ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 19º

Interior

Idosos "explorados" por primeira dama viviam em Casa Lar precária

Mariana Rodrigues, da Redação, e Viviane Oliveira, enviada especial a Jaraguari | 17/07/2015 13:51
A edicula, chamada de Casa Lar existe há mais 15 anos e sempre funcionou abrigando de 1 a 3 idosos. (Fernando Antunes)
A edicula, chamada de Casa Lar existe há mais 15 anos e sempre funcionou abrigando de 1 a 3 idosos. (Fernando Antunes)

Os três idosos de 77, 88 e 86 anos atendidos pela prefeitura de Jaraguari, distante 44 km de Campo Grande, viviam em uma casa precária e ficavam a maior parte do tempo sozinhos à noite.

No entanto, durante o dia, segundo servidores, que não quiseram se identificar com medo de sofrer represálias, no local trabalhavam cinco funcionárias, sendo uma da área de limpeza, outra de alimentação, a coordenadora do asilo e duas auxiliar de enfermagem. Porém, as profissionais são lotadas no posto de saúde, que fica ao lado da casa. 

A edicula, chamada de Casa Lar existe há mais 15 anos e sempre funcionou abrigando de um a três idosos. Além da falta de funcionários, outro fato que chama a atenção, é a precariedade da edícula de cinco peças, composta por dois quartos, sala, cozinha e banheiro.

Um comerciante de 56 anos, que não quis que seu nome fosse divulgado, disse a que o local não serve para ser um asilo. "Não tem acessibilidade, algumas janelas estão quebradas, o terreno é inclinado e a casa é muito humilde", contou.

Ivo Miranda, 50 anos, proprietário de um comércio na rua Francisco Siqueira, mesma rua onde está localizado o asilo, disse que a situação é uma vergonha para uma cidade tão pequena. Ele conta que nunca ficou sabendo que os idosos sofriam maus tratos, nem a maneira que eles são tratados lá dentro. "Tenho consciência de que ali não é lugar para asilo e não pelo tamanho, mas sim pelas condições do local".

Envolvimento - Uma das envolvidas no caso, a funcionária pública Salete Terezinha Belchior, 52 anos, que ficava com o cartão do idoso de 77 anos, o seo Jordão, disse que não sabia da gravidade em ficar com o cartão do idoso.

"Não sabia que poderia virar caso de polícia, senão teria feito uma procuração. Eu fiz isso tudo porque ele me pediu, eu não sabia que o fato de ficar com o cartão de outra pessoa virava caso de polícia", afirmou.

Salete, disse ainda que do total do valor que o idoso recebia, sobrava pouco mais de R$ 400, devido aos cinco empréstimos, que segundo ela, o idoso tinha. Esse dinheiro que restava, ela usava para comprar coisas que o próprio idoso pedia. "Comprava coisas como frutas, verduras e roupas", disse.

A servidora se explica que só ficou com o cartão do idoso para ajudar, pois ele tinha dificuldades em andar, tinha sofrido um AVC e segundo ela, possui um câncer de próstata, na qual precisa se deslocar para a Capital para tratamento. "Por isso fiquei com o cartão dele", afirmou.

Mas, os vizinhos dos idosos, disseram que o seo Jordão realmente anda com dificuldades devido ao AVC, mas que ele se locomove , ou seja, poderia sacar o benefício. Já o outro idoso, o de 86 anos, é boliviano, não tem documentos e por esse motivo não recebe aposentadoria.

Segundo o delegado do caso, Antenor Batista da Silva Júnior, as duas contas dos dois idosos estavam zeradas. Porém, a funcionária pública desmente, dizendo que a conta de seo Jordão não estava zerada. "Eu sacava conforme ele ia precisando", diz.

Denúncias - O caso estava sendo investigado, após denuncias de que os três idosos estariam sofrendo maus-tratos, ficavam sozinhos e sem um mínimo de higiene e cuidado. Com as investigações, a policia descobriu que a primeira dama Cláudia Batista de Oliveira ficou durante 2 anos e 4 meses com o cartão do idoso de 88 anos. No total, ela sacou R$ 24 mil. A servidora pública Salete Terezinha Belchior se apropriou há quatro meses do cartão do idoso de 77 anos.

Elas foram presas ontem (16) e soltas no mesmo dia após pagamento de fiança. Em depoimento, as duas alegaram que os idosos não têm família na cidade e não tinham condições de andar, por isso que o dinheiro era sacado por elas.

A primeira dama e a servidora vão responder pelos crimes de apropriação indébita de benefício de idoso e retenção de cartão magnético. Cláudia por ser responsável pela secretaria de Assistência Social, responde por maus-tratos. Cláudia pagou fiança de R$ 6.304 e foi solta. A servidora pagou R$ 788 e também foi liberada.

Secretaria de Assistência Social de Jaraguari está envolvida em escândalo (Foto: Fernando Antunes)
Secretaria de Assistência Social de Jaraguari está envolvida em escândalo (Foto: Fernando Antunes)
Nos siga no Google Notícias