Atropelamento matou cacique que lutava por políticas públicas e demarcação
De acordo com dados do Ministério da Saúde, de 2000 a 2023, 1.993 indígenas morreram em acidentes de trânsito
A morte do cacique Samuel Velasques, de 46 anos, atropelado na zona rural de Coronel Sapucaia, mobilizou lideranças indígenas, comunicadores e movimentos sociais. Para quem conhecia a trajetória do Guarani e Kaiowá, o sentimento é de indignação diante de mais uma perda causada pela violência no trânsito e pelo abandono histórico dos povos originários.
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O cacique Samuel Velasques, de 46 anos, líder Guarani e Kaiowá, morreu atropelado na zona rural de Coronel Sapucaia, provocando comoção entre lideranças indígenas e movimentos sociais. Reconhecido por sua atuação em Brasília e pelo trabalho junto à juventude, Samuel lutava por territórios, água, saúde e políticas públicas. A tragédia evidencia um problema recorrente: segundo o Ministério da Saúde, 1.993 indígenas morreram em acidentes de trânsito entre 2000 e 2023, superando as mortes por doenças infecciosas ou parasitárias no mesmo período. O caso relembra outras perdas similares, como a de Damiana Cavanha, em Dourados, que perdeu nove familiares em circunstâncias semelhantes.
Nas redes sociais, a notícia repercutiu com homenagens e alertas sobre o perigo constante enfrentado por lideranças. “Ele foi uma grande liderança. Lutou bravamente pelos territórios. Estava recém-eleito pela comunidade e atuava em Brasília. Lutava por água, saúde, políticas públicas, e era parte do movimento Aty Guasu”, lembrou o ativista Jânio Kaiowá, que segue nesta terça-feira (29) rumo ao velório, em Coronel Sapucaia.
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Jânio também destacou o papel de Samuel junto aos jovens. “Apesar de ser uma comunidade de fronteira, ele lutava para amenizar os conflitos locais. Incentivava os estudos e sempre esteve presente nas causas da juventude", contou ele ao Campo Grande News.
O jornalista indígena Guarani Kaiowá Gilberto Fernandes também se manifestou em nota de pesar. Para ele, a liderança de Samuel deixa um legado que jamais será esquecido. “Tive a honra de caminhar ao lado dele em reuniões importantes, ouvindo suas palavras de sabedoria. Sua memória continuará viva em cada canto da aldeia e no coração de todos que o conheceram", disse.
A tragédia trouxe à tona outras perdas semelhantes. Em 2024, o Campo Grande News relembrou o atropelamento de Damiana Cavanha, em Dourados, que também teve sua luta encerrada de forma violenta. Ela chegou a enterrar nove parentes vítimas do mesmo tipo de acidente, com motoristas que fugiram sem prestar socorro.
"Ela teve que recolher partes do corpo para conseguir enterrá-lo. Isso nos faz questionar se esses atropelamentos são mesmo acidentes ou parte de um projeto de destruição dos povos indígenas”, afirmou o professor Tiago Botelho, que conheceu Damiana e seus familiares.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, levantados pelo portal Metrópoles, 1.993 indígenas morreram em acidentes de trânsito entre 2000 e 2023. O número é maior do que os registros de mortes por doenças infecciosas ou parasitárias no mesmo período.
Em nota, o movimento Aty Guasu lamentou a perda do cacique e se solidarizou com a comunidade de Taquaperi. “Sua memória estará sempre com a gente. Quando um parente ou parenta se vai, dói em todos nós", diz a nota.
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