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Interior

Fósseis em Ladário podem explicar a vida na Terra, diz pesquisador da USP

Paulo Nonato de Souza | 03/04/2017 16:57
O trabalho dos pesquisadores no paredão de pedra do Porto de Ladário já dura cerca de um mês (Foto: Prefeitura de Ladário/Divulgação)
O trabalho dos pesquisadores no paredão de pedra do Porto de Ladário já dura cerca de um mês (Foto: Prefeitura de Ladário/Divulgação)

Ladário, município pantaneiro a 420 km de Campo Grande, uma mina de ouro da paleontologia, que pode desvendar os mistérios sobre as primeiras formas de vida na terra. É o que imagina o geólogo e geofísico Ricardo Ivan Ferreira da Trindade, professor da USP (Universidade São Paulo), com as novas descobertas de organismos multicelulares dos gêneros Corumbella e Cloudina, que habitaram a região há cerca de 550 milhões de anos.

São fósseis do que provavelmente foram os primeiros seres vivos com esqueleto que surgiram no planeta. Além dos fósseis, em Ladário os pesquisadores descobriram cinzas vulcânicas, sinalizando que a planície pantaneira já teve vulcões. A pesquisa revelou que o município é um dos poucos pontos do Brasil que tem essas ocorrências de cinzas vulcânicas.

Nesta segunda-feira, 03, a Prefeitura de Ladário divulgou nota informando que uma equipe de pesquisadores, liderada pelo professor Trindade, está conduzindo os trabalhos de escavações no paredão de pedra do Porto de Ladário.

Segundo a nota, em pouco mais de um mês os trabalhos dos pesquisadores da USP na região já permitiram várias descobertas de relevância para a paleontologia. A equipe é formada por geólogos, geofísicos, paleontólogos, químicos e biólogos brasileiros, franceses, alemães, Americanos, ingleses e chineses.

Pesquisadores acreditam que as descobertas em Ladário e Corumbá podem ajudar a desvendar os mistérios do surgimento da vida na terra (Foto: Prefeitura/Divulgação)
Pesquisadores acreditam que as descobertas em Ladário e Corumbá podem ajudar a desvendar os mistérios do surgimento da vida na terra (Foto: Prefeitura/Divulgação)

“Ainda estamos no início das pesquisas com a instalação de furos de sondagem para coletar material. A intenção é detalhar quais as condições da terra quando esses animais viviam por aqui, e temos muito trabalho pela frente”, disse o professor Ricardo Trindade.

Esta não é a primeira vez que a região chama a atenção da paleontologia. Em 1982, uma equipe liderada pelo geólogo alemão Detlef Walde, fez descobertas de fósseis da mesma espécie em Corumbá, município distante apenas 6 km de Ladário.

O Campo Grande News tentou ouvir o professor Ricardo Trindade sobre o andamento das pesquisas, e a informação foi de que ele estava em viagem de retorno para São Paulo. A nota da prefeitura traz um parecer do pesquisador sobre a importância das descobertas.

“Pelos fósseis sabemos que as primeiras formas de vida na Terra eram pequenas e simples bactérias, os seres unicelulares, mas a partir de um certo momento da história surgem os seres pluricelulares, que depois vão dar origem a toda a fauna e flora complexa que conhecemos, inclusive a nós, os seres humanos. Quando e por que este salto evolutivo aconteceu? Não sabemos, e há poucos lugares no mundo onde podemos procurar a resposta. Um deles é aqui, em Ladário e Corumbá”, afirma.

Seres pluricelulares - Em nota publicada no site oficial da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), entidade financiadora das pesquisas em Ladário e Corumbá, o paleontólogo Thomas Fairchild, do IGc (Instituto de Geociências), da USP, diz que os primeiros seres vivos, as bactérias, tinham apenas uma célula, uma espécie de bolsa minúscula contendo material genético e proteínas, e pelos 3 bilhões de anos seguintes pouca coisa mudou.

Alguns seres unicelulares passaram a viver em colônias, em que cada grupo de células executava funções diferentes, mas, juntas, não formavam um organismo.

Só entre 580 milhões e 560 milhões de anos atrás é que começaram a aparecer os primeiros organismos multicelulares, de corpo gelatinoso organizado em tecidos e formas incomuns, e foi nessa época que apareceram os primeiros seres vivos capazes de se deslocar sobre os sedimentos no fundo dos mares. Até então eles viviam fixos e fabricavam o próprio alimento usando a luz solar e os nutrientes disponíveis no ambiente. “Antes do surgimento do esqueleto, a vida era paz e amor”, brinca.

Fósseis de Corumbella, descoberta de 1982 na região da Cacimba da Saúde, em Corumbá, pela equipe de pesquisadores do professor Detlef Walde (Foto: Arquivo)
Fósseis de Corumbella, descoberta de 1982 na região da Cacimba da Saúde, em Corumbá, pela equipe de pesquisadores do professor Detlef Walde (Foto: Arquivo)
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