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Interior

Brasileiro elimina concorrência e se torna novo “capo” da fronteira

Segundo a polícia paraguaia, narcotraficante Sérgio Quintiliano, o Minotauro, ocupou o espaço deixado após a morte de Rafaat

Helio de Freitas, de Dourados | 16/07/2018 14:22
Ficha criminal de Sérgio Quintiliano com nome falso em território paraguaio (Foto: Arquivo)
Ficha criminal de Sérgio Quintiliano com nome falso em território paraguaio (Foto: Arquivo)

A polícia paraguaia não tem mais dúvida: a lacuna deixada com a morte do narcotraficante Jorge Rafaat Toumani, em 2016, foi ocupada por outro bandido brasileiro, Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o Minotauro. Foragido da justiça brasileira, ele usa documento falso em nome de Celso Matos Espíndola para ficar no anonimato no Paraguai.

Fontes ouvidas pelo jornal ABC Color afirmam que Minotauro é o novo “capo” da fronteira seca que tem como principais cidades Pedro Juan Caballero, capital do departamento de Amambay, e Ponta Porã (MS), a 323 km de Campo Grande.

A extradição de outro grande traficante brasileiro, Jarvis Gimenez Pavão, ocorrida em dezembro do ano passado, também ajudou a fortalecer Minotauro na fronteira seca.

Para ocupar o espaço aberto após a execução de Rafaat em junho de 2016 e a extradição de Pavão, Minotauro tem mandado matar os principais concorrentes, o que explica em parte o grande número de mortes nas duas cidades nos últimos meses.

Apesar de não fazer parte da organização criminosa, segundo a polícia do país vizinho, Minotauro conta com o apoio do PCC (Primeiro Comando da Capital) para dominar a fronteira e fazer frente aos outros grupos, como Comando Vermelho.

Outro fato que ajudou Minotauro a se tornar o novo “capo” da fronteira foi a prisão de Elton Leonel Rumich da Silva, o “Galã”, preso no dia 27 de fevereiro deste ano no Rio de Janeiro. Galã é apontado como o mentor da execução de Rafaat.

Na briga pelo poder da droga na Linha Internacional, sobreviveu a um atentado com quatro mortes em uma boate de Pedro Juan Caballero no ano passado e perdeu força ao ser preso na capital fluminense.

Para a polícia paraguaia, Minotauro se apropriou de toda a estrutura criminal que manteve Rafaat como único chefe da máfia por muitos anos.

Com a ajuda da atual mulher, que era próxima de Jorge Rafaat, o novo capo teria comprado os carros blindados que o chefão morto em 2016 usava para se movimentar em Pedro Juan Caballero.

“Minotauro aproveitou a passividade dos organismos de segurança para tomar o controle da região com um exército de sicários que operam sob as ordens de seus principais colaboradores, Marcio Ariel Sánchez Gimenez, 29, conhecido como ‘Aguacate’ e atualmente procurado pela polícia, e o brasileiro Jonas Silva Correa, o ‘Gordo’, também procurado pela justiça”, afirma o ABC Color.

Carro usado por policial civil executado em março, em Ponta Porã (Foto: Ponta Porã Informa)
Carro usado por policial civil executado em março, em Ponta Porã (Foto: Ponta Porã Informa)

Bolívia-Pedro Juan – Ainda de acordo com policiais paraguaios, Minotauro estabeleceu uma nova conexão para trazer pasta-base de cocaína da Bolívia até Pedro Juan Caballero de avião e processar a droga em pequenos laboratórios instalados em pontos diferentes do departamento de Amambay e de Ponta Porã.

Minotauro teria criado até um selo próprio para atestar a qualidade da cocaína que ele manda para o Brasil. Os pacotes de cocaína recebem um selo com a imagem de uma coroa.

A nova rota operada por Minotauro explica o aumento da apreensão de cocaína neste ano em Mato Grosso do Sul. Só a PRF (Polícia Rodoviária Federal) apreendeu 2,2 toneladas de cocaína no primeiro semestre de 2018 – 80% a mais que no mesmo período do ano passado.

Essas apreensões têm, segundo o ABC, provocado grande prejuízo financeiro para Minotauro, que não consegue honrar os pagamentos com os fornecedores bolivianos. Mesmo assim, ele continua se expandindo na fronteira.

Morte de policial - Sérgio Quintiliano Neto é apontado pela imprensa paraguaia como o mandante do assassinato do policial civil Wescley Dias Vasconcelos, 37, ocorrido no dia 6 de março em Ponta Porã.

Wescley foi morto com pelo menos 30 tiros de fuzil calibre 7.62 quando chegava à sua casa em Ponta Porã, acompanhado de uma estagiária da Polícia Civil. Os dois estavam em um carro oficial da polícia, mas descaracterizado. A servidora levou um tiro no braço e sobreviveu.

O investigador da Polícia Civil sul-mato-grossense teria descoberto que Celso Espíndola era na verdade Sérgio Quintiliano Neto. O traficante acreditava que Wescley Vasconcelos tivesse colocado um rastreador no carro da mulher dele, para descobrir o esconderijo do bandido na fronteira e fazer sua prisão. Por isso mandou matá-lo.

Suspeitos do crime foram presos em Ponta Porã, mas até agora, quatro meses depois da morte, a polícia de Mato Grosso do Sul não se pronunciou oficialmente sobre as investigações.

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