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PCC tomou conta da cadeia de combustíveis e lava dinheiro por meio de fintechs

Esquema bilionário foi alvo da Operação Carbono Oculto, que cumpriu oito mandados em duas cidades de MS

Por Helio de Freitas, de Dourados | 28/08/2025 15:44
PCC tomou conta da cadeia de combustíveis e lava dinheiro por meio de fintechs
Agente da Receita sobre reservatório de combustíveis durante operação nesta quinta-feira (Foto: Divulgação)

O PCC (Primeiro Comando da Capital) tomou conta de importante cadeia de combustíveis, incluindo produção, distribuição, adulteração e venda ao consumidor final.

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PCC domina cadeia de combustíveis e lava dinheiro via fintechs. A Receita Federal revelou que o Primeiro Comando da Capital controla a produção, distribuição, adulteração e venda de combustíveis. A informação foi divulgada durante a Operação Carbono Oculto, que cumpriu mandados em nove estados. A facção usa fintechs e fundos de investimento para lavar o dinheiro obtido ilicitamente. A Receita afirma que a lavagem de dinheiro ocorre por meio de empresas de tecnologia financeira e fundos de investimento localizados em São Paulo. O esquema também envolve a blindagem de capitais por meio de investimentos imobiliários. A Operação Carbono Oculto, considerada a maior ação contra o crime organizado no Brasil, investiga a movimentação de mais de R$ 50 bilhões. A Receita defende maior fiscalização das fintechs e atribui o crescimento da atuação da facção a um "vácuo regulatório".

A afirmação foi feita pela superintendente da Receita Federal em São Paulo, Marcia Meng, durante entrevista coletiva na sede do Ministério Público paulista, nesta quinta-feira (28), para falar sobre a Operação Carbono Oculto, deflagrada em Mato Grosso do Sul, São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Mato Grosso, Goiás, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Dos 350 alvos dos mandados judiciais, oito são pessoas jurídicas instaladas em MS – uma em Dourados e sete em Iguatemi, na fronteira com o Paraguai. O Campo Grande News questionou a Receita Federal sobre essas empresas, mas o órgão federal informou que, por sigilo fiscal, não pode revelar ou confirmar o nome dos alvos.

Para lavar dinheiro das atividades ilícitas, a facção criminosa utiliza fintechs (como são conhecidas as empresas de tecnologia que oferecem serviços financeiros de forma digital) e fundos de investimento operados na Avenida Brigadeiro Faria Lima, o coração financeiro do país, no Centro de São Paulo.

“Tomaram conta de todos os elos da cadeia de combustíveis. A grande diferença nessa ação é a bancarização do crime organizado. Essas fintechs bancarizaram dinheiro do crime. Uma vez dentro do sistema financeiro, dificilmente alguém vai questionar se aquele dinheiro é de origem regular ou irregular. É uma brecha regulatória muito sensível”, afirmou Marcia Meng.

Conforme a auditora, o esquema também fazia a blindagem de capitais através de fundos de investimentos e imobiliários. “Além de ocultar o real beneficiário daquele bem, também fazem o capital render. Os traficantes antigos enterravam dinheiro. Hoje, o crime organizado bancariza esse dinheiro e coloca no mercado de capitais para render."

Também presente na entrevista coletiva, o secretário nacional da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, disse que o afrouxamento da vigilância sobre as fintechs após o bombardeio sobre o Pix, no início deste ano, facilitou a atuação do crime organizado. Ele considerou como “dia histórico” a deflagração da Operação Carbono Oculto.

“É a maior ação do poder público brasileiro contra o pilar financeiro do crime organizado no país. Só nesta operação estamos falando de mais de R$ 50 bilhões movimentados”, afirmou.

Barreirinhas destacou a cooperação entre os órgãos de Estado. Além da Receita Federal, a operação mobilizou a Polícia Federal e representações do Ministério Público e das polícias estaduais. Outras duas operações tendo alvos em comum foram deflagradas hoje pela PF – a Quasar e a Tank, sem mandados em MS.

Ele também defendeu atuação conjunta dos órgãos de fiscalização. “Muitas vezes, os órgãos de Estado investigam as mesmas pessoas, as mesmas operações, as mesmas organizações, mas quando fazem isoladamente, os resultados não são satisfatórios. Quando trabalhamos em conjunto, os resultados aparecem”.

Barreirinhas afirmou que atualmente o crime organizado é altamente financiado pela importação e comércio irregular de combustível, de cigarro convencional e eletrônico e do jogo ilegal. “No cerne de todas as operações aparecem fintechs. Não podemos generalizar, mas muitas delas são instrumentalizadas pelo crime para lavar dinheiro”.

Pix – O secretário nacional da Receita Federal afirmou que o uso dessas empresas financeiras pela máfia ocorre principalmente por um “vácuo regulatório” na fiscalização desse setor e citou a polêmica sobre suposta taxação de operações via Pix, propagada por opositores do governo Lula no início do ano.

“A Receita Federal já sabe disso há algum tempo. No ano passado, após debate com o sistema financeiro, publicamos instrução normativa estendendo às fintechs as mesmas obrigações de transparência e de prestação de informações que todas as instituições financeiras têm há mais de 20 anos. Era para começar a valer em janeiro, mas o que aconteceu todos sabem. A Receita Federal recebeu o maior ataque de sua história, de mentiras e de fake news, dizendo que aquela normativa se tratava de taxação de meios de pagamento”, afirmou.

Barreirinhas continuou: “as fake news foram tão fortes que não conseguimos reverter essas mentiras e tivemos de dar um passo atrás. As operações de hoje mostram quem ganhou com essas mentiras: o crime organizado. As pessoas que espalharam aquelas mentiras ajudaram os criminosos. Temos de voltar a discutir essa regulamentação. Agora sabemos o caminho para atingir o crime organizado, que é afetar seu pilar financeiro.”

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