequena, com pouco trabalho e salário muito baixo", afirma Wasin, que mora em Campo Grande há dois anos. (Foto: Paulo Francis)
"A Síria é muito pequena, com pouco trabalho e salário muito baixo", afirma Wasin, que mora em Campo Grande há dois anos. (Foto: Paulo Francis)

De Campo Grande, Wasin Aldoloy acompanha a guerra na Síria, sua terra natal, deflagrada ontem (dia 13) numa ofensiva militar que reúne Estado Unidos, Reino Unido e a França. “Na verdade, estamos acostumados. A guerra é uma coisa normal, já são sete anos de guerra. Todas as famílias perdeu alguém na guerra. Uma história muito triste”, afirma Wasin, que há dois anos mora em Mato Grosso do Sul.

Há quatro anos, ele perdeu um irmão em bombardeio. A Síria é marcada por uma guerra civil e milhões de refugiados pelo mundo. “Não sei porquê tudo isso acontece na Síria. Todo mundo querendo guerra, a América, a Rússia, a Turquia, a França. A Síria é muito pequena, com pouco trabalho e salário muito baixo”, diz.

Wasin conta que sua família mora a 100 quilômetros de Damasco, capital da Síria e um dos alvos do ataque. “Apesar de ser perto, não tem guerra”, afirma. Se o conflito se acirrar, ele conta que tentará trazer a família, mas, sabe que a missão é quase impossível, diante dos custos e burocracia da viagem. Lá moram seus pais, um irmão e cinco irmãs, que tem suas respectivas famílias.

Para trazer a namorada, demorou um ano e três meses, com gasto de 800 dólares. O esforço de Wasin, que montou um restaurante com comida arábe, para trazer a companheira foi notícia do Lado B.

Guerra viva – Os horrores do conflito na Síria tem cheiro, lágrimas e imagens para Abukhaled, 33 anos, que pediu para não ter o nome completo divulgado na reportagem. Ele mora em Campo Grande há três anos e conta que sempre preferiu não comentar a tragédia que viveu.

“Senti um cheiro estranho, escutei pessoas gritando que era arma química, peguei o carro para fugir. Mas desmaiei e bati o carro. Acordei quase oito horas depois, vi um monte de gente morta, inclusive minha mãe”, relata. Na ocasião, em 2013, sete familiares morreram.

“Para você ter noção, os carros brancos ficaram amarelos, mesmo depois de quatro lavagens. O ataque foi às 2 horas da madrugada. Tive um amigo que levou muita gente para o hospital e depois morreu”, relata.

Abukhaled conta que foi salvo com a ajuda de um sobrinho de 14 anos, que morreu depois quando saía da escola, na queda de um míssil. Com tantas tragédias, ele diz que está bem em Campo Grande e encontrou serviço logo que chegou. A família, que morava em Zamalka, se espalhou por Líbano e Turquia.

Amigo de Abukhaled, o libanês Armando, 57 anos, afirma que acompanha o conflito pela televisão. “Quando fiquei sabendo que os Estados Unidos iam atacar, cheguei a ficar feliz. Mas, hoje de manhã, vi como foi e não vão acabar com o regime, esse é o problema. O Basharal-Assad é mais servidor dos americanos do que do próprio povo”, afirma, citando o presidente da Síria.

Conforme o banco de dados da PF (Polícia Federal), até fevereiro deste ano eram 156 sírios em Mato Grosso do Sul.

Ataque – A ofensiva em conjunto foi resposta a suposto ataque químico contra a cidade de Duma, no dia 7 de abril. A Síria nega o uso de armas químicas, que são proibidas por convenções da ONU (Organização das Nações Unidas).

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