Dois meses após prisão, quadrilha é ré por lavagem de 37 milhões
Esquema consistia no recebimento recursos de diversos locais do país, saques e posteriores depósitos em casas de câmbio bolivianas

Dois meses depois de ser presa pela Polícia Federal, quadrilha do Maranhão que atuava em Mato Grosso do Sul por Corumbá, na fronteira com a Bolívia, foi denunciada e agora é ré pelo crime de lavagem de dinheiro.
Cláudio Cardoso, Cristaini Cardoso, Fernanda Alexandre, Oldack Alexandre e Rosymeire Alexandre também passam a responder por associação criminosa e evasão de divisas.
O caso veio à tona em 17 de junho, quando a PF passou a cumprir mandados de busca, apreensão e prisão tanto na cidade sul-mato-grossense quanto em Imperatriz (MA) depois da descoberta de operações ilícitas que movimentaram pelo menos R$ 37 milhões entre 2016 e 2020.
No dia da operação da PF, denominada Hipócrates, cogitou-se que a movimentação financeira poderia ser de R$ 90 milhões. Na ocasião, foi dado tal nome à ação porque as movimentações realizadas tinham a justificativa de serem para pagamento de mensalidades e manutenção de alunos brasileiros em cursos de Medicina na Bolívia. Hipócrates é considerado o pai dessa Ciência.
De acordo com o MPF/MS (Ministério Público Federal) que ofereceu a denúncia acatada pela 3ª Vara Criminal Federal do Estado, o esquema consistia no recebimento, pelos denunciados, de centenas de transferências bancárias de diversos locais do país.
Em alguns casos, tais recursos eram remetidos por familiares ou responsáveis por estudantes brasileiros que cursam medicina na Bolívia, para a manutenção dos alunos no país vizinho.
Mas em outros casos, os valores eram remetidos por terceiros que precisavam enviar dinheiro ao exterior de forma oculta, sobretudo por sua origem ilícita. Os valores eram sacados de forma fracionada, transportados por via terrestre para a Bolívia e lá depositados em contas bancárias registradas naquele país.
Conforme a investigação apurou o casal casal Cláudio e Cristaini Cardoso era responsável por sacar o dinheiro em moeda brasileira e se dirigiam então a casas de câmbio na Bolívia, onde depositavam os valores, nunca superiores a R$ 10 mil, já que até este valor é permitida a saída sem necessidade de declaração.
Em posse deles estavam 30 cartões bancários em nome deles e de terceiros, os quais utilizavam em diversas agências bancárias (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Santander, Sicredi) nos municípios de Corumbá e Ladário. Os depósitos eram feitos em casas de câmbio na cidade boliviana de Puerto Quijarro.
No período de 1º de janeiro de 2016 a 31 de dezembro de 2018, somente Cláudio Cardoso realizou 5.907 operações a crédito. “Tais transações são de uma enorme diversidade de valores e depositantes e fracionadas. Nesse período, as movimentações totalizaram mais de R$ 20 milhões e são completamente incompatíveis com a renda declarada por Cláudio, de R$ 4.500,00 por mês em 2016 e 2017”, revela nota do MPF.
Além disso, o casal Cardoso promovia semanalmente evasão de aproximadamente R$ 50 mil, num verdadeiro trabalho de “formiguinha”, de modo que pouco a pouco, todos os dias, metódica e sistematicamente, eram remetidos valores ao exterior.
Eles também realizavam depósitos no Banco Western Union, no valor de R$5 mil.
Demais envolvidos - Outra estrutura familiar fazia parte do grupo criminoso. Oldack Alexandre, sua mãe Rosymeire Alexandre e sua irmã Fernanda Alexandre se associaram ao casal Cardoso na lavagem e evasão de recursos do país.
Fernanda se apresentava como estudante de medicina na Bolívia. Mesmo assim, apenas no período de 1º de março de 2018 a 8 de junho de 2018, ela movimentou R$7,2 milhões.
Já Oldack movimentou, entre 1º de setembro de 2018 e 11 de março de 2019, R$ 10,4 milhões, valor incompatível com a renda mensal declarada de R$ 4.370,75.