Funai atribui morte de indígena em MS a pistoleiros e pede investigação rigorosa
Indígena Guarani-Kaiowá, identificado como Vicente Fernandes, foi morto com um tiro na nuca em Iguatemi
O governo federal atribuiu a morte do indígena Guarani-Kaiowá Vicente Fernandes, 36 anos, assassinado com um tiro na nuca na madrugada deste domingo (16), em Iguatemi, cidade a 412 km de Campo Grande, a ataques cometidos por “pistoleiros”. Em nota conjunta, o MPI (Ministério dos Povos Indígenas) e a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) afirmaram que acionaram órgãos de segurança pública e acompanham o caso.
RESUMO
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O indígena guarani-kaiowá Vicente Fernandes foi assassinado com um tiro na nuca na madrugada de domingo em Iguatemi, Mato Grosso do Sul. O Ministério dos Povos Indígenas e a Funai atribuíram o crime a pistoleiros e acionaram órgãos de segurança pública para investigação. O assassinato ocorreu durante uma retomada de terras na comunidade Pyelito Kue, região marcada por conflitos fundiários. A área reivindicada pelos guarani-kaiowá possui 41 mil hectares, mas as famílias ocupam apenas 90 hectares. Outras quatro pessoas ficaram feridas no ataque.
“O MPI manifesta profundo pesar pela morte do indígena Guarani-Kaiowá na comunidade de Pyelito Kue, município de Iguatemi, após ataques de pistoleiros, em contexto de recente retomada realizada nos dias anteriores”, diz trecho da nota publicada na tarde de hoje (16).
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Segundo o comunicado, equipes do DEMED (Departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos Fundiários Indígenas), em conjunto com a Funai, atuam na região e monitoram as ações federais. O Ministério reforçou a necessidade de investigação rigorosa e de ações conjuntas para combater grupos armados que atuam no sul do Estado.
O governo cita ainda a criação, em 3 de novembro, de um GTT (Grupo de Trabalho Técnico) formado pelo MPI, MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) e MGI (Ministério da Gestão), que discute medidas para mediar conflitos fundiários envolvendo povos indígenas no sul de Mato Grosso do Sul. O grupo realiza reuniões semanais e produz estudos sobre áreas públicas e privadas.
“As retomadas dos indígenas Guarani-Kaiowá na região se intensificaram nos últimos meses com o objetivo de frear a pulverização de agrotóxicos, que vem causando adoecimento e gerando insegurança hídrica e alimentar”, afirma o MPI.
O Ministério também relacionou o assassinato ao cenário de perseguição sofrida na região. “É inaceitável que indígenas continuem perdendo suas vidas por defender seus territórios”, destaca o texto. O MPI encerra a nota prestando solidariedade à família e à comunidade Guarani-Kaiowá.
Sob investigação – A Polícia Militar confirmou o óbito, mas informou que a ocorrência foi atendida pela Força Nacional. Até o momento, não foram divulgados detalhes sobre as circunstâncias do ataque. Há relatos de outras quatro pessoas feridas.
Pelas redes sociais, a Aty Guasu, principal organização política dos povos Guarani e Kaiowá, denunciou que o assassinato ocorreu durante a retomada da comunidade Pyelito Kue, na área da Fazenda Cachoeira. “A retomada sofre ataques desde a semana passada e é desesperador para os indígenas neste momento”, declarou a entidade.
Em um vídeo gravado por uma mulher indígena que não foi identificada, é possível ouvir sons de tiros ao fundo. Enquanto isso, ela tenta se abrigar em casa e se comunicar com outra pessoa. “A gente está pedindo socorro desde 4h”, diz no vídeo publicado pela Aty Guasu.
A região é marcada por disputas fundiárias há anos. Em junho deste ano, a Funai atualizou a composição do Grupo de Trabalho responsável por estudos complementares de identificação e delimitação dos territórios Iguatemipeguá II e III, que abrangem quatro municípios da região sul.
Em 2013, a Funai aprovou o relatório de identificação da Terra Indígena Iguatemipeguá I, que inclui os tekoha Mbarakay e Pyelito Kuê. A área reivindicada pelos Guarani-Kaiowá possui 41 mil hectares, enquanto as famílias vivem atualmente em apenas 90 hectares. À época, cerca de 1,8 mil indígenas foram contabilizados pelo governo federal.
Apesar da identificação oficial, o processo não avançou, mantendo a tensão entre indígenas e produtores rurais. A situação se agravou em novembro de 2023, quando os Guarani-Kaiowá ocuparam parte da área e documentaristas que acompanhavam a retomada foram agredidos por homens apontados como seguranças dos fazendeiros.
A reportagem entrou em contato com a PF (Polícia Federal) de Mato Grosso do Sul para obter mais informações sobre o caso, mas não houve retorno até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto.
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