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Interior

Foco de incêndio na Bolívia, próximo à fronteira, coloca o Pantanal em alerta

Mesmo sem chuvas há dois meses, bioma concentra mais água do que em anos anteriores

Por Silvio de Andrade, de Corumbá | 31/07/2025 06:41
Foco de incêndio na Bolívia, próximo à fronteira, coloca o Pantanal em alerta
Imagem do fogo na Bolívia transmitida pelo sistema de monitoramento do IHP. Foto; Divulgação

Enquanto o Rio Paraguai dá sinais de vazão na régua de Ladário - ponto referencial para medir a dinâmica hídrica da bacia -, um foco de queimada na Bolívia detectado na terça-feira à noite, próximo à fronteira com Corumbá, na Serra do Amolar, colocou em alerta as autoridades, órgãos de combate aos incêndios no Pantanal e organizações não governamentais.

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Alerta de incêndio na fronteira da Bolívia com o Brasil ameaça o Pantanal. Um foco de queimada de cinco quilômetros foi detectado na Serra do Amolar, próximo a Corumbá (MS), na terça-feira. Apesar da redução das chamas, o episódio acende o alerta para o início da temporada de incêndios na região, severamente afetada no ano passado. A área alagada entre a Lagoa Mandioré e a região da floresta pode ter contribuído para a diminuição do fogo. O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) notificou o Prevfogo (Ibama) e instituições bolivianas. O alto volume de água na planície pantaneira neste ano pode inibir a propagação do fogo, mas a seca já se acentua na Nhecolândia. A construção de pistas de pouso para aviões de combate a incêndios, anunciada pelo governo estadual, ainda aguarda licenças ambientais da prefeitura de Corumbá.

A linha do fogo, numa extensão de cinco quilômetros, foi registrada pelo sistema Pantera, uma plataforma de monitoramento instalada pela ONG Instituto Homem Pantaneiro (IHP), que identifica sinais de fumaça e opera com o uso de inteligência artificial, cobrindo toda a região do Amolar. Estimou-se que o foco estava a cerca de 15 quilômetros da fronteira.

Embora novas imagens da antena tenham apresentado uma redução das chamas até o final do dia de ontem, 30, o registro é um indicativo de que o período de queimadas está se aproximando na região, onde o fogo foi intenso no ano passado, devastando milhares de hectares em áreas de conservação ambiental e propriedades privadas, em Corumbá.

Foco de incêndio na Bolívia, próximo à fronteira, coloca o Pantanal em alerta
Mapa da localização do foco, próximo à fronteira e à morraria do Amolar. Foto: Reprodução

Mais água, menos fogo - O IHP divulgou que uma das possibilidades que motivou a redução desse fogo do lado boliviano seria a barreira de uma área alagada, que fica entre a Lagoa Mandioré e a região de floresta que estava sendo atingida. Como medida de prevenção, a Ong, que tem sede em Corumbá, comunicou o fato ao Prevfogo (Ibama) e instituições bolivianas.

Este ano, a Serra do Amolar, uma das regiões mais belas e preservadas do bioma, distante 200 km ao Norte da Capital do Pantanal, deverá ser menos impactada com as queimadas. O aumento do volume de água na planície, em relação aos anos anteriores, com formação de extensas áreas inundadas, deverá ser uma barreira de proteção à propagação do fogo.

“Eu sigo otimista, acho que ainda tem muita água, mesmo com a vazão, e, lógico, fatores climáticos”, analisa Ângelo Rabelo, presidente do IHP. “Alta temperatura e baixa umidade podem contribuir, mas quero crer que, pelo encharcamento de muitas áreas, certamente, se houver focos de queimadas, eles serão muito localizados e pontuais.”

Foco de incêndio na Bolívia, próximo à fronteira, coloca o Pantanal em alerta
Rio Paraguai atingiu cota máxima em Corumbá e Ladário, mas inferior a 2023. Foto: Silvio de Andrade

Combate aéreo - Os pantaneiros do entorno da serra também têm a mesma avaliação, apontando como diferencial em relação aos anos anteriores o fato de ainda haver muita água acumulada, apesar de os rios estarem baixando. “Vai depender muito das ventanias, vento sul, frio, seca e vento norte forte trazendo bruma seca”, aponta Armando Lacerda, do Porto São Pedro.

Na régua de Ladário, depois de atingir 3,31m e se manter 17 dias estacionado em 3,30m – um fato raro na medição fluviométrica centenária da bacia –, o Rio Paraguai entrou em vazão e nesta quinta-feira registrou 3,29m. A Nhecolândia, região de influência dessa régua, pegou menos chuvas do que a parte alta (Amolar) e a seca já se acentua, com riscos iminentes à ignição espontânea ou criminosa.

“Com a chegada desse frio e vento, a vazão será mais rápida, situação que preocupa”, informa Luciano Leite, ex-presidente do Sindicato Rural Corumbá.

O que também deixa os pantaneiros apreensivos é a não construção das pistas asfaltadas para tornar mais eficiente o combate aéreo ao fogo. O Governo do Estado anunciou, em fevereiro, a implantação de bases na Nhecolândia e no Amolar, com abastecimento de água e combustível para os aviões Air Tractor. Porém, a prefeitura de Corumbá ainda não liberou as licenças ambientais.