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Interior

Comerciante surtou no domingo e família pediu ajuda para "internar ou prender"

Parentes relatam que Reginaldo não tinha nenhuma doença nem fazia uso de medicação

Paula Maciulevicius Brasil | 24/09/2020 11:59
Reginaldo era conhecido na cidade e teria surtado no domingo. (Foto: Reprodução/Facebook)
Reginaldo era conhecido na cidade e teria surtado no domingo. (Foto: Reprodução/Facebook)

Familiares dizem que pediram ajuda para internar ou prender o comerciante Reginaldo Alves Ramalho, de 46 anos, que acabou morto ontem por um policial civil em Glória de Dourados, cidade distante 265 quilômetros da Capital, depois de tentar invadir a delegacia e quebrar uma porta. Ele teria surtado no domingo (20) e chegado à casa de parentes falando coisas sem sentido e com um olhar parado.

Primo da vítima, o motorista Leodilson da Silva, de 44 anos, contou que foi o primeiro a perceber que Reginaldo não estava bem. "Ele não estava falando coisa com coisa, mas não estava nada agressivo. Ele só dizia que queria ver a filhinha dele e pedindo perdão a Deus pelos pecados".

Reginaldo chegou à casa deste primo por volta das 9h da manhã de domingo com o cachorro, como de costume. "Ficamos com ele o dia todo e ele dizia que estava bem, dormiu sozinho, na segunda conversamos bastante e ele estava de boa", descreve o primo.

Em fotos, Reginaldo aparece sorrindo na rede social. (Foto: Reprodução/Facebook)
Em fotos, Reginaldo aparece sorrindo na rede social. (Foto: Reprodução/Facebook)

Na terça-feira (22), ainda segundo relato da família, Reginaldo começou a piorar, foi quando Leodilson diz que pediu ajuda aos órgãos. Ele conta ter procurado o Conselho Tutelar, a própria Delegacia, o Fórum e o hospital da cidade, onde o comerciante foi atendido.

"O médico deu uma injeção de calmante nele e passou três tipos de remédio", conta o motorista. "A gente pediu para internar ele, para levar ele para algum lugar, conversar com psiquiatra, mas falaram que tinha que esperar o remédio fazer efeito. Que era três dias para ser encaminhado para psiquiatra e que Glória de Dourados não tinha como mandar para algum lugar", completa o primo.

À reportagem, a família enviou fotos da receita médica e dos medicamentos passados: um anti-depressivo, um antipsicótico e um calmante.

De terça para quarta, a família diz que o comerciante dormiu a noite toda e chegou a tomar medicação ontem pela manhã. "Ele estava calmo, fez a barba, tomou um banho. Ainda pensei, Graças a Deus ele está melhorando".

À tarde, os parentes foram chamados depois que Reginaldo entrou em "luta corporal" em uma loja no Centro. "Ele já não estava bem, diz que foi no Centro da cidade, pegou um tênis, calçou e saiu sem pagar e que viu uma menininha na loja que dizia que era filha dele, queria abraçar e chegou a tentar levar a menina à força", relata o primo sobre o que ouviu.

Durante toda a quarta-feira, Reginaldo pedia para ser levado até a cidade de Nova Alvorada do Sul, onde mora a filha. No comércio de onde ele tentou pegar a criança que acreditava ser a menina, Reginaldo brigou e a polícia chegou a ser acionada. "Ele pediu emprestada a viatura para o policial para ir ver a filha, dizia que ele era policial. A cidade toda conhece ele, dizia que não, ele não era, que ele tinha que tomar os remédios", conta o primo.

Imagem mostra porta da Delegacia da Polícia Civil. (Foto: Radar MS)
Imagem mostra porta da Delegacia da Polícia Civil. (Foto: Radar MS)

O comerciante foi levado pela esposa de Leodilson para a casa dele. No local, policiais entraram e o fizeram tomar a medicação. Ele se deitou e a família deixou a residência pensando que ele estivesse dormindo.

"Ela trancou a porta e achou que ele tivesse dormido, aí ligaram para ela dizendo que ele estava na rua dando trabalho de novo. Ela deixou ele na casa do pai dele e foi na delegacia pedir para prenderem ele ou fazerem alguma coisa, porque ele não estava bem e disseram que infelizmente não poderiam fazer nada, que era problema da família", relata o primo.

Quando voltou à casa do pai de Reginaldo, onde havia deixado o comerciante, ele tinha fugido. "Aí já ligaram falando que tinham matado ele. A gente não pode se aproximar por causa da perícia. Ele foi na delegacia sozinho, a gente acha que ele foi pedir para ir até Nova Alvorada do Sul", acredita Leodilson.

Indignados, a família chegou a questionar os policiais de plantão do porquê terem atirado. "O que que ele fez? Quebrar uma porta é motivo de atirar na barriga? Que alternativa é essa? Atirassem na perna. Ele ão é louco, não é bandido, não estava armado. Desde terça a gente estava pedindo ajuda, se tivesse levado ele, internado, prendido", lamentam os familiares.

"A gente pediu para não liberarem ele do hospital, que ele não podia ir embora, que ia fazer cagada, mas só diziam que a família que tinha que cuidar", desabafa o primo.

A família diz que Reginaldo não tomava remédios, nunca tinha apresentado nenhum transtorno e que inclusive não estava mais bebendo, porque tentava emagrecer. Conhecido na cidade como "Reginaldo dos móveis usados", o comerciante perdeu a mãe depois de uma cirurgia, há sete anos, e sofreu bastante com a perda do irmão, em um acidente de caminhão, em 2010.

Os parentes também dizem que a relação com a ex-mulher era "boa e tranquila" e que ele estava sem ver a filha há cerca de dois meses, porque na última visita, a criança não estava passando bem.

O caso não chegou a ir para a Corregedoria da Polícia Civil, quem vai investigar é a própria delegacia onde Reginaldo foi morto. O Campo Grande News tentou contato com a delegacia que informou que se posicionaria por nota. Até o fechamento desta matéria, a Polícia Civil ainda não havia divulgado o posicionamento oficial.

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