Cães são usados para acolher crianças vítimas de violência durante depoimento

Crianças e adolescentes vítimas de crimes como estupro de vulnerável e maus-tratos contam agora com um apoio diferenciado na hora de prestar depoimentos na Justiça: o apoio emocional de cães treinados. A iniciativa faz parte do projeto “Patas que Acolhem”, lançado pela comarca de Anastácio em parceria com o Canil da Polícia Militar de Aquidauana.

Idealizado pelo juiz Luciano Pedro Beladelli, o projeto busca oferecer acolhimento humanizado durante os chamados depoimentos especiais. “Conhecendo o trabalho dos policiais militares e o cuidado com os cães, vimos a possibilidade de trazer essa atuação para dentro do Judiciário, inicialmente com crianças e adolescentes que participam de depoimentos especiais”, explica o magistrado. A intenção é, futuramente, estender o atendimento também a mulheres vítimas de violência doméstica.

A presença dos cães tem o objetivo de reduzir o sofrimento emocional causado pela rememoração do trauma. “A criança interage com o cão, sorri, se sente mais segura. O policial militar acompanha todo o tempo. Depois disso, ela segue para a sala do depoimento”, comenta Beladelli. Os animais ficam com a vítima antes e após a escuta, mas somente quando houver consentimento.

Segundo o juiz, logo nos primeiros atendimentos, com seis crianças, foi possível observar mudanças significativas no comportamento delas. “Elas saíram menos tensas, mais tranquilas. Uma delas chegou a dizer que queria que o depoimento acabasse logo para brincar com o Bart, um dos cães. Isso é muito significativo”, pontua.

O projeto é inédito em Mato Grosso do Sul. “Não há nenhuma outra comarca no Estado que tenha implantado esse tipo de atendimento. No Brasil, há poucos exemplos semelhantes, como no Paraná”, afirma Beladelli.

Cuidado com os animais - Os cães envolvidos na ação recebem cuidados especiais. Trabalham em ambiente climatizado, com tapetes, cortinas e espaço para descanso. Têm pausas regulares para alimentação, hidratação e necessidades fisiológicas, sempre acompanhados pelos policiais do canil.

“Não são brinquedos nem ferramentas. São parceiros vivos, sensíveis, que merecem o mesmo respeito com que acolhem nossas vítimas”, ressalta o juiz.

A ambientação também foi pensada para oferecer acolhimento. “As crianças interagiram muito bem. Algumas sentaram no chão com o cão, outras deitaram sobre os tapetes. Apenas uma ficou mais receosa, mas mesmo assim conseguiu se aproximar. Foi um ambiente bonito de se ver, muito humano”, descreve.

Segundo Beladelli, a proposta é tornar o Fórum de Anastácio um espaço de Justiça, mas também de acolhimento e dignidade.

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