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Mensagens interceptadas complicam braço-direito e ex-secretário de Terenos

Operação Spotless aponta Tiago Lopes e Isaac Bisneto como executores do esquema comandando pelo prefeito

Por Ângela Kempfer | 10/09/2025 12:55
Mensagens interceptadas complicam braço-direito e ex-secretário de Terenos
Policial com documentos apreendidos durante operação em Terenos (Foto: Henrique Kawaminami)

A decisão judicial que autorizou buscas e prisões na Operação Spotless revela o papel estratégico de dois servidores de confiança do prefeito de Terenos, Henrique Wancura Budke, apontado como chefe do esquema de fraudes em licitações. Segundo a denúncia, o chefe de gabinete Tiago Lopes de Oliveira e o então secretário municipal de Obras Isaac Cardoso Bisneto atuavam como elos diretos entre o prefeito e os empresários beneficiados.

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A Operação Spotless revelou o envolvimento direto do chefe de gabinete Tiago Lopes de Oliveira e do ex-secretário de Obras Isaac Cardoso Bisneto em esquema de fraudes em licitações na Prefeitura de Terenos. As investigações apontam que ambos atuavam como intermediários entre o prefeito Henrique Wancura Budke e empresários beneficiados.Mensagens interceptadas mostram que Tiago articulava politicamente as negociações, enquanto Isaac manipulava editais e planilhas orçamentárias. O caso da reforma da Escola Rosa Idalina Braga Barboza, vencida pela Angico Construtora por R$ 1,12 milhão, evidencia o esquema que resultou em pagamento de propinas ao prefeito.

De acordo com a decisão, Tiago e Isaac funcionavam como braços operacionais do prefeito Henrique Budke. Enquanto o chefe de gabinete cuidava da articulação política, reunindo empresários e combinando valores, o então secretário de Obras garantia que o esquema fosse executado na prática, com a publicação de editais direcionados, medições adulteradas e liberação de recursos.

O articulador político

As investigações descrevem Tiago como o intermediário central nas negociações ilícitas. Ele teria participado de reuniões antecipadas, antes mesmo da abertura oficial de licitações, para definir quais empresas venceriam os certames.

Em conversas de WhatsApp, Tiago aparece repassando informações sobre valores e condições de editais diretamente aos empresários. Foi ele quem aproximou Sandro José Bortoloto, dono da Angico Construtora, da prefeitura, para preparar documentos da obra da Escola Rosa Idalina Braga Barboza, antes mesmo da publicação do edital da Tomada de Preços nº 002/2021, aberta em 7 de dezembro e julgada em 23 do mesmo mês. O contrato foi fechado por R$ 1,12 milhão, e desse processo teriam saído R$ 60 mil em propinas pagas ao prefeito.

O chefe de gabinete também teria participado de encontros presenciais com empresários e com o próprio prefeito, registrando alinhamentos prévios sobre propostas. Na denúncia, Tiago é descrito como o elo político e administrativo que traduzia as ordens de Henrique para os empresários e, ao mesmo tempo, repassava as demandas do grupo ao chefe do Executivo.

O executor técnico

Já Isaac Cardoso Bisneto, que na época ocupava a Secretaria de Obras e hoje é ex-secretário, aparece como o responsável por dar aparência de legalidade ao esquema. Segundo a investigação, ele manipulava editais e planilhas orçamentárias, participava de reuniões técnicas com engenheiros contratados pelos empresários e liberava medições fraudulentas.

O caso da Escola Isabel de Campos Widal Rodrigues, vencido pela Base Construtora na Carta Convite nº 001/2022, é um dos exemplos. O contrato foi fechado em R$ 315,8 mil, e uma medição foi inflada em mais de R$ 22,5 mil sem justificativa, abrindo margem para pagamento de propina. A investigação mostra que Isaac recebeu valores em dinheiro como contrapartida, além de liberar recursos fora da ordem cronológica.

Isaac já não ocupa mais cargo na administração municipal. Em 2024, ele foi preso em outra operação contra fraudes em Terenos e afastado da função. Posteriormente, foi solto por decisão judicial, mas seu nome segue no centro das denúncias que apontam irregularidades na gestão de obras públicas.

Mensagens interceptadas

As mensagens extraídas pela investigação da Operação Spotless mostram em detalhes como foi articulado o processo licitatório da reforma da Escola Rosa Idalina Braga Barboza. No centro das conversas aparece o empresário Sandro José Bortoloto, dono da Angico Construtora, apontado pelo Gaeco como um dos principais operadores do esquema de fraude em obras públicas do município.

Antes mesmo da publicação do edital da Tomada de Preços de 2021, Sandro já trocava informações diretamente com Tiago.

Em uma das mensagens, Sandro enviou a foto de uma reunião dentro da prefeitura para o chefe de gabinete. O registro foi repassado ao prefeito, que respondeu de imediato:
“Estou chegando para participar da reunião”. Dias depois, ao discutir o orçamento da obra, Sandro sugeriu: “A obra pode ser uns R$ 2.000.000,00”. Dois dias mais tarde, Tiago retornou, já alinhado com Henrique: “A licitação vai sair em torno de R$ 1.000.000,00”.

As conversas também mostram que o então secretário de Obras. Isaac tinha papel direto na montagem dos documentos técnicos. Em um dos diálogos, Sandro pede a Tiago para informar o prefeito: “Fala pro chefe que já terminamos a nossa parte. Agora é com o Isaac”.

Pouco antes da abertura oficial da licitação, Isaac enviou mensagem diretamente a Sandro, reforçando que a ordem era do prefeito: “Prefeito mandou publicar ainda no recesso. Preciso de tudo até dia 06/12”.

Sandro José Bortoloto aparece em vários trechos da investigação como peça central do grupo. Além de intermediar as tratativas com o gabinete do prefeito e a Secretaria de Obras, sua empresa, a Angico Construtora, venceu a licitação da Escola Rosa Idalina, avaliada em mais de R$ 1,12 milhão, e é citada como responsável por repasses de propina que teriam beneficiado diretamente o prefeito Henrique Budke.